quarta-feira, 9 de abril de 2025

Empreendedor indígena cria corante têxtil à base de mandioca

O estilista indígena Sioduhi (Imagem: Juliana Fadull)

Cultivada há mais de 4.000 anos, a mandioca é muito mais do que um alimento para o Brasil. A raiz está presente no folclore, na cultura e na nossa história. Pois agora ela também pode estar na sua roupa: o empreendedor indígena Sioduhi Paulino de Lima, da etnia piratapuia, do Alto Rio Negro, criou uma tecnologia que transforma cascas de mandioca em corantes têxteis naturais, com técnicas que não poluem o ambiente e estimulam conhecimentos ancestrais.

O ManioColor é produzido em São Gabriel da Cachoeira (AM) e utiliza resíduos da chamada mandioca brava, que tem alto índice de ácido cianídrico. Ele é extraído pelas mulheres das comunidades locais - lideradas pela mãe de Paulino -  com fogo de lenha em casas de forno tradicionais. "A técnica inclui um processo especial de raspagem da mandioca. Existem três camadas na raiz: a parte do amido e entre as películas. A película do meio é rica em taninos, elemento químico que protege contra fungos, bactérias e que aumenta também o nível de fixação em tecidos. As cores vão depender da variedade da mandioca, algumas puxando mais para o salmão dourado, outras para o rosé", explica.

Paulino conta que saiu de sua comunidade quando ainda era muito jovem. Depois de alguns anos em São Paulo, onde estudou técnicas de modelagem e vestuário, sentiu a necessidade de voltar para a Amazônia. "Lutar pelos direitos indígenas estando distante dos nossos territórios não é a mesma coisa. Só aqui posso sentir as dores reais. Aqui vou para a roça com minha mãe, desenvolvo o trabalho com as mulheres. Quero trazer uma nova perspectiva para a moda e impactar positivamente o local de onde eu venho", diz

Seus primeiros experimentos com a mandioca começaram em 2021. A ideia era usar uma planta que não corria o risco de extinção, aproveitar resíduos, e não causar nenhum impacto natural - além de fomentar as atividades ancestrais das mulheres locais. Todo o processo é circular, ou seja, o material pode voltar à natureza ou às águas sem causar prejuízo ambiental. A primeira coleção de roupas inteiramente tingidas com ManioColor foi lançada em 2022.

O empreendedor, que é formado em administração de empresas, foi premiado na quinta edição do edital Elos da Amazônia - Empreendedorismo Científico Indígena, realizado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e recebeu o aporte de R$ 1 milhão. Ele pretende aumentar seus fornecedores da matéria-prima e vender os pigmentos para empresas, com rastreabilidade de origem.

"A moda é um mundo de negócios. Porém, a perspectiva indígena de negócio é completamente diferente da perspectiva branca ou negra ou de quem está conectado ao mundo urbano. Temos desafios, mas também temos a oportunidade de criarmos negócios singulares, de alto valor agregado. E que possam ser redistribuídos com as comunidades envolvidas neste processo", finaliza.

Uol

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