O jornalista Cristóvam Aguiar, irmão por adoção (dona Aurelina o adotou
com dois meses de idade) e afilhado de José Olympio e Ada, conta que o
padrinho exerceu diversas atividades empresariais. Foi dono da
imobiliária Quintas do Sol e da primeira agência de turismo da cidade.
E
fundou a primeira rádio FM de Feira de Santana, juntamente com Carlos
Falcão, mais conhecido como Carlinhos Falcão. Na época, a rádio se
chamava MF (Mascarenhas e Falcão). Quando passou a ser apenas sua, foi
nomeada Princesa FM. “Mais tarde, José Olympio transferiu a rádio para
Dílson Barbosa que, por sua vez, passou para os frades capuchinhos”,
lembra.
De acordo com Cristóvam Aguiar, José Olympio adquiriu ainda, junto com
Carlinhos Falcão e Alfredo Falcão, o antigo Jornal Feira Hoje, que
pertencia ao professor e empresário Raimundo Gama e que tinha como
editor o saudoso Egberto Costa. “Criaram uma sede, no bairro Muchila, e
deram ao jornal uma nova dinâmica, tornando-o diário. Foi ali que
comecei minha carreira de jornalista. Foi uma escola para todos os
jornalistas dessa época, a exemplo de Edson Borges, Reginaldo Pereira,
Maura Sérgia e tantos outros”, relata.
Cristóvam lembra ainda que José Olympio foi diretor de Ação Social do
Clube de Campo Cajueiro, chegando, tempos depois, a presidente. “Ele
criou o baile Caju de Ouro, que, por muitos anos, antecedeu os festejos
da Micareta de Feira de Santana. E trouxe, para cá, grandes atrações do
sul do país e até internacionais, principalmente, artistas globais.
Também trouxe a ala de uma escola de samba do Rio de Janeiro, para se
apresentar no clube”, lembra.
Ainda no Cajueiro, José Olympio fez grandes melhorias na famosa boate,
sobretudo no que diz respeito à iluminação, trazendo artefatos modernos,
para compor o espaço, inspirado nas discotecas do sul do país, onde
costumava passava as férias. “Ele era muito criativo. Tinha ideias
maravilhosas, não somente para coisas sérias, mas também para fazer
brincadeiras. Quando pequeno, era um sujeito muito fechado, traço que
escondia um bonachão, bon vivant e exímio piadista, que pregava peça em todos. André Mascarenhas, seu filho mais velho, herdou isso dele”, compara.
José Olympio Mascarenhas foi um dos fundadores da Câmara de Dirigentes e
Lojistas (CDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) de Feira de
Santana. Pertencia ao Lions Clube e, também por isso, uma figura muito
ativa, na sociedade feirense. Era um homem de muitos amigos, com os
quais gostava de fazer brincadeiras, como, por exemplo, escrever, junto
com o médico Luciano Vital, uma carta para o amigo Luiz Silvanio, quando
este morava fora, em um rolo de papel higiênico.
Ingratidão – Cristóvam Aguiar diz que algumas pessoas
acham que a cidade de Feira de Santana foi muito ingrata com José
Olympio, por não ter prestado a ele a homenagem merecida. Mas o
jornalista enfatiza que não se refere a atos oficiais. “Acho que essas
homenagens públicas são sempre demagógicas. E ele sempre foi um homem
muito simples, que nunca gostou desse tipo de honraria, como muito bem
lembrou seu filho, em um artigo. Quando falávamos com ele sobre esse
tipo de homenagem, ele sempre respondia: “boa porra”. Ele era desse
jeito, sempre irreverente”, ressalta.
Jornalista e colecionador de memórias de Feira de Santana, Adilson
Simas escreveu, em seu blog, que considera que Feira de Santana ficou
menor, com a ida de Zé do Ó (como ele, carinhosamente, o chamava) para
o andar de cima. “Impossível enumerar seus feitos, nessa cidade de
todos os seus dias. Ele era um homem de visão, que ficou maluco, alguns
diziam, porque abria suas lojas às 9 horas”, recorda.
Simas lembra ainda que José Olympio deixou tantas marcas, em Feira, que
sempre parecerá que ele aqui. “No Clube de Campo Cajueiro, o baile Caju
de Ouro tinha a sua cara. Também a dispensa do smoking, no réveillon.
Poucos vão perceber sua ida e por uma razão muito simples: nos quatro
cantos da Feira de Santana, nos diversos setores, haverá sempre a marca
de sua presença”, destaca.
Personalidades feirenses falaram sobre José Olympio, sua trajetória e
importância para Feira de Santana. Um de seus filhos também deu um
emocionante depoimento em homenagem ao pai, que reproduzimos a seguir:
ANDRÉ MASCARENHAS (PUBLICITÁRIO E FILHO) – “Por muito
tempo, acreditei que José Olympio Mascarenhas era meu pai, só meu pai. O
ídolo, o herói, o homem perfeito, que sabia tudo, que nunca errava e me
protegeria durante toda a vida. Depois, a vida começou a me mostrar
como estava errado. Ele sempre foi muito mais do que isso: foi o pai de
todos. Um homem quase perfeito, que ajudava e protegia os que se
aproximavam dele. Fez isso durante a vida inteira. E uma coisa ele não
se esqueceu de me ensinar: que todos são meus irmãos. Com meu pai,
aprendi que, para um homem ser sempre o mesmo, ele precisa mudar todos
os dias. E ele mudava. Ou melhor, evoluía. Tento, muitas vezes, seguir
seus passos, mas é difícil. Meu pai sempre esteve à frente do seu tempo
e, além do mais, sempre foi muito mais jovem do que eu. É quase
impossível acompanhar o ritmo incansável e apressado dos mais jovens.
