
Vivemos de fake news, adiamentos, desculpas sem
consistência. Na última delas, o governador Rui Costa disse que
aeroportos a menos de 100 quilômetros não se viabilizam, exceto o de
Campinas, em São Paulo.Ojornal Tribuna Feirense foi atrás da questão,
com o intuito de tentar entender o que está acontecendo.
Um interessante estudo da Secretaria de Aviação Civil
(SAC), feito ainda no governo federal passado, deixa claro que
transformar a aviação em um transporte de massa era uma política de
governo e que nenhum município deveria estar a mais de 100 km de um
terminal aéreo. Feira, é claro, é referência para todos os municípios
que estão em sua área de influência, com um mínimo de 2 milhões de
habitantes.
Sendo assim, não é possível conceber Feira sem uma opção
multimodal de transporte, que inclua rodovias, trens, aviões. Afinal,
60% das mais de 500 indústrias aqui instaladas tem interesse em usar o
aeroporto, como afirma o Diretor do CIS, em entrevista à nossa
reportagem.
O mesmo estudo do governo mostra que o município teria
potencial para 266 mil passageiros por ano. Informações que obtivemos
sugerem que a avaliação de uma empresa detectou um potencial de 400 mil
passageiros porano. Mesmo ficando apenas com os dados oficiais,
percebemos eles atestam a viabilidade do aeroporto, já que o mesmo
estudo sugere que 60 mil passageiros anuais já seriam suficientes para
garantir os voos necessários. E não estamos sequer falando de cargas,
outro quesito sobre qual não conseguimos obter dados, como é o caso, por
exemplo, do volume de cargas embarcadas em Salvador, originários da
nossa região. Faz parte dos mistérios insondáveis desse terminal aéreo.
Quanto ao argumento dos 100 quilômetros, ele é sobejamente
desmentido pela realidade. Há, pelo menos, sete aeroportos no Brasil,
com essa distância. Para usar um bem próximo, citamos o terminal de
Campina Grande, cidade que tem uma população estimada em 403 mil
habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 7,5milhões (Feira tem PIB
de R$12 milhões),com a mesma distância da capital de seu estado que o
nosso de Salvador e que movimentou 149 mil passageiros em 2017, 422 mil
quilos de carga e faturamento de R$1,4 milhão só em serviços.
A desculpa mais recente é a falta de instrumentos para
guiar os pousos (ILS). Não é simples assim. Interessa o percentual de
pousos que são desviados pelas condições de visibilidade. Com um voo
semanal, é impossível esta análise. Só a título de comparação, o
Aeroporto Santos Dumont, no Rio, fica fechado durante 53horas por ano, o
que equivale a 0,8% dos voos.
Segundo a SAC, existem 32 aeroportos no Brasil com pousos
guiados por instrumentos e alguns em processo de instalação. Existem
três categorias (I, II, III) de Sistema de Pouso por Instrumentos (ILS).
Interessante relatar que o Aeroporto Santos Dumont, no Rio, devido à
geografia, não comporta o ILS, embora atenda a 29 mil pessoas
diariamente e tenha capacidade para 9,9 milhões de passageiros. O
terminal usa o sistema RNP-AR, um modelo alternativo de guia para o
pouso, mas nem todas empresas estão treinadas para o seu uso.
O secretário de Planejamento de Campina Grande, André Agra,
em entrevista à rádio Campina FM, em 22 de novembro de 2017, afirmou
que a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) irá
colocar para funcionar o Sistema de Pouso por Instrumentos (ILS) no
Aeroporto João Suassuna, já tendo sido feito georreferenciamento,
notificação de antenas de telefonia fora do padrão e proibição de
construções nas áreas de aproximação e decolagem. Segundo informou, até
aquele momento,o terminal funcionava sem o equipamento. Aliás,
curiosamente, o ILS de Campina Grande foi conseguido pelo Senador Vital
Filho, junto à Infraero, como mostram matérias locais veiculadas naquele
período.
Com esses dados, fica claro que o ILS (que tem investimento
entre 6 e 10 milhões para instalação, segundo apuramos, mas que
depende de muitas variáveis) não é o item fundamental do processo,
embora seja o ideal para qualquer aeroporto, pois evita o desvio de
voos, aumenta segurança, reduz custos e poupa os passageiros de
transtornos.
Para a implantação do ILS em Feira, há, ainda, a
necessidade de ampliação das margens da pista. O Governo do Estado já
fez o decreto de desapropriação da área situada no entorno do
equipamento. Falta, apenas, a indenização dos proprietários. Não há
informações sobre o investimento que seria necessário para isso.
As matérias da Tribuna desmentem o governador sobre a
distância e a viabilidade dos aeroportos, mostrando que esse não é o
argumento para impedir o nosso avanço. A verdade é que ninguém conhece
os termos da Concessão; se há um cronograma de investimentos ou não;o
acordo de exclusividade da Azul (ela tem significativa redução do ICMS
do querosene, para manter voos regionais); ou o motivo do cancelamento
do voo com maior taxa de ocupação (98%) que a Azul operava (Feira -
Campinas), de forma arrogante e sem a menor satisfação aos feirenses.
Tampouco sabemos o porquê da retirada dos equipamentos do terminal.
Precisamos saber qual seria o investimento
em indenizações e em ILS; qual o potencial de cargas; se há novos
estudos de demanda de passageiros; e se há outras empresas interessadas,
além da Azul, que parece não gostar de Feira. Essas questões têm sido
tratadas de forma nebulosa, sem respeito ao cidadão e ao eleitor de
nossa Região Metropolitana (é bom lembrar),gerando especulações
desnecessárias. Não sabemos se há pressões da Concessionária do
Aeroporto de Salvador e de todos os que se beneficiam com ausência de
alternativas; se há problemas econômicos decorrentes das limitações das
construções no entorno; enfim, as verdadeiras razões que impedem que
esse modal seja implantado e cumpra a política traçada pelo governo
federal anterior.
A desculpa da viabilidade fere violentamente nosso senso,
pois sabemos que ninguém dos municípios localizados acima de Feira irá
escolher ir a Salvador para embarcar, tendo Feira no meio do caminho.
Precisamos de transparência. Eprecisamos tratar essa questãode forma
dura, pois o único aspecto que parece evidente é que é uma decisão
política – como a que viabilizou o novo Aeroporto de Conquista. Nossa
Sociedade precisa se mobilizar e parar de aceitar argumentos
inconsistentes, que nos impedem de voar alto. Embarcando por aqui, é
claro. Nosso aeroporto é uma esperança ainda à espera de acontecer
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