segunda-feira, 19 de junho de 2023

Crônica de segunda

 

Mal entendidos

                Mal-entendidos podem ocasionar situações engraçadas, constrangedoras, fatais, até. Alguns, podem ser esclarecidos, outros nem tanto, a maioria, nunca. Um amigo meu, que trabalhava na Companhia de energia elétrica, durante uma Micareta, a grande Festa popular de Feira de Santana, andava pela avenida quando passou pelos camarotes, tocou na estrutura metálica e levou um choque. Algo estava errado. A estrutura estava energizada. Profissional preparado e consciente, ele procurou os responsáveis pelos camarotes e fez o alerta. E voltou pro meio da folia, que ele não estava trabalhando naquele dia. Era sua folga.

         Mais tarde, chovia um pouco, e ele passava pelo mesmo local onde identificara o problema. Uma jovem andava à sua frente e, como havia poças d’água no chão, ela resolveu se apoiar na estrutura do camarote para saltar para um lugar mais seco. A água potencializou o choque e ela ficou grudada na estrutura e a língua enrolou, sufocando-a. Percebendo o que acontecia, ele deu um empurrão nela, acho que até um soco mesmo, fazendo-a soltar e estrutura, depois de puxar a língua dela pra fora, começou uma respiração boca a boca.

         Coitado. A mãe da moça que vinha um pouco atrás, vendo aquela cena, começou a agredi-lo, pensando tratar-se de um tarado sexual. Por milagre não foi linchado pela multidão. Mas a moça, recuperada, esclareceu tudo e salvou a pele do seu salvador. Pelo menos, nesse caso, o mal entendido foi esclarecido. A mesma sorte não teve aquele médico que estava no motel com uma mulher casada, quando bateram à porta. Pensando tratar-se de um funcionário que havia falado com ele um pouco antes pelo interfone, abriu e deu de cara com o marido traído. Ele bem que tentou se explicar e veio com aquela velha estória do “não é nada do que você está pensando”. Não deu. Ou melhor, não houve briga ou morte, mas deu separação.

         Melhor sorte eu tive. Eu era adolescente e estudava à noite. Minha Irmã/madrinha/mãe, Ada, morava numa casa que fazia fundo com fundo com a casa dos pais dela, meus pais adotivos. Às vezes, quando voltava do colégio mais cedo, passava pra vê-la e conversar um pouco. E entrava pela porta da cozinha, que estava sempre aberta. Naquela noite, quando entrei, dei de cara com a porta fechada e não quis bater, pra não incomodar, e resolvi sair e ir direto pra casa. Foi quando o marido dela, Pipiu, que também é meu padrinho de crisma, chegou em casa. Ouvindo o ruído do carro entrando na garagem, eu me apavorei. Com a minha (má) fama de rufião de empregadas domésticas, ninguém iria acreditar que estava ali, àquelas horas, tentando fazer uma visita. E me escondi no quintal, esperando que ele entrasse em casa para que eu pudesse “escapar” e sair pela frente.

         Ledo engano. Ele resolveu procurar pelo empregado da casa e começou a chamá-lo, achando que ele estaria em seu quarto, no quintal, justamente onde eu estava escondido. Para minha sorte, ele entendeu que o empregado não estava em casa (ou estava no quarto da empregada, vai saber...), entrou e fechou a porta. Mais que depressa, com o coração aos pulos e suando, muito, escapei pulando o muro do jardim da frente da casa. Ufa!

Mas eu sou assim mesmo. Um sortudo. Dom Itamar Vian, ainda era o arcebispo da cidade, e havia me enviado um artigo seu para publicar numa edição especial da festa de Santana que eu estava fazendo. Enviou e viajou. Graças a Deus, eu sempre tive o hábito de ler tudo que eu iria publicar, mesmo que fosse um texto do Arcebispo. E foi assim que encontrei escrito no texto: “Sara, esposa de Raquel”. Êpa! Não podia ser. E agora Cristóvam? Mas graças aos meus conhecimentos bíblicos, vi que aquela passagem havia sido retirada do Livro de Tobias, que, aliás, eu gosto muito. Fui ao livro e lá encontrei: “Sara, esposa de Raguel...”. Vai confiar em computador! O danado não reconhecera “Raguel” e corrigiu para “Raquel”. Olha só a “fria em que eu iria entrar. Mas, como eu disse. Sou um Sortudo.


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