quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O Aeroporto cronicamente inviável

Há mais mistérios entre a terra e o ar do que imaginamos. Pelo menos, no Aeroporto de Feira. Afirmam que oterminal é inviável, mas não há explicações técnicas transparentes,que justifiquem o fato. Nem da empresa detentora da Concessão, que se recusou a responder à nossa reportagem. Nem da Azul, companhia aérea que opera o único voo semanal. Nem do Governo, através de seus órgãos reguladores.
 
Vivemos de fake news, adiamentos, desculpas sem consistência. Na última delas, o governador Rui Costa disse que aeroportos a menos de 100 quilômetros não se viabilizam, exceto o de Campinas, em São Paulo.Ojornal Tribuna Feirense foi atrás da questão, com o intuito de tentar entender o que está acontecendo. 
 
Um interessante estudo da Secretaria de Aviação Civil (SAC), feito ainda no governo federal passado, deixa claro que transformar a aviação em um transporte de massa era uma política de governo e que nenhum município deveria estar a mais de 100 km de um terminal aéreo. Feira, é claro, é referência para todos os municípios que estão em sua área de influência, com um mínimo de 2 milhões de habitantes. 
Sendo assim, não é possível conceber Feira sem uma opção multimodal de transporte, que inclua rodovias, trens, aviões. Afinal, 60% das mais de 500 indústrias aqui instaladas tem interesse em usar o aeroporto, como afirma o Diretor do CIS, em entrevista à nossa reportagem.
 
O mesmo estudo do governo mostra que o município teria potencial para 266 mil passageiros por ano. Informações que obtivemos sugerem que a avaliação de uma empresa detectou um potencial de 400 mil passageiros porano. Mesmo ficando apenas com os dados oficiais, percebemos eles atestam a viabilidade do aeroporto, já que o mesmo estudo sugere que 60 mil passageiros anuais já seriam suficientes para garantir os voos necessários. E não estamos sequer falando de cargas, outro quesito sobre qual não conseguimos obter dados, como é o caso, por exemplo, do volume de cargas embarcadas em Salvador, originários da nossa região. Faz parte dos mistérios insondáveis desse terminal aéreo.
 
Quanto ao argumento dos 100 quilômetros, ele é sobejamente desmentido pela realidade. Há, pelo menos, sete aeroportos no Brasil, com essa distância. Para usar um bem próximo, citamos o terminal de Campina Grande, cidade que tem uma população estimada em 403 mil habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 7,5milhões (Feira tem PIB de R$12 milhões),com a mesma distância da capital de seu estado que o nosso de Salvador e que movimentou 149 mil passageiros em 2017, 422 mil quilos de carga e faturamento de R$1,4 milhão só em serviços.
 
A desculpa mais recente é a falta de instrumentos para guiar os pousos (ILS). Não é simples assim. Interessa o percentual de pousos que são desviados pelas condições de visibilidade. Com um voo semanal, é impossível esta análise. Só a título de comparação, o Aeroporto Santos Dumont, no Rio, fica fechado durante 53horas por ano, o que equivale a 0,8% dos voos.
 
Segundo a SAC, existem 32 aeroportos no Brasil com pousos guiados por instrumentos e alguns em processo de instalação. Existem três categorias (I, II, III) de Sistema de Pouso por Instrumentos (ILS). Interessante relatar que o Aeroporto Santos Dumont, no Rio, devido à geografia, não comporta o ILS, embora atenda a 29 mil pessoas diariamente e tenha capacidade para 9,9 milhões de passageiros. O terminal usa o sistema RNP-AR, um modelo alternativo de guia para o pouso, mas nem todas empresas estão treinadas para o seu uso.
 
O secretário de Planejamento de Campina Grande, André Agra, em entrevista à rádio Campina FM, em 22 de novembro de 2017, afirmou que a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) irá colocar para funcionar o Sistema de Pouso por Instrumentos (ILS) no Aeroporto João Suassuna, já tendo sido feito georreferenciamento, notificação de antenas de telefonia fora do padrão e proibição de construções nas áreas de aproximação e decolagem. Segundo informou, até aquele momento,o terminal funcionava sem o equipamento. Aliás, curiosamente, o ILS de Campina Grande foi conseguido pelo Senador Vital Filho, junto à Infraero, como mostram matérias locais veiculadas naquele período.
 
Com esses dados, fica claro que o ILS (que tem investimento entre 6 e 10 milhões para  instalação, segundo apuramos, mas que depende de muitas variáveis) não é o item fundamental do processo, embora seja o ideal para qualquer aeroporto, pois evita o desvio de voos, aumenta segurança, reduz custos e poupa os passageiros de transtornos.
 
Para a implantação do ILS em Feira, há, ainda, a necessidade de ampliação das margens da pista. O Governo do Estado já fez o decreto de desapropriação da área situada no entorno do equipamento. Falta, apenas, a indenização dos proprietários. Não há informações sobre o investimento que seria necessário para isso.
 
As matérias da Tribuna desmentem o governador sobre a distância e a viabilidade dos aeroportos, mostrando que esse não é o argumento para impedir o nosso avanço. A verdade é que ninguém conhece os termos da Concessão; se há um cronograma de investimentos ou não;o acordo de exclusividade da Azul (ela tem significativa redução do ICMS do querosene, para manter voos regionais); ou o motivo do cancelamento do voo com maior taxa de ocupação (98%) que a Azul operava (Feira - Campinas), de forma arrogante e sem a menor satisfação aos feirenses. Tampouco sabemos o porquê da retirada dos equipamentos do terminal.
 
Precisamos saber qual seria o investimento em indenizações e em ILS; qual o potencial de cargas; se há novos estudos de demanda de passageiros; e se há outras empresas interessadas, além da Azul, que parece não gostar de Feira. Essas questões têm sido tratadas de forma nebulosa, sem respeito ao cidadão e ao eleitor de nossa Região Metropolitana (é bom lembrar),gerando especulações desnecessárias. Não sabemos se há pressões da Concessionária do Aeroporto de Salvador e de todos os que se beneficiam com ausência de alternativas; se há problemas econômicos decorrentes das limitações das construções no entorno; enfim, as verdadeiras razões que impedem que esse modal seja implantado e cumpra a política traçada pelo governo federal anterior. 
 
A desculpa da viabilidade fere violentamente nosso senso, pois sabemos que ninguém dos municípios localizados acima de Feira irá escolher ir a Salvador para embarcar, tendo Feira no meio do caminho. Precisamos de transparência. Eprecisamos tratar essa questãode forma dura, pois o único aspecto que parece evidente é que é uma decisão política – como a que viabilizou o novo Aeroporto de Conquista. Nossa Sociedade precisa se mobilizar e parar de aceitar argumentos inconsistentes, que nos impedem de voar alto. Embarcando por aqui, é claro. Nosso aeroporto é uma esperança ainda à espera de acontecer

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