sábado, 24 de outubro de 2009

Ando meio desligado



Sei que existe gente distraída, desligada mesmo. Tem, por exemplo, um pecuarista numa cidade da região de Feira de Santana, que é o rei da distração. Ele estava indo para a fazenda na sua Rural Willys, levando consigo a mulher, Dona Marinalva. Parou num posto para abastecer o carro e, enquanto isso, sua mulher entrou na loja de conveniências para comprar algumas coisas. Ele pagou ao frentista e partiu, deixando a mulher na loja.
De dentro da loja, o balconista percebeu e disse: “Dona Marinalva, seu Severino parece que foi embora”. Solícito, se ofereceu para levar ela até a fazenda. Pegou outro carro e partiu ao encalço de Severino, alcançando-o poucos quilômetros depois. O rapaz buzinou e tentou chamar a atenção de Severino de todo jeito, sem sucesso. Dona Marinalva ainda botou a cabeça fora da janela e fez acenos com os braços e, nada.
Como já estavam perto da fazenda, o motorista acelerou, ultrapassou Severino e chegou ao destino antes dele. Deixou dona Marinalva e voltou para o posto de combustíveis. Quando Severino chegou à fazenda, encontrou a mulher à porte e foi logo lhe dizendo: “Mas, Marinalva, passou um carro por mim com uma mulher que era a sua cara”.
Tem sujeito tão distraído que na hora de dormir ele põe o gato na geladeira, bota a mulher pra fora e vai dormir com o cachorro. Eu tenho um amigo tão distraído que um dia o encontrei num enterro trajando uma vistosa e alegre camisa florida. Eu mesmo já esqueci Maura num bar. Quando cheguei em casa e minha filha perguntou pela mãe é que eu me dei conta de que tinha largado ela lá.
Mas minha maior distração aconteceu quando eu estava me separando da minha primeira mulher. Ao mesmo tempo eu havia decidido deixar a universidade e passei a trabalhar com repórter no jornal Feira Hoje, lá pelo final do ano de 1979. E lá se vão 30 anos. Eu vivia atordoado, cheio de dilemas. Separação, dois filhos pequenos, profissão nova, desafio, briga com professora da UEFS. A coisa tava preta.
Uma bela tarde eu peguei a pauta na redação do Jornal e fui para a rua levantar as matérias. Fui no carro do Jornal, com o motorista. Depois de percorrer alguns locais, paramos em frente ao Mercado de Arte Popular, onde funcionava a Secretaria Municipal de Turismo. Deixei o motorista esperando e fui entrevistar o secretário.
Mais tarde, já de volta à redação do Jornal, estava eu sentado numa mesa em frente ao chefe de Redação, escrevendo minhas matérias, quando o telefone tocou. O chefe atendeu e me perguntou:
- Cristóvam, cadê o carro do Jornal?
- Sei lá! Deve estar aí na porta.
- Na porta o que seu maluco. O motorista está aqui me perguntando por você. Ele disse que você entrou no Marcado de Arte e sumiu.
Ninguém me pergunte como eu cheguei ao jornal, porque até hoje eu não me lembro.

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