terça-feira, 17 de novembro de 2020

Em livro, Obama relata reza ao pé do Cristo e rumores de propina bilionária no governo Lula

Obama, então presidente dos EUA, durante visita ao Brasil em 2011 (Getty Images)

Foi por meio de um telefone celular de um assessor, em Brasília, que o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama lançou, em 2011, a primeira ofensiva militar de seu governo, contra o regime do coronel Muamar Khadafi, na Líbia. "Você está autorizado", disse Obama ao então chefe do Estado-Maior, o almirante Mike Mullen, pelo telefone, em uma sala no Palácio do Planalto — ato que detonaria seis meses de ataques dos EUA que levariam à queda e à morte de Khadafi.

A cena é ilustrativa de como o Brasil surge em "Uma Terra Prometida", primeiro volume de suas memórias presidenciais, lançado mundialmente nesta terça, dia 17. Nas 764 páginas da publicação, o país aparece ora como um cenário, ora como um ator coadjuvante nas negociações internacionais pelas quais Obama conduz o leitor, em uma obra na qual também revela intimidades de sua vida em família.

Obama descreve Lula como "cativante" e ambíguo em seus escrúpulos políticos, relata como via a articulação internacional do Brasil com países como a China — e como essa cooperação ameaçou os planos americanos em temas como as mudanças climáticas — e conta da satisfação de pai de ter levado as filhas a uma visita ao Cristo Redentor no Rio de Janeiro, enquanto parece questionar sua própria importância, como o primeiro presidente negro dos EUA, para algumas centenas de brasileiros negros e pobres que o viram acenar brevemente em uma visita à favela de Cidade de Deus.

O livro é lançado a pouco mais de dois meses da posse do democrata Joe Biden como o novo presidente americano, em sucessão ao republicano Donald Trump. Biden foi vice de Obama durante seus dois mandatos, e foi destacado pelo então presidente como seu principal emissário na América Latina. Fiel aliado a Trump, o governo brasileiro de Jair Bolsonaro ainda não parabenizou Biden pela vitória nas eleições há duas semanas.

Ataque à Líbia ordenado de sala do Planalto

E apesar da propalada proximidade entre Trump e Bolsonaro, Obama foi o último presidente americano a visitar o Brasil, entre 19 e 20 de março de 2011, no primeiro ano do governo de Dilma Rousseff. O país foi a primeira parada de uma viagem de quatro dias por três países latinos, que tinha o objetivo de "melhorar a imagem dos Estados Unidos na América Latina". Aproveitando uma curta janela de férias escolares de suas duas filhas, Sasha e Malia, o presidente americano veio ao país acompanhado por ambas, pela mulher (a primeira-dama Michelle) e pela sogra (Marian Robinson). 

No livro de memórias, Obama relata visita que fez ao Cristo Redentor com a família (Getty Images)

"Aquela era minha primeira visita à América do Sul como presidente e meu primeiro encontro com a presidente recém-eleita, Dilma Rousseff. Economista e ex-chefe de gabinete de seu carismático antecessor, Lula da Silva, Rousseff estava interessada, entre outras coisas, em incrementar as relações comerciais com os Estados Unidos", afirma Obama, no livro lançado no Brasil pela editora Companhia das Letras.

A situação da Líbia, no entanto, tirou em parte o foco de Obama na viagem. "Ela (Dilma) e seus ministros receberam calorosamente nossa delegação quando chegamos ao palácio presidencial, uma estrutura leve e modernista com colunas em forma de asas e enormes paredes de vidro. Durante várias horas conversamos sobre os meios de promover maior cooperação bilateral em matéria de energia, comércio e mudanças climáticas. Mas, com as crescentes especulações em todo o mundo sobre quando e como teriam início os ataques contra a Líbia, ficou difícil ignorar a tensão. Pedi desculpas a Rousseff pelo eventual incômodo que a situação estava causando", relembra Obama. Segundo ele, Dilma teria respondido em português: "Vamos dar um jeito. Espero que esse seja o menor dos seus problemas".

"O fato de que o Brasil na maioria das ocasiões tentava evitar tomar partido nas disputas internacionais — e se abstivera no voto do Conselho de Segurança sobre a intervenção na Líbia — só piorava as coisas", analisa Obama, sobre a situação de ordenar um ataque a um país estrangeiro sem estar nos EUA naquele momento. 

Obama também não menciona a crise enfrentada com Dilma, dois anos após sua visita em Brasília, quando o ex-agente da Agência de Segurança Nacional americana (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden veio a público denunciar um esquema de espionagem americano contra líderes de Estado que incluía a mandatária brasileira e sua equipe. Na ocasião, Dilma que tinha um jantar marcado com Obama na Casa Branca, desmarcou sua visita aos EUA. E recebeu pessoalmente um pedido de desculpas em Brasília do então vice Biden. O imbróglio deve ficar para o segundo volume das memórias, ainda sem data para publicação.  

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