Tudo começou quando a senhora Maria Edite presenteou o filho Carlos Bacelar com um telescópio e ele mostrou ao entusiasmado vizinho Augusto César Orrico, que propôs: “Vamos criar um observatório”. E o Antares viria mesmo a existir com a adesão de amigos e o apoio dos governos municipal e estadual, chegando a se constituir no segundo observatório astronômico mais importante do país.
Desde 28 de agosto de 1992, integrado à Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), o Observatório Astronômico Antares cumpriu, antes disso, durante bom tempo — desde o seu surgimento em 27 de setembro de 1971 — um papel relevante no campo da astronomia nacional, chegando a ocupar posição de destaque entre os similares então existentes, sendo até considerado o segundo do país, apenas superado pelo Observatório Nacional do Rio de Janeiro.
A história do Antares tem muito a ver com a amizade entre os jovens Carlos Bacelar e Augusto César Pereira Orrico. ‘Carlinhos Bacelar’, aos seus 15 ou 16 anos, dominava a eletrônica e, devido à proximidade das casas das duas famílias, na Rua Barão de Cotegipe, centro da cidade, estavam sempre em contato. De volta de uma viagem a São Paulo, a senhora Maria Edite Bacelar presenteou o filho com um telescópio, que logo foi mostrado a Augusto César Orrico. Este, entusiasmado após observar o céu, sugeriu: “Vamos criar um observatório?”. “Com que dinheiro?”, questionou Carlinhos Bacelar.
O professor de Inglês César Orrico, pai de Augusto, ao ouvir o diálogo dos dois jovens, demonstrou interesse e conversou sobre o assunto com o deputado Áureo de Oliveira Filho. Este, levando a sério a ideia, apresentou-a ao governador Antônio Carlos Magalhães, que recebeu em seu gabinete: Augusto César Orrico, José Olympio Mascarenhas, Egberto Costa, Nailson Chaves, Zadir Porto e o professor Leopoldo, garantindo apoio ao projeto. Outras visitas foram feitas ao governador, que aderiu de forma simpática ao projeto dos dois jovens feirenses.
O fotógrafo mineiro Antônio Ferreira Magalhães integrou-se positivamente ao grupo, e uma área de terra oferecida pela Prefeitura de Feira, no bairro Jardim Cruzeiro — devido à topografia, ponto mais elevado da cidade — foi capinada e limpa pelo fotógrafo com auxílio dos filhos adolescentes Antônio e Jorge Magalhães. Eles também isolaram a área, construindo cerca de estacas e arame farpado. Em outra visita da diretoria da já constituída Fundação Observatório Astronômico Antares, o governador Antônio Carlos Magalhães confirmou o apoio financeiro para a edificação do observatório.
Augusto César Orrico e Antônio Magalhães fizeram curso de fotografia astronômica no Observatório de Juiz de Fora e tomaram conhecimento de um telescópio refrator de médio porte que seria ideal para o início dos trabalhos. Mais uma vez, o governador ACM foi consultado e, sem demora, ele conversou com o banqueiro Ângelo Calmon de Sá, que concedeu os recursos necessários para aquisição do equipamento. Instalado o telescópio, o trabalho tornou-se gradativo, já com o apoio de José Ângelo Leite Pinto, Gemicrê Nascimento Silva, Ulisses Lemes Bezerra e Antônio Carlos de Graças Souza. Às noites, eles trabalhavam de forma voluntária.
O Anuário Astronômico Antares, o boletim mensal e a divulgação de fenômenos astronômicos ocasionais foram atividades mantidas por bom tempo por essa equipe. “O Céu da Bahia”, uma carta celeste lançada pelo Antares, ao lado de outros trabalhos com a Tábua de Maré, Fases da Lua e Previsões Astronômicas, solidificaram o empenho dos jovens astrônomos. O médico e engenheiro eletrônico Drance Amorim, que havia trabalhado na NASA, construiu um relógio de quartzo com precisão de atraso de um segundo a cada 750 anos.
A diretoria do Antares conseguiu junto à Receita Federal um fotoheliógrafo (telescópio para observações solares) e, em seguida, foi contemplada com um Telescópio Laser. Dentre as efemérides principais registradas pelo Antares, inclui-se a passagem do cometa Halley, em 1986. Por conta de dificuldades de ordem financeira, o observatório chegou a ser fechado e foi oferecido ao município, que alegou não ter condições de mantê-lo. Então, em agosto de 1992, após 21 anos de fundação, o observatório foi incorporado à Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
Por Zadir Marques Porto
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