domingo, 29 de dezembro de 2019

José Olympio: um homem à frente de seu tempo

No dia 1º de dezembro, Feira de Santana perdeu José Olympio da Silva Mascarenhas. José Olympio era o primeiro filho do casal Anacleto e Aurelina Mascarenhas, também pais de Ada e Antonio da Silva Mascarenhas, mais conhecido como “Tonheiro”. Anacleto era comerciante de tecidos e abriu uma pequena loja para os filhos. Ali nascia a Visão Moda Masculina. Essa loja funcionou por 20 anos, com filiais no Shopping Iguatemi, em Salvador. Após esse período, a sociedade foi desfeita. Seu irmão foi morar em Salvador e José Olympio continuou em Feira de Santana, onde exerceu diversas atividades.
O jornalista Cristóvam Aguiar, irmão por adoção (dona Aurelina o adotou com dois meses de idade) e afilhado de José Olympio e Ada, conta que o padrinho exerceu diversas atividades empresariais. Foi dono da imobiliária Quintas do Sol e da primeira agência de turismo da cidade.
E fundou a primeira rádio FM de Feira de Santana, juntamente com Carlos Falcão, mais conhecido como Carlinhos Falcão. Na época, a rádio se chamava MF (Mascarenhas e Falcão). Quando passou a ser apenas sua, foi nomeada Princesa FM. “Mais tarde, José Olympio transferiu a rádio para Dílson Barbosa que, por sua vez, passou para os frades capuchinhos”, lembra.
De acordo com Cristóvam Aguiar, José Olympio adquiriu ainda, junto com Carlinhos Falcão e Alfredo Falcão, o antigo Jornal Feira Hoje, que pertencia ao professor e empresário Raimundo Gama e que tinha como editor o saudoso Egberto Costa. “Criaram uma sede, no bairro Muchila, e deram ao jornal uma nova dinâmica, tornando-o diário. Foi ali que comecei minha carreira de jornalista. Foi uma escola para todos os jornalistas dessa época, a exemplo de Edson Borges, Reginaldo Pereira, Maura Sérgia e tantos outros”, relata.
Cristóvam lembra ainda que José Olympio foi diretor de Ação Social do Clube de Campo Cajueiro, chegando, tempos depois, a presidente. “Ele criou o baile Caju de Ouro, que, por muitos anos, antecedeu os festejos da Micareta de Feira de Santana. E trouxe, para cá, grandes atrações do sul do país e até internacionais, principalmente, artistas globais. Também trouxe a ala de uma escola de samba do Rio de Janeiro, para se apresentar no clube”, lembra.
Ainda no Cajueiro, José Olympio fez grandes melhorias na famosa boate, sobretudo no que diz respeito à iluminação, trazendo artefatos modernos, para compor o espaço, inspirado nas discotecas do sul do país, onde costumava passava as férias. “Ele era muito criativo. Tinha ideias maravilhosas, não somente para coisas sérias, mas também para fazer brincadeiras. Quando pequeno, era um sujeito muito fechado, traço que escondia um bonachão, bon vivant e exímio piadista, que pregava peça em todos. André Mascarenhas, seu filho mais velho, herdou isso dele”, compara.
José Olympio Mascarenhas foi um dos fundadores da Câmara de Dirigentes e Lojistas (CDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) de Feira de Santana. Pertencia ao Lions Clube e, também por isso, uma figura muito ativa, na sociedade feirense. Era um homem de muitos amigos, com os quais gostava de fazer brincadeiras, como, por exemplo, escrever, junto com o médico Luciano Vital, uma carta para o amigo Luiz Silvanio, quando este morava fora, em um rolo de papel higiênico.
Ingratidão – Cristóvam Aguiar diz que algumas pessoas acham que a cidade de Feira de Santana foi muito ingrata com José Olympio, por não ter prestado a ele a homenagem merecida. Mas o jornalista enfatiza que não se refere a atos oficiais. “Acho que essas homenagens públicas são sempre demagógicas. E ele sempre foi um homem muito simples, que nunca gostou desse tipo de honraria, como muito bem lembrou seu filho, em um artigo. Quando falávamos com ele sobre esse tipo de homenagem, ele sempre respondia: “boa porra”. Ele era desse jeito, sempre irreverente”, ressalta.
Jornalista e colecionador de memórias de Feira de Santana, Adilson Simas escreveu, em seu blog, que considera que Feira de Santana ficou menor, com  a ida de Zé  do Ó (como ele, carinhosamente, o chamava) para o andar de cima. “Impossível enumerar seus feitos, nessa cidade de todos os seus dias. Ele era um homem de visão, que ficou maluco, alguns diziam, porque abria suas lojas às 9 horas”, recorda.
Simas lembra ainda que José Olympio deixou tantas marcas, em Feira, que sempre parecerá que ele aqui. “No Clube de Campo Cajueiro, o baile Caju de Ouro tinha a sua cara. Também a dispensa do smoking, no réveillon. Poucos vão perceber sua ida e por uma razão muito simples: nos quatro cantos da Feira de Santana, nos diversos setores, haverá sempre a marca de sua presença”, destaca.
Personalidades feirenses falaram sobre José Olympio, sua trajetória e importância para Feira de Santana. Um de seus filhos também deu um emocionante depoimento em homenagem ao pai, que reproduzimos a seguir:
 
