* Comigo aconteceu...*
Vezes outras, mais raras, quando do primeiro encontro, atormenta-nos grande incógnita. Em tal caso, de forma instintiva, tornamos o encontro das mãos mais demorado, no esforço de decodificar quem, de fato, seja o recém-conhecido. Outrossim, tirante a importunidade de externar a dúvida, resta a alternativa de recorrer a terceiros versados em significados outros, figurinos distintos, digamos: foi o acontecido comigo, dia desses.
Para início de conversa, figuradamente, amparo-me em verso musical do tempo velho, “comigo aconteceu gostar da namorada de um amigo meu”. Parodiando-o, comigo aconteceu gostar de certa apresentação feita por um amigo meu, letrado e viajado, com o qual mantenho há milhares de dias, intensa convivência virtual.
Acesa a curiosidade, explico-me.
Ao ler texto do citado correspondente, ao referir-se a certas cogitações minhas, acudiu-me enorme ponto de interrogação, escrevera ele: “Para começarmos 2020 serendipitosamente ...”
Serendipitosamente!
Tipo mais estranho matutei e, antes de recorrer a meus dicionários, esforcei-me em decifrar tal sujeito com ares de nobreza e cara de lorde inglês, ao qual apertava a mão pela vez primeira. Esforço inócuo: nos ‘mata-burros’, nada vezes nada.
Tem jeito não, - pensei contrafeito – a solução será apelar ao Google, senhor de todos os saberes. Teclei pausada e sequencialmente: S... E... R... E... N... D... I... P, momento no qual, passe mágico, surgem opções para conhecer-se o ente batizado por Serendipitia.
Eureka! O apresentado, vestido de advérbio, substantivamente chama-se Serendipitia ou Serendiptismo.
Trata-se de anglicanismo, oriundo da palavra Serendipity criada pelo escritor britânico Horace Walpole, em 1754, a partir do conto persa “Os três príncipes de Serendip”. Em tal história infantil acontecem descobertas afortunadas, aparentemente, por acaso. Serendip foi o nome antigo do Ceilão, atual Sri Lanka.
Caracas! (In) diretamente o amigo mineiro, conhecedor do neologismo - turíbulo em brasa com incenso muito - valera-se do dito, de forma sutil, para elogiosa provocação.
Na santa ignorância dos acostumados a patinar em (des)dizeres alheios, boiei ante à ignorância da qual ora me redimo.
Parafraseando o poeta, ratifico, comigo aconteceu gostar de certa palavra de amigo meu. Assim, agradecido pela inusual apresentação, indutora ao prazeroso momento de narrá-la, divido o conhecimento com quantas e quantos me distinguirem com suas leituras.
Hugo A de Bittencourt Carvalho
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