quinta-feira, 3 de abril de 2025

O FESTIVAL DE VIOLEIROS DO NORDESTE CAMINHA PARA MEIO SÉCULO NA CIDADE PRINCESA

Dadinho e Caboquinho

Criado e realizado em 1975 pela dupla Caboquinho (filho) e Dadinho (pai), o Festival de Violeiros do Nordeste caminha para completar meio século no mês de outubro, com uma trajetória de sucesso, trazendo à cidade os maiores repentistas do país. Graças à dupla, a partir de um programa na Rádio Sociedade de Feira, o gênero, que tinha pouca representatividade na Bahia, ganhou força entre o público e firmou-se com o Festival.

Ultimamente realizado pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) em uma área do campus universitário, às margens da Rodovia Feira/Serrinha, o Festival de Violeiros do Nordeste (FVN) tem uma história rica na divulgação e preservação de uma arte popular intimamente ligada à região Nordeste, na qual a Bahia pouco se sobressai. De fato, a Bahia nunca teve grande tradição no repente, mas Feira de Santana, por conta da maior feira-livre do país (extinta em 1977 com a inauguração do Centro de Abastecimento), registrava a presença de muitos artistas populares, dentre os quais alguns repentistas.

Estrelinha do Norte, Laranjeira, Azulão, entre outros, apareciam esporadicamente no deslumbrante movimento popular da feira-livre, mas não permaneciam por muito tempo. Na década de 1960, atraído por esse cenário, o violeiro serrinhense Dadinho (Manoel Crispim Ramos) chegou à cidade princesa com o filho Caboquinho (José Crispim Ramos), que idealizou e lançou, na Rádio Sociedade de Feira, em 5 de janeiro de 1966, o primeiro programa específico sobre o tema na Bahia, intitulado "Encontro de Violeiros", transmitido às segundas, quartas e sextas-feiras, a partir das 6 horas. Posteriormente, com a mesma temática, a dupla lançou "Nordeste de Ponta a Ponta".

A novidade foi bem absorvida pelo público ouvinte, especialmente porque era grande a migração de famílias oriundas da Paraíba, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe e Alagoas, estados onde o repente e a viola eram celebrados com grandes artistas. Caboquinho e Dadinho traziam ao seu programa grandes cantadores desses estados, promovendo um interessante intercâmbio que culminou na proposta de Caboquinho, que mais tarde se formou em professor e advogado, de realizar um grande evento público com profissionais da viola.

Assim, nos dias 4 e 5 de outubro de 1975, ocorreu o I Festival de Violeiros do Nordeste, no auditório da Biblioteca Municipal Arnold Silva, evento que, portanto, completa 50 anos em outubro. Para quem não acreditava no sucesso, a presença do público tornou o local pequeno, e muitos tiveram que acompanhar de fora do auditório. A dupla de repentistas formada pelos irmãos Pedro Bandeira e Daudete Bandeira, representantes do estado do Ceará, foi a vencedora, recebendo o troféu de campeã e um prêmio estipulado em dinheiro. O apoio direto do prefeito José Falcão da Silva e do titular da Secretaria de Turismo (SETUR), Itaracy Pedra Branca, foi crucial para a realização do evento.

Após vencerem a primeira etapa, que era garantir o sucesso do inédito festival na Bahia, Caboquinho e Dadinho, ou pai e filho, como queiram, não tinham mais como parar. Mesmo com dificuldades financeiras, naturais para a concepção de algo que não fazia parte da cultura regional, mantiveram o festival, que, devido ao crescimento do público e questões como datas, acabou variando de locais.

João Ramos e Bule Bule
Da Biblioteca Municipal, onde nasceu, o festival peregrinou por vários espaços, como o Ginásio de Esportes do Feira Tênis Clube, Teatro Margarida Ribeiro, Ginásio de Esportes do Município, Filarmônica 25 de Março, Rádio Cultura, Euterpe Feirense, Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), Mercado de Arte Popular (MAP) e, por fim, se sediou na UEFS. Durante essas quase cinco décadas, o Festival de Violeiros do Nordeste já trouxe à Cidade Princesa nomes como Zé Vicente da Paraíba, Palmeirinha da Bahia, Antônio Queiroz, João de Almeida e Zé de Lima, de Alagoas; Zé Gonçalves e Santino Luiz, da Paraíba; Ivanildo Vila Nova (três vezes campeão), em dupla com Severino Feitosa, e Raimundo Caetano, Leandro Tranquilino, Vem-Vem da Paraíba, João Furiba e Clodomiro Paz, os irmãos Pedro e Daudete Bandeira, entre outras exposições de duplas do Nordeste.


Além de Caboquinho e Dadinho (já falecidos) — duas vezes campeões do certame —, vários outros repentistas baianos participaram, como João Ramos (irmão de Caboquinho), duas vezes campeão com Bule-Bule, Ribeirinho (duas vezes campeão com David Ferreira), Nadinho, Valdir Teles, Zé Cardoso, Zé Maracujá, Neve Branca, Gilberto Alves, entre outros. Ultimamente, com o falecimento de Caboquinho e Dadinho e problemas de saúde de João Ramos, Feira de Santana, embora ainda realize o festival, não tem sido representada na disputa.

Por Zadir Marques Porto

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