ANDRÉ MASCARENHAS (PUBLICITÁRIO E FILHO) – “Por muito tempo, acreditei que José Olympio Mascarenhas era meu pai, só meu pai. O ídolo, o herói, o homem perfeito, que sabia tudo, que nunca errava e me protegeria durante toda a vida. Depois, a vida começou a me mostrar como estava errado. Ele sempre foi muito mais do que isso: foi o pai de todos. Um homem quase perfeito, que ajudava e protegia os que se aproximavam dele. Fez isso durante a vida inteira. E uma coisa ele não se esqueceu de me ensinar: que todos são meus irmãos. Com meu pai, aprendi que, para um homem ser sempre o mesmo, ele precisa mudar todos os dias. E ele mudava. Ou melhor, evoluía. Tento, muitas vezes, seguir seus passos, mas é difícil. Meu pai sempre esteve à frente do seu tempo e, além do mais, sempre foi muito mais jovem do que eu. É quase impossível acompanhar o ritmo incansável e apressado dos mais jovens. Tive, muitas vezes, a oportunidade de seguir seus passos, de longe, é bem verdade, mas, mesmo assim, só consegui avistá-lo bem lá na frente. Ele brilha muito com uma luz diferente, muito intensa, que nunca ofusca, mas contagia. Às vezes, ele finge apagar, só para que os outros brilhem, porque sempre acreditou que todos têm luz própria e ele não se importa com sua própria luz. Por isso, sem sentir, ele sempre atraia muitos holofotes e, às vezes, virava alvo fácil. Mas nunca ligou. Nunca permitiu que ninguém se preocupasse com ele, porque estava sempre andando, sempre apressado, sempre um passo à frente do seu tempo.”
 
COLBERT MARTINS FILHO (PREFEITO) – “José Olympio foi uma personalidade das mais importantes, para a imprensa, para o comércio e muito influente na vida social dessa cidade, em seu tempo. Um cidadão do bem, que alegrava qualquer ambiente em que estivesse, sempre brincalhão e feliz. Nos últimos anos, enfrentou problemas de saúde muito severos e, agora, está descansando, em paz. A cidade, certamente, irá lhe prestar uma justa homenagem, por tudo o que representou.”
 
