Vida de repórter
Mas Jorjão não tá nem aí. Para ele, o importante é a notícia, a qualquer preço. Seguidor fiel dos ensinamentos do mestre Edval Souza, repete sempre: “Se não quer que a notícia seja divulgada, não deixe que o fato aconteça”. Ameaças não o intimidam, e por isso mesmo, volta e meia ele está metido em confusão. É a única pessoa que eu conheço que, quando ouve um tiroteio, em vez de se esconder pra evitar balas perdidas, corre pra cima, pra saber os detalhes do furdunço.
Certa vez, o editor mandou
Jorjão cobrir uma exposição de quadros de um artista plástico, que estava
expondo no saguão da Prefeitura Municipal. O tema da exposição era “Antônio
Conselheiro e a Guerra de Canudos”.
Jorjão chegou lá, entrevistou
o artista e, ao fim da entrevista, perguntou: “E o homenageado desta exposição,
Sr. Antônio Conselheiro, ele veio, está presente aqui”?
O artista, gozador, olhou em
volta e viu o reitor da Universidade, conversando numa roda de amigos, e disse:
“Veio sim, olhe ele ali” – apontando para o reitor. E lá se foi Jorjão
entrevistar “Antônio Conselheiro”. O reitor, também gozador, entrou no clima da
brincadeira e deu a entrevista. Só não foi publicada porque o editor teve o
cuidado de ler antes.
Jorjão, como eu disse, é um
repórter “furão”, mas muito desligado. E foi assim que certa vez eu fui fazer
uma matéria com Monsenhor Renato Galvão, e o encontrei muito aborrecido. “Ah!
Cristóvam, que bom que você apareceu. Eu estou aqui muito chateado com um
colega seu”. Que foi que houve, Monsenhor – perguntei. “É aquele seu colega
Jorjão, o tal que se chama de ‘repórter furão’, ele é mesmo é muito do
trapalhão”.
Quando insisti em saber a
causa do aborrecimento, ele me contou: “Ele esteve aqui ontem, porque hoje é
dia 19 de março, dia de São José, e ele queria saber sobre a tradição da missa
que celebramos todos os anos na catedral de Santana. Eu contei a história da
missa a ele, dizendo que ela remonta aos tempos de Padre Ovídio de São
Boaventura, etc, etc, etc, . Quando eu peguei o jornal para ler esta manhã, lá
estava a matéria dele dizendo que quem ia celebrar a missa de São José, era
Padre Ovídio. Pode uma coisa dessas?”.
NE: Publicada no livro A Levada da Égua & Outras Estórias...(2004)
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