Na superfície, o Facebook é uma das propostas comerciais mais
bem-sucedidas na história dos negócios. Sua capitalização de mercado está hoje
em mais de meio trilhão de dólares. As ações são seis vezes mais rentáveis
atualmente do que há cinco anos.
O retrato geral é de crescimento e prosperidade, como o editor de
mercado de capitais do Financial Times, Miles Johnson, escreveu esta semana:
"A rede social... está aumentando seus lucros em mais de 50% por trimestre
e os ganhos por ação em mais de 70%, fazendo com que sua rentabilidade e
crescimento estejam a anos-luz da média de uma empresa nos Estados
Unidos".
Mas a imagem que se tem a médio e longo prazo da companhia é muito
diferente.
O Facebook está acumulando inimigos e desafios a tal velocidade que seus
horizontes ficaram, de repente, nublados.
A empresa tem enfrentado turbulências na relação com anunciantes
poderosos, como a Unilever, e com a mídia. Neste último caso, decorrentes de
sua decisão de diminuir a visibilidade do jornalismo profissional nas páginas
dos usuários para privilegiar outros tipos de interação - a medida levou, por
exemplo, o jornal brasileiro Folha de S.Paulo a anunciar que iria parar de
atualizar suas páginas na rede.
"As desvantagens em utilizar o Facebook como um caminho para essa
distribuição (de conteúdo) ficaram mais evidentes após a decisão da rede social
de diminuir a visibilidade do jornalismo profissional nas páginas de seus
usuários. O algoritmo da rede passou a privilegiar conteúdos de interação
pessoal, em detrimento dos distribuídos por empresas, como as que produzem
jornalismo profissional", escreveu a Folha em texto em que anuncia a
decisão.
Pode parecer loucura, ou contradição, argumentar que o poder do Facebook
está diminuindo. Mas aqui há oito razões para pensar que, em termos de
influência, se não riqueza, a rede social certamente já alcançou seu ponto
máximo.
1.
Usuários em queda
Em seu último relatório de lucros, o Facebook revelou que, pela primeira
vez, o número de usuários diários ativos caiu nos Estados Unidos e no Canadá,
seu maior mercado.
A redução foi
pequena, de 185 milhões para 184 milhões, mas trata-se de um fato importante.
Primeiro porque foi a primeira queda e, além disso, porque ela precede as
mudanças que Mark Zuckerberg anunciou no feed (página inicial) dos usuários
para priorizar "interações significativas" em vez de notícias.
2. Menos
engajamento
Mas talvez a queda no número absoluto de usuários não seja o fator mais
preocupante para o gigante das redes sociais. Também houve um recuo no tempo
que eles passam na plataforma ou, em outras palavras, no engajamento.
O Facebook
informou que a quantidade de tempo gasta pelos usuários na rede social caiu em
50 milhões de horas por dia. Isso representa uma queda enorme, e sugere que a
experiência do seu feed de notícias se tornou menos viciante - o que também o
torna menos atrativo para os anunciantes.
3.
Turbulências com anunciantes
Falando neles, a maior vulnerabilidade do Facebook poderia ser uma
retirada massiva de anunciantes.
Há alguns dias, o diretor de marketing da Unilever, Keith Weed, disse que
a confiança dos consumidores nas redes sociais despencou. Ele ameaçou tirar
dinheiro não só do Facebook, mas também do Google. E o que aconteceria se
outros grandes anunciantes o seguissem?
Já existe uma inimizade notável entre alguns anunciantes e grandes
empresas de tecnologia por causa do alegado sigilo sobre os usuários que são
alvo dos anúncios. Importantes agentes do mundo publicitário reclamam do que
veem como uma falta de transparência de companhias como o Facebook nesse
sentido.
Para além de tudo isso, a empresa foi obrigada a admitir no passado que
superestimou extremamente a quantidade de tempo que os espectadores passavam
assistindo vídeos na plataforma. Tudo isso colabora para uma potencial fuga de
anunciantes, que pode eventualmente ser terrível para seu modelo de negócios.
4.
Desinformação e notícias falsas
Justificando sua posição, Keith Weed, da Unilever, disse que "as
pessoas estão cada vez mais preocupadas preocupadas com o impacto do digital no
mundo bem-estar, na democracia e na verdade propriamente dita".
Está muito claro que a investigação em curso sobre a suposta
participação da Rússia na eleição de Donald Trump como presidente dos EUA
analisará o uso que aqueles que cercam o Kremlin fizeram da plataforma. Além
disso, Hillary Clinton afirmou no ano passado que o Facebook havia sido a causa
fundamental da derrota apertada que sofreu.