VALDOMIRO SILVA (SECRETÁRIO MUNICIPAL DE COMUNICAÇÃO) –“Ao iniciar no jornalismo, em Feira de Santana, em 1983, já ouvia falar, na redação, no nome de Zé Olympio. Comentava-se sobre ele como alguém que era da imprensa mesmo, pelo fato de ter sido dono da Princesa FM. Logo tive contato com ele, em entrevistas ou encontros casuais, em eventos, e pude atestar o que se dizia dele: era um homem extremamente agradável, bem humorado, alegre, um verdadeiro alto astral. Foi um entusiasta das coisas boas de Feira. Amou a cidade e sua gente. Deixa um exemplo de como se deve ‘levar’ a vida. Para mim, uma inspiração.”
 
EDSON BORGES (SECRETÁRIO MUNICIPAL DE CULTURA, ESPORTE E LAZER) – “Conheci José Olympio quando fui trabalhar no Jornal Feira Hoje. Ele era um dos sócios do Jornal. E era proprietário de uma rede de lojas de vanguarda, na cidade, chamada Visão. Apesar de meu patrão, ele era uma pessoa muito simples e não tinha soberba de ser um empresário bem sucedido e que vivia bem, financeiramente. José Olympio sempre foi uma pessoa bem humorada, com um papo legal e cheio de piadas e ‘causos’ interessantes. Ele valorizava muito as coisas de Feira de Santana, tanto que o transmissor da sua rádio foi feito por um engenheiro eletrônico feirense, o Drance Amorim. Era um empresário que tinha grande participação em todas as áreas de Feira de Santana. Não somente na empresarial, como na parte de entretenimento também. Por ser uma pessoa muito feliz, José Olympio adorava uma festa e os prazeres da vida. É uma grande perda, para a cidade, por tudo o que ele significou. E é uma perda maior ainda quando pensamos nele como ser humano.”
 
ALFREDO FALCÃO (VICE-PRESIDENTE DA CDL) – “José Olympio era, acima de tudo, um amigo extraordinário, para todos. Somos amigos de infância. Ele era uma pessoa diferenciada, muito boa e muito correta. Ajudou a propiciar o desenvolvimento do comércio de moda e calçados, em nossa cidade. Tem participação em diversas atividades de Feira. Além disso, teve uma participação política, não ativa como candidato, mas sempre apoiando aqueles que eram importantes para Feira. Foi um dos apoiadores do Fluminense de Feira, viajando, inclusive, com o time. Era um grande sujeito. Devemos ter inúmeros feitos seus, pela cidade, que ele jamais disse que fez e que nós não sabemos que fez. Na CDL, ele realizou muita coisa. Participou da aquisição da nossa primeira sede. Quando era presidente, organizou a 1ª Convenção Lojista Estadual. Ele era dinâmico e um amante da vida. Perder José Olympio é perder uma pessoa que exercia a cidadania, algo de muita carência, na cidade. As pessoas não estão se sentindo comprometidas com as coisas de Feira de Santana, parece que a cidade não é delas. Mas ele era um cidadão integral. Ele se sentia responsável por sua cidade.”
 
ROBERTO TOURINHO (VEREADOR) – “Conheci José Olympio ainda muito garoto, por intermédio de meu pai, José Falcão, que tinha uma amizade pessoal com ele. Posteriormente, tornei-me amigo de André Mascarenhas, seu filho. Passei a frequentar a casa de seu Zé e sempre tive, por ele, uma grande admiração, principalmente pela característica de ser uma pessoa alegre e brincalhona, com tiradas irreverentes. Essa era a sua marca pessoal. Acompanhei, ainda, boa parte da sua trajetória de sucesso, como personalidade de Feira de Santana. Ele teve uma participação muito efetiva no desenvolvimento de atividades empresariais da cidade. Foi um pioneiro, em diversas áreas. Ele é alguém que, em sua época, fez muito por nossa cidade e fez bem. Deixou um legado. Deixou sua marca: de caráter, honradez e dignidade.”

Karoliny Dias   -  Tribuna Feirense

NE: Matéria publicada no Jornal Tribuna Feirense impresso ( pode ser encontrado nas bancas de jornais e revistas da cidade) e online.

Um comentário:

Unknown disse...

Minhas sinceras condolências.