quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Dia de Finados

 Eu não deveria dizer essas coisas, não é politicamente correto. Mas, eu sou politicamente incorreto. Então, sincero como sou, digo que acho estupidez, hipocrisia, pessoas lotando cemitérios no Dia de Finados para reverenciar seus mortos. Tem até quem contrate gente pra fazer manutenção em túmulos, lavar, colocar flores e o escambau. Pra que, meu Deus? Ali só existe matéria em decomposição. A essência, o espírito (ou, ala, como queiram), não está mais ali. Já foi para o lugar que lhe é de direito. E olha, o que deve ter de gente ali chorando lágrimas de crocodilo é uma grandeza. Muitos não deram a menor atenção ao seu parente ou amigo, enquanto em vida, e depois que eles se vão, é que tentam demonstrar amor, apreço. Se existe amor mesmo, ou querem demonstrar arrependimento por algum motivo, orem. Orem pedindo perdão, orem pedindo proteção, paz para quem partiu. E isso pode ser feito em casa mesmo, mas, se preferem, num templo de orações.

         Aí eu fico aqui lembrando de pessoas que conheço ou conheci, que reverenciam seus mortos em cemitérios, tem suas casas cheias de imagens de santos, fazem rituais religiosos, tudo só de aparência, porque, intimamente, não acreditam em nada daquilo. Nada de vida após a morte, nada de Espírito Santo, nada enfim. Para essas pessoas, morreu, acabou tudo. Não digo que não existam aqueles que acreditam mesmo no poder de imagens, mas, para uma grande parte, aquelas imagens de santos, quando não são peças que se constituem em patrimônio em forma de valiosas obras de arte, servem apenas para dar sustentação à falsa imagem que pretendem passar para as demais pessoas sobre o seu caráter pessoal. Como o fazendeiro que perguntou ao filho por que algumas pessoas tinham tanto conhecimento. O filho explicou que isso se devia aos livros. Muitos livros. O velho foi à cidade encomendou um monte de livros e mandou um carpinteiro fazer uma estante na sala da sua casa. Quando os livros chegaram e foram arrumar, os empregados informaram ao coronel que o espaço entre as tábuas da estante era pequeno e não cabia os livros. E o velho deu logo uma solução: “Cortem os livros”!

         Um pouco mais de verdade nos sentimentos e atitudes, só nos faz bem. Quando penso nisso sempre me acode a frase: “Pra ser feliz com mentiras, melhor que eu chore com fé”. Contrabandistas costumavam levar ouro de um país para outro, embutido em imagens de santos esculpidas em madeira. Os chamados “santos do pau oco”. Quando vejo essas pessoas de falsos sentimentos chorando, orando em voz alta para que todos vejam o quanto são “sensíveis” e quão grande a sua “fé”, penso comigo mesmo: Ali vai um Santo do Pau Oco.

Um comentário:

Antonio Liberato - Comentários disse...

Excelente texto. Elucidativo Parabéns