domingo, 22 de novembro de 2020

Deixe como está

        Prefeito repetidas vezes de um município baiano, conhecido comerciante, muito popular e querido da população, era o verdadeiro manda chuva do lugar até porque, desfrutando da amizade e confiança do então governador, o que ele pedia  era logo atendido de acordo com as necessidades da comunidade e disponibilidade dos cofres do estado. A amizade era sacramentada de  modo que ele sempre tinha acesso ao palácio sem dificuldades.

Determinado dia surpreendido com a nomeação de um juiz para uma cidade próxima que começava a apresentar visíveis sinais de desenvolvimento em contraste com o que ocorria na sua comunidade, sentiu-se magoado e até ofendido. E a sua lealdade, sua amizade com o governador de nada valeriam? Entrou na caminhonete e zarpou para a capital baiana com ideia definida. Conversaria pessoalmente com o governador, até porque “não era homem de mandar recados!”.

De pronto foi recebido no palácio. Com sempre tinha portas abertas pela amizade construída com esforço em muitas campanhas vitoriosas. Saudações, abraços e a pergunta de que conhece bem seus agregados políticos. “Tudo  bem compadre, como vai você e aquele povo  bom. O que você quer?” Conversa  reta e o prefeito não se fez de rogado. “Governador, o município vizinho, agora tem um juiz e o nosso  nada! O que vou dizer para os seus eleitores e os meus eleitores, governador?”

Vendo o ciúme estampado nas feições do velho  amigo  e correligionário,  o governador procurou acalmá-lo. “ Compadre tudo que você pede eu não lhe concedo? Tudo bem,  você agora quer um juiz. Eu mando um pra lá,  mas tem uma coisa compadre, você é quem sabe, a  maior autoridade de um município é o juiz, ele  manda mais que o prefeito!” e o prefeito de imediato: “não governador, deixe como está!”

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