E se o Facebook, que se define como uma empresa cuja missão social é
tornar o mundo mais aberto e conectado, passa a ser conhecido como aquele cara
mau cuja desinformação minou a vontade do povo americano, isso certamente
afetará sua reputação.
5.
Ataques de seus ex-executivos
Outra coisa terrível para a reputação da companhia são os ataques que
chegam de ex-alto executivos.
Chamath Palihapitaya, ex-vice-presidente de crescimento de usuários,
disse alguns meses atrás que as ferramentas de interação criadas pela rede
social "estão destruindo como a sociedade funciona". E acrescentou:
"Não há discurso civil nem cooperação, há desinformação, mentira".
Outros ex-executivos fizeram o mesmo, incluindo Sean Parker, cofundador
do Facebook.
A razão pela qual isso importa não é apenas o fato de gerar manchetes
negativas. É que se a reputação do Facebook no Vale do Silício cair, isso pode
ser uma barreira às suas aquisições (Instagram, WhatsApp, etc.), que podem
promover o crescimento futuro da companhia.
6.
Regulações mais duras
Tanto na Europa como nos Estados Unidos, entidades reguladoras estão
travando uma espécie de guerra de desgaste mútuo contra o Facebook, que poderia
se tornar rapidamente muito mais explosiva.
Em Bruxelas, a comissária responsável pela concorrência, Margrethe
Vestager, está com as empresas de tecnologia na mira. Na Alemanha, leis que
penalizam a incitação ao ódio estão sendo usadas para impor multas pesadas ao
Facebook.
O clima está ficando pesado em todos os lados, e isso nos leva a entrar
no assunto dos dados...
7.
Regulação de proteção de dados
As novas superpotências no mundo dos negócios são um tipo recente de
gigante da tecnologia: o que lucra com o uso de dados pessoais.
Mas com a evolução da economia de dados vem a evolução da regulação de
dados.
O Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia (GDPR, na
sigla em inglês) entrará em vigor no dia 25 de maio e terá um enorme impacto
sobre empresas como o Facebook, que poderiam enfrentar grandes multas por
infrações.
A diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, disse que a empresa
ajustou suas configurações de privacidade com antecedência.
No sua teleconferência mais recente para divulgação de resultados
financeiros, o Facebook alertou especificamente que o GDPR poderia ser um
obstáculo ao seu crescimento futuro.
8.
Antagonismo com a indústria de notícias
A indústria de notícias tem se voltado contra a rede social há algum
tempo, em parte devido à velocidade com que o Facebook e o Google engolem os
recursos publicitários.
O domínio dessas duas empresas limita a capacidade das empresas de
notícias tradicionais de ganhar dinheiro na internet e, como tal, poderia ser
fatal para suas perspectivas.
Mas, para muitas figuras importantes no mundo das notícias, as mudanças
recentes do Facebook poderiam reduzir drasticamente o tráfego de usuários para
suas páginas na internet. O Buzzfeed, que depende fortemente das notícias
compartilhadas nas redes sociais, anunciou recentemente cortes de empregos, por
exemplo.
Este duplo golpe para o setor de notícias - o fato de o Facebook engolir
o dinheiro de publicidade por um lado e, em seguida, apertar as torneiras do
tráfego para os sites restringindo os conteúdos que chegam ao feed de notícias
dos usuários - garante um relacionamento antagônico com o segmento em todo o
mundo.
As
ameaças não param por aí
Além de tudo isso, existem outras preocupações para o Facebook: a
possibilidade de estar atingindo o limite de sua capacidade de crescimento no
mundo de língua inglesa; se a sua plataforma móvel está equipada bem o bastante
para aproveitar a próxima duplicação da população da internet; se os gigantes
tecnológicos chineses vão vencê-lo nos mercados em crescimento da África; e se
a cultura da empresa é saudável o suficiente para suportar todas essas
pressões.
Mas essas são ameaças futuras ou emergentes - as citadas anteriormente
já estão tendo um impacto muito sério na empresa agora.
Sem querer fazer deste texto um passeio pela cidade das ressalvas,
convém lembrar que o Facebook é uma das empresas mais inovadoras de toda a
história, que acumulou uma riqueza impressionante por meio de um imenso
trabalho duro e que oferece um serviço agradável e gratuito (se você descontar
que paga com seus dados pessoais).
No entanto, ganham força as suspeitas de que Mark Zuckerberg e sua
equipe desencadearam algo que não podem controlar. E que, depois de um
crescimento vertiginoso de 14 anos, sua influência em nosso domínio público
global pode ter atingido o auge.
*Com
informações adicionais da BBCBrasil.
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