sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Péssimo sinal


Confesso que eu mesmo já havia me esquecido do episódio. Temos mesmo uma memória curta. E foi com surpresa que tomei conhecimento do falecimento, em um presídio de Brasília, do escritor Yves Hublet, aquele que, em nome do povo brasileiro, deu umas boas bengaladas no então deputado petista, José Dirceu, apontado como mentor do vergonhoso esquema “mensalão”.
A partir daquele episódio, a vida de Yves virou um inferno. A tal ponto que ele teve que se mudar para a Bélgica. Retornando ao Brasil para resolver assuntos de seu interesse, foi preso, algemado e levado para um presídio em Brasília, onde passou cinco anos, adoeceu e morreu.
Qualquer cidadão digno e indignado com a desfaçatez, a corrupção e o mau caratismo reinante na política brasileira, teria, ou deveria, ter feito o que Yves fez. Este cenário de corrupção e roubalheira que assola o País, só se instalou porque somos cordeiros, mansos, que aceitamos passivamente este estado de coisas. É bom lembrar que até Cristo uma hora se aborreceu e deu uma boas chicotadas num bando de ladrões.
Como é possível que uma nação tão grande seja dominada por um grupelho comandada por um ignorante e semi analfabeto, cujo único dom é saber enganar e mentir de forma convincente? Porque seus cidadãos estão todos comprometidos. A grande maioria quer, sim, uma sinecura. Quer ganhar sem receber, quer trocar o voto por uma benesse qualquer, até mesmo um subemprego, um saco de cimento, uma caixa de medicamento ou até mesmo um prato de comida, aí representado na Bolsa Esmola.
Os brasileiros perderam a vergonha, a dignidade, o amor próprio. Já não se importam se são enganados ou roubados diariamente por governantes que roubam e deixam roubar. Não se importam nem se envergonham em eleger notórios corruptos e ladrões, desde que não lhes incomodem e ainda possam lhes dar uma “ajudazinha” ou um “jeitinho” para encobrir seus pequenos deslizes.
O que Yves fez, nós, brasileiros natos, deveríamos ter feito. Sua corajosa atitude lhe custou a vida. Mas, esteja onde estiver, estará com grata satisfação do dever cumprido (isso só vale para quem crê em Deus). E mesmo quem não crê, com certeza deveria preferir chorar com a verdade do que sorrir com as mentiras. Senão, como encarar nossos filhos para lhes explicar que somos culpados pelo Brasil que estamos deixando para eles?
As pessoas da minha geração já passaram por tudo isso, e o medo que temos é de que tudo aconteça outra vez. Lutamos contra uma ditadura de direita, solicitada por nós, para conter os desmandos dos governantes civis, e agora estamos prestes a sofrer com a dureza de uma ditadura de esquerda, muito mais violenta e cruel que aquela de direita.
Que a morte de Yves não seja em vão! Pelo contrário, nos encha de coragem e resolução para lutarmos pelo que é nosso, pelo nosso bem.

P.S. Alguém aí sabe me dizer o que aconteceu com o corrupto, mau caráter e ladrão, José Dirceu? Está preso, por acaso?

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