Pipiu e Cristóvam |
Eu fui crescendo, Pipiu e Ada se casaram
e a vida seguiu. Eu ficava dividido entre
a casa dos meus pais adotivos e de
Ada e Pipiu. Foi ele quem me ensinou a atirar e a caçar, fazendo de mim seu
companheiro de caçadas. E foram muitas. A cada viagem para caçar era uma nova
aventura. Ele era muito brincalhão e gostava de pregar peças nos amigos e familiares.
E entre nós dois não era diferente. Certa vez, numa festa de São João na
fazenda Paus Altos, ele percebeu uma movimentação entre a rapaziada. Quando
perguntou o que era disseram: Fique olhando. Os “moleques” haviam colocado
sobre uma mesa de bebidas uma carteira de cigarros e um isqueiro. Quando alguém
pegava um cigarro e tentava ascender com o isqueiro, recebia um esguicho de
água na cara.
Pipiu disse: Assim não tem graça. Saiu com
o isqueiro e retornou colocando no mesmo lugar. Quando eu perguntei: O que foi
que você fez? Ele respondeu: Espere. Quando um incauto se aproximou e tentou
ascender um cigarro, ficou com a cara toda azul. Ele havia substituído a água
por azul de metileno.
Numa viagem de caçada, na qual seu
sobrinho André Mascarenhas foi conosco, erramos o caminho para Maracás. Os
passantes nos davam informações erradas. Três horas da tarde, com o combustível
acabando, sentimos que já estávamos perto do nosso destino. Avistei um velho na
estrada e pedi a Pipiu que se certificasse com o dito se estávamos no caminho
certo. Ele parou o carro a beira da estrada e o velho parou do outro lado. Ele
perguntou se aquela era a estrada para Maracás, ao que o cidadão respondeu:
Santa Terezinha? Pipiu tentou explicar que a gente estava perdido e estávamos indo
para Maracás, mas, o velho não escutava: “Não. O senhor tem que vortá, passar
em seu Neco Pire, drobrá as esquerda e aí chega em Maracás”. Pipiu tentou argumentar
que não éramos da região, mas ele não entendia. Após várias tentativas, Pipiu
estendeu a mão para o velho dizendo: Ok, muito obrigado! Vá tomar no c*, e
ouviu como resposta: Se Deus quiser sim senhor! Eu olhei para trás, e André
estava no banco jogando as pernas para cima e gargalhando. Mas, felizmente,
chegamos a Maracás.
Em outra oportunidade, recebemos um
convite para caçar perdizes numa fazenda em Nanuque, Minas Gerais, onde residia
uma cunhada de Tonheiro, irmão caçula da família. O que a gente não sabia é que
era aniversário de casamento dela. Já na casa percebemos uma movimentação
estranha. Muitas mesas bem arrumadas com pratos e talheres, garçons, e percebi
que ali haveria uma festa luxuosa. E a gente só tinha roupas de caça. Logo
começaram a chegar os convidados trajados a rigor. Marcelo, o dono da casa,
quebrou o nosso galho, informando a todos nossa situação. Mas, eu estava com
Pipiu e ele não se acanhava com nada. Logo estava enturmado com todos,
conversando alegremente como velhos amigos. Lá para as tantas, ele já estava
discutindo com as mulheres da mesa sobre feminismo. Já no fim da conversa, a
discussão era se mulher poderia fazer tudo que o homem faz. Ele, com seus
argumentos, foi calando a boca de uma por uma, enquanto os maridos se divertiam
com a situação, até que restou apenas uma mais renitente à qual ele desafiou: “Vou
lhe provar que mulher não pode fazer tudo que o homem faz”. Ela caiu na
besteira de dizer: “Prove”. Ele tirou a camisa e disse: “Faça o eu fiz”. A
gargalhada foi geral e foi constrangedor ver a cara da mulher derrotada em seus
argumentos.
Pipiu era amigo de seus amigos. Um dia o
pai dele bateu à porta informando que haviam matado um comerciante muito amigo,
que era o pai de Yara, que mais tarde se casou com José Olympio Mascarenhas.
Ele ainda estava de pijama. Assim mesmo pegou uma arma, entrou no carro e seguiu
com o pai a caça do assassino. Não o encontraram, graças a Deus!
Era também muito generoso. Lembro-me de um São
João em que ele comprou roupas e fogos para todos de uma família que morava em
uma pequena favela próximo a sua casa e os convidou para o forró que aconteceu
a noite. Na fazenda Paus Altos, ele sempre convidava todos os trabalhadores
para participar dos festejos promovidos para a família. Era amigo de todos,
tratava todo muito bem, mas, não tolerava desrespeito. Também não poupava
ninguém de uma boa pegadinha.
Eu poderia encher um livro só com as
estórias engraçadas e curiosas que vivenciei ao lado de Pipiu, meu querido “Animá
de Bico”. Agora ele se foi, com mais de 90 anos muito bem vividos. Que Deus o
tenha em um bom lugar! Certamente ele e seu amigo e ídolo Gregório Barrios, já
estão organizando serestas lá no céu.
Gratidão e saudade, meu velho Piu! Até
breve!
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