domingo, 15 de novembro de 2020

O Messias não desejado

Década de 80. A política pautada no bi partidarismo gerava disputas ferrenhas entre grupos que buscavam o comando administrativo nos  municípios. A política partidária tinha características de um Fla x Flu  no futebol. De um lado a direita do outro a oposição, sem diálogo que pudesse gerar uma conexão amistosa.

Em Feira de Santana não era diferente, o prefeito José Falcão da Silva era  bombardeado diariamente por um fuzileiro recém-eleito, disposto a  desmantelar o palácio de Maria  Quitéria.

Depois de atuar como noticiarista da Radio  Sociedade da  Bahia, estava de volta a esta cidade com um diploma universitário nas mãos, o ex-locutor da Rádio Cultura de Feira, Messias Gonzaga. Eleito vereador na primeira tentativa, apontou  seu ninho de metralhadoras para o paço municipal  onde o prefeito José Falcão, para uns Zé Festinha, devido a sua simpatia para com eventos festivos, esquivava-se a todo instante dos disparos.

E assim era o dia a dia da já distante década de 80, para ser mais exato, em 1982, época de saudosa memória para os que aqui ainda estão. Mas como tudo tem um  dia, ele chegou, exatamente durante um evento promovido pelo  Executivo com a integral participação do  Legislativo. Conversas animadas e o sempre lembrado vereador Otaviano Campos (MDB), homem educado e de bom senso pega Messias Gonzaga pelo braço e leva-o até a cabeceira da mesa onde estava bem instalado José Falcão. O intuito, perceptível, era por fim na beligerância por parte do vereador em relação ao chefe do Executivo.

“Prefeito, este aqui é o vereador Messias Gonzaga. É o Messias, Falcão!” Esmerou-se Otaviano Campos, no notável papel de conciliador. Imperturbável Falcão levantando às vistas em direção ao apresentado e com a sua habitual presença de espirito arrematou: “É, mas não é o esperado e desejado” numa referência a Jesus Cristo (O Messias). Todos riram, até Messias Gonzaga.

 

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