
De
tanta violência, de tantos casos aberrantes, estamos desenvolvendo
técnicas de sobrevivência, que vai de segurança armada, grades, cercas
elétricas, carros blindados, horários de circulação, até a simples
oração entre os que têm menos recursos. E, assim, perdemos o sono,
enquanto os filhos não chegam, à noite; evitamos ruas escuras, andamos
correndo e vigilantes, evitamos lugares vazios, saímos de qualquer
lugar para entrar no carro com a agilidade de um atleta e o olhar
desconfiado de um espião, tentamos evitar rotinas e muitos, com mais
recursos, sequer desfrutam do patrimônio que possuem. Vivemos em estado
de alerta constante, de sobressalto, pela permanente ameaça.
Ano
após ano, os números vão se agravando, mas além da dureza dos dados, e
dos milhares que choram seus mortos- mais de 55% são jovens-, o que
impressiona, é a passividade com que somos abatidos e a indiferença
com que somos tratados por nossas autoridades. Nós não reagimos, não
cobramos dos agentes do poder nenhuma ação, nenhuma proposta. Dia após
dia, debatemos com ferocidade questões como banheiro trans, como se isso
fosse mais letal do que as balas que nos atingem. Fingimos não serem os
governantes, os responsáveis, e eles fingem não ter nada com isso.
Estamos
diante de uma emergência nacional, com o poder das facções
arregimentando milhares de presos, expandindo-se, nos levando a uma taxa
de morte por cem mil habitantes que é 30 vezes maior do que na Europa; a
um país que não produz drogas, mas que é um dos maiores exportadores. E
ninguém, absolutamente ninguém- nem Executivo, Legislativo, ou
Judiciário- propõem nenhuma ação.
Não
é possível termos um Congresso calado e omisso, um Judiciário que se
dedica ao ativismo ideológico e comportamental, e relativiza seu papel
nesse tema, e um Executivo ocupado em lotear o poder e as verbas
enquanto nós, que pagamos elevados impostos vivemos o inferno da
insegurança.
Não
é possível que não se proponha um plano de segurança nacional, que não
se crie forças-tarefas coletivas das instituições, que o dinheiro ilegal
circule com uma liberdade que a Receita Federal não permite a quem
esquece um recibo de dentista, que não se intervenha no sistema policial
e no carcerário para mudar sua lógica, que nosso sistema de fronteira
seja uma peneira sem lei, que não se busque reunir especialistas,
contratar consultorias, de quem teve experiências exitosas. Desse ponto
de vista, as Unidades Pacificadoras e a intervenção federal, no Rio,
foram, ao menos, uma tentativa. É preciso analisar o que deu certo e
errado, nessas experiências e criar um projeto de ação nacional, com as
múltiplas intervenções necessárias. A única opção que não é possível é
manter o amofinamento e a omissão atual, enquanto as pessoas vão sendo
mortas e seu patrimônio dilapidado.
Nós
temos que gritar, nós temos de exigir, nós não podemos continuar a
sermos mortos sob a cumplicidade imoral, antiética, e incompetente, de
nossos Três Poderes. Vamos gritar juntos. (T. Feirense)
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