sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Os brutos também amam



O nome dele era Manoel, mas o apelido era “Medida Provisória”. MP para os íntimos. Dizem que quando era garoto era muito perverso, brigão, gostava de maltratar animais. E sempre tinha uma justificativa para seus atos. Ele também tinha um hábito curioso, que era usar termos que ele ouvia e sair aplicando por aí sem saber exatamente o que estava dizendo.
Veio daí o seu apelido. Foi quando ele espancou um garoto que o xingara. Quando os pais o repreenderam, disseram-lhe que ele devia ter levado o fato ao conhecimento dos pais do garoto, que certamente o iriam repreender. Que ele não teria que ter espancado o garoto. Foi então que ele se saiu com esta: - Eu sei que se eu falasse com a mãe dele, ele iria levar uma surra. Eu só tomei uma “Medida Provisória”.
A outra versão para o apelido, é pejorativa. É que, segundo as más línguas, ele era mal servido de aparelho genital. E aí o MP ganhava outra conotação. E, ainda segundo as más línguas, devido a este fato ele era tão bruto e perverso, inclusive com animais que não lhe faziam mal algum. Era como se fossem instrumentos para ele extravasar sua frustração.
Certa vez ele colocou um gato debaixo de um caixão de madeira e, depois, colocou em baixo do caixão, junto com o gato, uma enorme bomba junina. O pedaço maior que encontraram do gato não era maior que uma mão de criança. Nesse dia ele não apanhou porque, caso fosse bater mesmo, com a raiva que estava, seu pai certamente o machucaria seriamente.
Apesar de tudo ele tinha muitos amigos. Cresceu, tornou-se um comerciante bem sucedido, casou e teve filhos. Mas a estrada foi longa e penosa. No começo era mascate, e saia de casa em cima de um pau de arara, levando mercadorias para vender nas feiras livres das pequenas cidades da sua região.
Numa dessas viagens, a contragosto ele embarcou no caminhão de um sujeito com o qual ele não se dava muito bem. A necessidade, entretanto, o obrigara viajar assim mesmo. Na estrada, um policial parou o carro e queria multar o motorista alegando que ele estaria fazendo transporte clandestino.
Esperto, o motorista argumentou que não era bem assim, Que todos ali eram parentes seus que estavam indo em romaria para Juazeiro do Norte, pagar promessas feitas ao padrinho Padre Cícero Romão Batista. O policial acatou o argumento e deixou que seguissem viagem. Cerca de um quilometro depois, MP virou-se para o motorista e pediu que retornasse até o posto policial. Quando o motorista perguntou o motivo, ele respondeu: “Eu pago a multa, mas não quero ser seu parente”.
Ele morava num sítio distante cerca de uma légua da cidade. Quando era dia de feira ele carregava o seu burro com mercadorias, montava e ia “fazer” feira. Aproveitava também para resolver alguns assuntos e realizar alguns pagamentos. Certo dia, quando chegou à cidade, percebeu que deixara o dinheiro em casa. Como tinha contas a pagar, voltou, à pé, para buscar o dinheiro. Ao chegar de volta, alguns amigos quiseram saber porque ele voltou à pé, e não montado no burro, para buscar o dinheiro. “Quem esqueceu o dinheiro fui eu, e não o burro”, respondeu irritado.
Não havia passado um mês desde o seu casamento, quando MP teve a primeira briga com a mulher. É que ela sempre pedia para que ele a levasse para jantar num restaurante fino. Ele sempre alegava que não tinha dinheiro para aqueles luxos. Mas certo dia em que a situação havia melhorado, lá se foi ele levando a esposa para jantar fora.
Foram a um restaurante italiano onde ele pediu macarrão ao molho de tomate e almôndegas. Acostumada a comer aipim com jabá, a mulher não gostou do prato e reclamou. Discutiram e ele, delicadamente, emborcou a tigela de macarrão sobre o penteado da esposa. Ela, é claro, voltou para a casa da mamãe. Passados alguns dias, MP foi até lá decidido a pedir perdão. Se trancaram num quarto, ele e a esposa, e conversaram alguns minutos, após o que ele saiu e foi embora sem dizer uma palavra.
Preocupados, os pais da moça quiseram saber se fizeram as pazes. Quando ela, chorosa, disse que não, eles quiseram saber a razão. Afinal, ele tomara a iniciativa de pedir perdão, e que ela deveria perdoar, e coisa e tal.
Por que, afinal, não perdoar, se tudo não passara de uma costumeira briga entre jovens casais.
Chorando, a moça respondeu: “Ele me pediu perdão, mas quando eu disse que queria pensar um pouco, ele me virou as costas e saiu dizendo:
“Olha Rosinha. Eu já lhe pedi perdão. Se você quiser perdoar, perdoe. Se não, vá a merda”!

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