Deixando a vida acontecer
Talvez por ter sido abandonado pelo mau pai quando nasci. Talvez por ter sido criado por uma família cujo filho mais novo era mais de dez anos mais velho que eu. Talvez por ter demorado mais que o normal para fazer amigos. Eu não saberia realmente apontar uma causa, mas o fato é que nunca fui muto apegado à filhos. Criei e amei dando o melhor de mim. Gostava de estar com eles, brincar com eles, atender suas expectativas em relação ao que seria um pai. Mas sempre fui muito rígido, e não seria por ser meu filho que eu passaria a mão pela cabeça em questões disciplinares. Não é segredo que tenho dois filhos homens de um primeiro casamento, e uma mulher e um homem do segundo casamento, além de ter adotado um garoto quando já tinha dez anos, hoje, um homem casado e pai de um casal de filhos.
Com
nenhum deles fui muito cheio de “cuidados” no que diz respeito a viver. Afora
aquelas recomendações que até compete mais às mães, sobre como evitar
acidentes, respeitar as pessoas, fazer deveres da escola, etc. sobre viver
mesmo, eu deixava acontecer. Estava sempre atento pra que ninguém ameaçasse ou
abusasse dos meus filhos, mas lá entre os amigos deles, eu deixava que se
entendessem. Se faziam alguma besteira e se machucavam física ou moralmente, eu
sabia confortá-los e dizer: “Que lhe sirva de lição”! Sim. Porque o que não mata
ensina. Meus filhos brincavam na rua, tomando chuva e sol, caindo da bicicleta,
levando topada, ralando o joelho, quebrando o braço, pegando resfriado. Tudo
isso os fortaleceu. Exatamente como aconteceu comigo. Só quem me conhece bem
sabe o quanto minha saúde era frágil e a mudança que se operou em mim depois
dos 15 ou 16 anos.
Tudo isso para dizer o
quanto ando triste e preocupado com as nossas novas gerações. Converso com
alguns amigos e eles têm a mesma opinião. Nossa juventude é frouxa! Os pais
preocuparam-se mais em mimá-los do que os educar, preparando-os para a vida. É
triste ver uma criança de 4 ou 5 anos que não sabe se vestir sozinha. Uma moça
ou um rapaz de 12, 13 ou 14 anos que não
saiba preparar sua própria comida. Não sabem costurar, consertar alguma coisa
que se quebra numa casa, lavar a própria roupa. Vivem encastelados atrás de um
celular, computador ou algo que valha, ocupando-se apenas de futilidades.
Essa geração tem nas
mãos ferramentas poderosas para adquirir conhecimento, estudar, realizar
trabalhos, produzir algo de útil para si mesmos ou para ganhar dinheiro, mas
não aproveitam a oportunidade que a tecnologia moderna está lhes dando. Crescem
e se tornam analfabetos funcionais. Muitos enveredam pelas drogas ou pelo mundo
do crime. Vivem em busca de fama e dinheiro fácil, e quando não encontram, se
perdem. E mesmo aqueles que galgam alguma formação e conseguem bons empregos,
não se aventuram muito fora de suas casas ou locais de trabalho, vivendo isolados,
com medo, dentro de um mundo virtual. Se a vida, de verdade, os convocar para
viver, eles não saberão como. E perecerão.
NE: Publicada em 2021.
Um comentário:
Criei meus filhos com rigidez, mas sempre preocupada que aprendessem de tudo e estudassem.... hoje a nova geração não tem compromisso,não sabem fazer nada e faltam com educação... só sabem teclar...
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