Quantas vezes você pega o celular para checar mensagens por dia? Com
quantos grupos de amigos, familiares e colegas de trabalho conversa
diariamente? Qual é a sua tolerância na espera para receber uma reposta? As
mensagens acumuladas esperando resposta no seu celular te deixam angustiado?
Aplicativos de mensagens instantâneas se disseminaram rapidamente no
Brasil e no mundo, em nome da velocidade, custos mais baixos e praticidade na
comunicação - mas o outro lado da moeda na crescente dependência social desses
apps é a ansiedade produzida pela sensação de estar ligado, e em dívida, o
tempo todo, alertam especialistas.
"O que está acontecendo basicamente é que as pessoas ficam de
plantão o dia inteiro, e claro que isso é maléfico. Elas não descansam, não têm
um momento de parar. Isso gera estresse, que pode desencadear quadros como
depressão e ansiedade", adverte o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva,
presidente eleito da Associação Psiquiátrica da América Latina (Apal).
Segundo um estudo feito pelo Datafolha em 2017, o WhatsApp é o
aplicativo de mensagem preferido por 89% dos brasileiros. A empresa, que
pertence ao Facebook, tem 120 milhões de usuários no Brasil. O número equivale
a mais da metade da população do país, e corresponde a 10% do 1,2 bilhão de
usuários globais do app.
Vício
portátil
A possibilidade de ter conversas em tempo real pela internet já era
conhecida de frequentadores de grupos de chat, usuários do MSN Messenger, ou
viciados em Blackberry nos idos dos anos 2000. Mas a ferramenta se tornou muito
mais interessante quando de repente "todo mundo" tinha acesso a ela
de forma portátil, com a popularização dos smartphones e maior acesso a planos
de dados ou Wi-Fi.
"O MSN funcionava no computador, então você tinha que estar parado
em um lugar. Se você fosse um viciado em tecnologia, ficava em casa preso no
computador. Com o smartphone não, você passa a carregar esse vício para onde
você vai. Fica logado 24 horas", diz a psicóloga Andréa Jotta, do
Laboratório de Estudos de Psicologia e Tecnologias da Informação e Comunicação
(Janus) da PUC-SP.
Uma "conversa" pressupõe uma resposta imediata,
"pá-pum". E os comunicadores instantâneos de fato permitem que as
interações se sucedam quase como se os interlocutores estivessem face a face.
Permitem até saber se uma resposta está em construção, com as reticências que
aparecem quando outra pessoa está escrevendo, ou já foi lida, com as setinhas
azuis que acendem no indicador de leitura.
O problema é que os comunicadores são "instantâneos" para quem
os manda, mas não necessariamente para quem os recebe, diz Jotta.
"As pessoas não estão disponíveis para você 100% do tempo. Mesmo
que o aplicativo indique que esteja online, não necessariamente ela pode
responder. E não dá para achar que aquela 'não resposta' é direcionada a
você."
Mas é justamente o que acontece muitas vezes, com relatos de reações de
insegurança, ciúme, ansiedade, "porque alguém leu a mensagem mas demorou
para responder" - o que, dependendo da relação, pode gerar uma
interpretação excessiva de lacunas de silêncio; ou da hesitação ao escrever e
reescrever uma resposta, como se fossem gestos a se atribuírem significados.
Tanto a expectativa de que o interlocutor responda instantaneamente
quanto a vontade de responder rapidamente a todas as mensagens que chegam
alimentam a ansiedade, diz Jotta - ainda mais quando avisos sonoros estão
ativos e o celular fica apitando, pedindo atenção.
Quem é ansioso
para responder rapidamente fica com aquele pensamento ocupando a mente até
conseguir. E quem é desorganizado e dado ao acúmulo de tarefas se sente ainda
mais sobrecarregado. "Ficam na demanda constante, eu tenho que dar conta,
eu tenho que dar conta", diz a psicóloga. Click no link e leia mamtéria completa no .BBCBrasil
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