sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Vevé e a assombração


Vevé é gozador por excelência. É do tipo que perde o amigo, mas não perde a piada. Passa a vida bolando meio se sacanear os amigos. Por conta das suas brincadeiras, uma vez quase ele morre. É que tinha um baba, aos sábados à tarde, num campo vizinho ao antigo Cedin, hoje CIS, onde o grupo Hera e seus convidados jogavam.
As regras, embora não escritas, eram rígidas, e quem chegava atrasado ficava pro segundo baba. Quando Vevé se atrasava, queria entrar na marra e sempre terminava em confusão. Não que ele fosse brigar com ninguém, mas fazia a fanfarra, só de farra. Entrava no campo com o carro, chutava a bola pra longe, enfim, mangueava tudo até arrumar um lugar em um dos times.
Um certo dia, como sempre acontecia, ele chegou atrasado. Chegou na beira do campo com um revólver à mostra na cintura, exigindo um lugar no baba. A turma, que já conhecia bem a peça, sabia que ele não ia atirar em ninguém, e ninguém deu bola pra ele (desculpem o trocadilho). Mas acontece que a bola rolou pra perto dele, que a parou com um dos pés, apontou o revólver e disse: “Não vai ter lugar pra mim, não?”
Ninguém acreditou que ele fosse atirar, mas o velhaco tinha trazido uma bola nova pro baba, e já tinha vindo disposto a furar a velha, só que queria, antes, sacanear a turma. Quando lhe disseram que não teria lugar, ele disparou e furou a bola. – “Pronto, não tem mais baba. Se eu não jogo, ninguém joga”. Como disse, na época, o professor Estrela, “não se toma, impunemente, o brinquedo de 22 homens”.
Um dos caras que estavam no baba, furioso com aquilo, saiu calado, foi ao carro e voltou com um punhal escondido nas costas. A salvação de Vevé é que o professor Estrela percebeu a manobra e se aproximou do cara. Quando ele pegou o punhal pra espetar Vevé, o professor o agarrou por trás, prendendo os seus braços, permitindo que o resto da turma pudesse dominá-lo e tomar o punhal.
Vevé ficou em estado de choque e, muito pálido, foi até o carro, pegou a bola nova e disse: “Era só uma brincadeira. Eu trouxe uma bola nova”. O sujeito que tentou matá-lo, é claro, ficou com a cara no chão. O baba recomeçou e ninguém mais comentou o assunto. Mas Vevé não aprendeu a lição e continuou aprontando.
Pouco tempo depois, ele estava acampado numa praia com uma turma de amigos. E entre o grupo havia um novato que, de coração aberto, não se incomodava com as brincadeiras e até participava delas. Contudo, lá pelas tantas, ele cometeu o erro de dizer que não se importava com as brincadeiras, mas que não gostaria que brincassem com ele de “assombração”, porque ele tinha medo. Algo assim como um trauma de infância. Todos concordaram.
Mas alguém chamou Vevé a um canto e disse: “Topa aprontar uma com esse cara?” Ora, aquilo era o mesmo que perguntar se macaco quer banana. Vevé topou na hora. Prepararam uma destas “caveiras” que os meninos fazem com mamão verde, arrumaram um lençol à guisa de “mortalha” e uma máscara horrorosa. Prepararam tudo e esperaram a hora propícia.
Mais tarde, o sujeito estava dormindo em sua barraca, com os pés para fora e a cabeça num travesseiro. Vevé vestiu a “mortalha”, colocou a máscara e, com a caveira de mamão na mão, chegou em frente à barraca onde o cara dormia, cutucou seus pés e falou com uma voz cavernosa: “Acorda... acorda que eu vim te buscar...” quando o cara acordou e deu de cara com aquela “assombração”, deu um grito medonho, meteu a mão debaixo do travesseiro, puxou um revólver e disparou três tiros à queima roupa.
Vevé caiu, gritando: “Tô baleado! Vou morrer, meu Deus! Tô baleado!” O resto da turma acorreu pra perto dele, todo mundo dando risada, inclusive o cara que atirou. Foi um custo convencer Vevé que as balas eram de festim.

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