segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Prometer vacinação para dezembro ou janeiro 'não é realista', diz brasileira que integra comitê da OMS contra covid-19

Na hora de prestar vestibular, Cristiana Toscano não tinha certeza nenhuma de que a medicina era a melhor escolha de carreira. "Eu pensei em psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e até musicoterapia, que era uma área que começava a despontar. Meus pais habilmente sugeriram seguir para a área médica que, na visão deles, permitiria seguir por uma dessas opções depois", lembra.

Durante os três primeiros anos de curso na Universidade de São Paulo, novas incertezas apareceram e jogaram mais dúvidas sobre sua escolha. "Eu pensava: isso não é para mim. Até que, no quarto ano, tive a oportunidade de fazer um estágio de quatro meses em capacitação e promoção da saúde de populações ribeirinhas da Amazônia", conta. A saúde pública foi amor à primeira vista.

Outro evento que moldou a trajetória de Cristiana ocorreu no quinto ano de faculdade. "Eu tranquei minha matrícula e fui fazer um estágio na Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi lá que descobri o interesse pela epidemiologia, uma abordagem que estava em pleno crescimento", conta.  

De volta ao Brasil, ela resolveu fazer residência em infectologia. Além do mestrado e doutorado, a médica ainda teve uma oportunidade de especializar-se em serviços de inteligência epidêmica no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos.

Atualmente, Toscano é professora da Universidade Federal de Goiás e representa a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) no Estado. Além disso, a especialista atua como a única brasileira e latino-americana no Grupo Conselheiro Estratégico em Imunização de covid-19 da OMS.

A equipe de experts se reúne periodicamente para discutir os avanços das pesquisas que desenvolvem uma vacina contra a covid-19, estabelecer diretrizes sobre os grupos prioritários e definir recomendações sobre o uso dos candidatos a imunizantes.

Em entrevista à BBC News Brasil, a infectologista analisou o atual cenário de desenvolvimento das vacinas e as perspectivas de elas ficarem disponíveis à população nos próximos meses.

A BBC News Brasil questionou a como é trabalhar com infectologia num país como o nosso. Cristiana Toscano respondeu: "Eu considero uma oportunidade e um desafio ao mesmo tempo. Vivemos no Brasil, e no mundo inteiro, uma transição demográfica e epidemiológica em que muitas doenças infecciosas estão diminuindo. Ao mesmo tempo, vemos o aumento proporcional de doenças crônicas não transmissíveis relacionadas aos hábitos de vida.

Cristiana Toscano
Para Cristiana Toscano, não é possível pular etapas no desenvolvimento de vacinas

Enquanto isso acontece, há uma recrudescência e o aparecimento de novos desafios na infectologia. Ainda lidamos com HIV, hepatite C, dengue, chikungunya e zika. Em paralelo, há sempre esse perigo iminente de uma pandemia, a partir de um vírus que se hospeda em animais e se torna capaz de pular para seres humanos.

Estamos vivendo uma pandemia agora, causada por um coronavírus. E não existem dúvidas que veremos outras pela frente. Há todo um desafio em preparar os sistemas de saúde, fazer a detecção precoce, monitorar os vírus e promover o trabalho de articulação entre gestores de saúde, vigilância, inovações tecnológicas, métodos de diagnóstico, vacinas e tratamentos.

Apesar a magnitude das doenças crônicas, que seguem muito relevantes em boa parte do mundo, nos países menos desenvolvidos as doenças infecciosas são um problema. Muitas vezes, falamos de enfermidades que já deveriam ter sido superadas. Sou suspeita para dizer, mas a infectologia é fascinante e temos muitas coisas a fazer. Não é um campo estagnado sob nenhum aspecto." 

Para continuar lendo a entrevista click aqui e acesse o BBC News Brasil.

 

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