Tive, muitas vezes, a oportunidade de seguir seus passos, de longe, é
bem verdade, mas, mesmo assim, só consegui avistá-lo bem lá na frente.
Ele brilha muito com uma luz diferente, muito intensa, que nunca ofusca,
mas contagia. Às vezes, ele finge apagar, só para que os outros
brilhem, porque sempre acreditou que todos têm luz própria e ele não se
importa com sua própria luz. Por isso, sem sentir, ele sempre atraia
muitos holofotes e, às vezes, virava alvo fácil. Mas nunca ligou. Nunca
permitiu que ninguém se preocupasse com ele, porque estava sempre
andando, sempre apressado, sempre um passo à frente do seu tempo.”
COLBERT MARTINS FILHO (PREFEITO) – “José Olympio foi
uma personalidade das mais importantes, para a imprensa, para o comércio
e muito influente na vida social dessa cidade, em seu tempo. Um cidadão
do bem, que alegrava qualquer ambiente em que estivesse, sempre
brincalhão e feliz. Nos últimos anos, enfrentou problemas de saúde muito
severos e, agora, está descansando, em paz. A cidade, certamente, irá
lhe prestar uma justa homenagem, por tudo o que representou.”
VALDOMIRO SILVA (SECRETÁRIO MUNICIPAL DE COMUNICAÇÃO) –“Ao
iniciar no jornalismo, em Feira de Santana, em 1983, já ouvia falar, na
redação, no nome de Zé Olympio. Comentava-se sobre ele como alguém que
era da imprensa mesmo, pelo fato de ter sido dono da Princesa FM. Logo
tive contato com ele, em entrevistas ou encontros casuais, em eventos, e
pude atestar o que se dizia dele: era um homem extremamente agradável,
bem humorado, alegre, um verdadeiro alto astral. Foi um entusiasta das
coisas boas de Feira. Amou a cidade e sua gente. Deixa um exemplo de
como se deve ‘levar’ a vida. Para mim, uma inspiração.”
EDSON BORGES (SECRETÁRIO MUNICIPAL DE CULTURA, ESPORTE E LAZER) – “Conheci
José Olympio quando fui trabalhar no Jornal Feira Hoje. Ele era um dos
sócios do Jornal. E era proprietário de uma rede de lojas de vanguarda,
na cidade, chamada Visão. Apesar de meu patrão, ele era uma pessoa muito
simples e não tinha soberba de ser um empresário bem sucedido e que
vivia bem, financeiramente. José Olympio sempre foi uma pessoa bem
humorada, com um papo legal e cheio de piadas e ‘causos’ interessantes.
Ele valorizava muito as coisas de Feira de Santana, tanto que o
transmissor da sua rádio foi feito por um engenheiro eletrônico
feirense, o Drance Amorim. Era um empresário que tinha grande
participação em todas as áreas de Feira de Santana. Não somente na
empresarial, como na parte de entretenimento também. Por ser uma pessoa
muito feliz, José Olympio adorava uma festa e os prazeres da vida. É uma
grande perda, para a cidade, por tudo o que ele significou. E é uma
perda maior ainda quando pensamos nele como ser humano.”
ALFREDO FALCÃO (VICE-PRESIDENTE DA CDL) – “José
Olympio era, acima de tudo, um amigo extraordinário, para todos. Somos
amigos de infância. Ele era uma pessoa diferenciada, muito boa e muito
correta. Ajudou a propiciar o desenvolvimento do comércio de moda e
calçados, em nossa cidade. Tem participação em diversas atividades de
Feira. Além disso, teve uma participação política, não ativa como
candidato, mas sempre apoiando aqueles que eram importantes para Feira.
Foi um dos apoiadores do Fluminense de Feira, viajando, inclusive, com o
time. Era um grande sujeito. Devemos ter inúmeros feitos seus, pela
cidade, que ele jamais disse que fez e que nós não sabemos que fez. Na
CDL, ele realizou muita coisa. Participou da aquisição da nossa primeira
sede. Quando era presidente, organizou a 1ª Convenção Lojista Estadual.
Ele era dinâmico e um amante da vida. Perder José Olympio é perder uma
pessoa que exercia a cidadania, algo de muita carência, na cidade. As
pessoas não estão se sentindo comprometidas com as coisas de Feira de
Santana, parece que a cidade não é delas. Mas ele era um cidadão
integral. Ele se sentia responsável por sua cidade.”
ROBERTO TOURINHO (VEREADOR) – “Conheci José Olympio
ainda muito garoto, por intermédio de meu pai, José Falcão, que tinha
uma amizade pessoal com ele. Posteriormente, tornei-me amigo de André
Mascarenhas, seu filho. Passei a frequentar a casa de seu Zé e sempre
tive, por ele, uma grande admiração, principalmente pela característica
de ser uma pessoa alegre e brincalhona, com tiradas irreverentes. Essa
era a sua marca pessoal. Acompanhei, ainda, boa parte da sua trajetória
de sucesso, como personalidade de Feira de Santana. Ele teve uma
participação muito efetiva no desenvolvimento de atividades empresariais
da cidade. Foi um pioneiro, em diversas áreas. Ele é alguém que, em sua
época, fez muito por nossa cidade e fez bem. Deixou um legado. Deixou
sua marca: de caráter, honradez e dignidade.”
Karoliny Dias - Tribuna Feirense
NE: Matéria publicada no Jornal Tribuna Feirense impresso ( pode ser encontrado nas bancas de jornais e revistas da cidade) e online.
Um comentário:
Minhas sinceras condolências.
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