No que estamos nos tornando
Li
certa vez sobre um japonês que disse que iria retirar sua conta de determinado
banco porque tudo lá estava automatizado e ele não interagia mais com pessoas,
que era a única razão para ele ainda ir àquele banco. “Agora é tudo muito frio,
impessoal, triste”, argumentava. Recentemente, uma amiga me passou algo que
alguém havia publicado nas redes sociais. Dizia o seguinte: “Passei uma hora no
banco com meu pai, pois ele teve que transferir um dinheiro. Eu não pude
resistir e perguntei:
- Pai, por que não ativamos seu banco pela Internet?
- Por que eu faria isso?
- Bem, então você não terá que passar uma hora aqui para coisas como transferência. Você pode até fazer suas compras online. Tudo será tão fácil.
- Se eu fizer isso, não terei que sair de casa?
- Sim. Até os alimentos podem ser entregues na porta
agora com a Amazon!
- