domingo, 15 de janeiro de 2012

Literatura de cordel se adapta, vira música e até disputa pela internet



Notícias de destaque se transformam em poesia na mão dos cordelistas. O programa Globo Rural deste domingo (15) reprisou uma das melhores matérias do ano passado, tendo o Cordel como tema.

Na história do Nordeste tem vaqueiro corajoso. Lampião, rei do cangaço. Padre Cícero milagreiro. O mundo está cheio de personagens, de boas histórias. Cabe ao poeta saber contá-las em diferentes formas de arte.
“Eram 33 mineiros,
presos na mina chilena.
Foram todos resgatados
Com sua saúde plena”.

A notícia de maior destaque em 2010 também virou cordel. Versejando desde os 16 anos, Manoel Monteiro defende o que chama de novo cordel. !Na sala de aula, cordel pode fazer leitores. Eis aqui uma releitura do Pinóquio, ou O Preço da Mentira”, disse Manoel. “Uma editora se interessou e publicou o mesmo texto com uma nova roupagem. Eu acho excelente porque a importância do cordel não está na capa, não está no papel. Está no texto. Agora a vestimenta gráfica tem que ser do século 21”.

Tem também cordel na música, nas canções de Luiz Gonzaga, na voz do baiano Raul Seixas e até no nome de um artista de Pernambuco. O nome dele é Fernando Manoel Correa. Talvez pelo nome não seja reconhecido, mas a música dele é bastante famosa. Ele é autor de muitas músicas de sucesso e o nome artístico dele é Nando Cordel. “Meu pai era repentista. Cordelista, mas muito mais repentista. Quando ele chegava em casa começava a mandar os versos para gente. Aí eu comecei a tocar violão e queria ser compositor. Essa foi a fonte”, explicou Nando. “Normalmente eu escrevo as minhas canções todas em cima de cordel”.

Nas ladeiras de Olinda, bem ao lado de uma lojinha expõe folhetos, mais um poeta pernambucano: Alceu Valença. “Eu nasci em uma cidade chamada São Bento do Una, que é no interior meridional pernambucano. Essa cultura está lá, presente, viva."

E o cordel foi parar na internet.
Uma das modalidades do cordel, inspirada no repente, é a peleja. Peleja quer dizer briga, combate, luta. Ela pode ser escrita por um único poeta, que cria um duelo entre dois personagens reais ou imaginários, ou por dois poetas diferentes, cada um fazendo uma estrofe dessa briga. A peleja moderna é via internet.

Em Recife, José Honório, poeta e presidente da União dos Cordelistas de Pernambuco. Em São Paulo, o poeta baiano Marco Haurélio. Como arma, o teclado do computador. “Nosso verso é divulgado em todo canto e lugar. Agora aguente a peleja, pois ela vai esquentar. Cante lá de Pernambuco, que hoje vamos brigar”, cantou Marco pelo computador. “Herança dos menestréis com os europeus, o cordel graças a Deus tem seguidores fieis. O Nordeste finca os pés, volta de novo a crescer. E agora vai florescer, pois a net lhe abriga. O cordel é moda antiga que não vai envelhecer”, respondeu José.

No cordel, aconteceu, tem que virar poesia. É assim que esta arte se mantém viva e atual. O final de 2010 foi marcado pela invasão do Morro do Alemão pela polícia, no Rio de Janeiro e os versos da poetisa Dalinha Catunda já estão prontos:
“É polícia pra todo lado
É bandido e caveirão
Com essa violência toda
Quem sofre é a população
Que fica presa em casa
Com medo da situação”
Para o nordestino, a rima é um vício. E a poesia, uma arma contra as mazelas da vida. Nascido em Recife, filho de serralheiro e dona de casa, Thiago Martins é um destes viciados em verso. Sempre com uma rima engatilhada, armado com poesia.

Já dizia Patativa do Assaré: “para cada canto que eu olho vejo um verso se bolindo”. Versos que podem estar no Morro do Alemão ou no sertão nordestino.

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