Uma parcela de 54,5%
da população adulta brasileira, ou cerca de 86 milhões de pessoas,
apresenta ao menos um fator de risco para manifestações graves da
covid-19, de acordo com estudo da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp). Entre os adultos que concluíram somente a primeira etapa do
ensino fundamental, que representam na pesquisa a parcela da população
com menor nível socioeconômico, esse índice chega a 80,2%.
Foram considerados fatores risco ter mais de
65 anos, doenças crônicas - cardiovasculares, diabetes, hipertensão e
doença pulmonar obstrutiva crônica -, cânceres diagnosticados há menos
de cinco anos, realização de diálise ou outro tratamento para doença
renal crônica, obesidade, asma moderada ou grave e tabagismo.
Se considerados apenas os brasileiros com
menos de 65 anos, essa proporção ainda é alta e chega a 47%. Entre os
brasileiros com mais de 65 anos, 75,9% apresentaram pelo menos outro
fator de risco para os casos graves da doença. Os pesquisadores usaram
dados de 51.770 participantes da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS)
realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Diante dos resultados, o coordenador da
pesquisa Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina
Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp), avalia que o
isolamento social é a melhor medida para este momento.
“Ainda temos poucas informações da parcela
da população que já foi infectada pelo vírus e, portanto, quando
observamos em um estudo populacional, de amostra representativa da
população brasileira, que mais de 50% dos adultos apresenta pelo menos
um fator de risco para covid-19 - desses que tem sido relatados na
literatura - é bastante preocupante a tentativa de flexibilização, não
nos parece a melhor alternativa para esse momento”, disse.
População mais vulnerável
Entre os adultos que concluíram somente a
primeira etapa do ensino fundamental, a presença dos fatores de risco
para a forma grave da covid-19 foi muito maior do que entre os adultos
com nível superior completo. A parcela de 80,2% dos adultos com a
primeira etapa do ensino fundamental se encaixou no grupo de risco com
pelo menos um fator de risco relacionado com quadros graves da covid-19,
enquanto entre as pessoas com nível superior essa proporção foi de 46%.
“Já conhecemos as desigualdades em saúde no
Brasil, vários estudos têm relatado isso em outras perspectivas e,
dentro da covid-19, temos visto uma discussão muito grande da
dificuldade das medidas de isolamento em pessoas em vulnerabilidade
social alta, morando, por exemplo, em comunidades, com muitas pessoas
por domicílio. Isso já é uma dificuldade para esse grupo e o nosso
estudo mostrou que, ainda por cima, pessoas com baixa escolaridade, ou
menor nível socioeconômico, também tendem a acumular maior proporção da
população no grupo de risco”, disse Rezende.
Outra preocupação do pesquisador é que o
grupo com menor escolaridade e mais pobre tende a ser menos
diagnosticado sobre condições que são fatores de risco para a covid-19
grave. “É possível que esse grupo ainda tenha um menor diagnóstico de
doenças comuns como, por exemplo, diabetes, hipertensão e, portanto,
ficamos bastante preocupado com esse resultado, o que sugere que a
medida de isolamento social, especialmente para esse grupo, é bastante
importante”.
Apesar da possível subnotificação dos
fatores de risco por terem menos acesso a serviços de saúde para
diagnóstico médico, Rezende destacou o trabalho importante realizado
pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no atendimento a essa população.
“Novamente a pandemia vem ressaltando a importância do SUS nesse
contexto. Com o SUS, a atenção primária foi altamente expandida no
Brasil e portanto permite para essas pessoas terem, pelo menos, o mínimo
de cobertura para assistência à saúde. É possível que seja
subnotificado, mas o que vale ressaltar é que, se não fosse o SUS,
certamente essa subnotificação seria maior ainda”.
Os pesquisadores analisaram separadamente os
dados estaduais e observaram que a proporção da população no grupo de
risco é maior no Rio Grande do Sul (58,4%), em São Paulo (58,2%) e no
Rio de Janeiro (55,8%). Já os estados com menor proporção foram Amapá
(45,9%), Roraima (48,6%) e Amazonas (48,7%). Rezende avalia que os
indicadores estaduais podem ser utilizados para orientar gestores
públicos em estratégias de prevenção e controle da doença. (Agência Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário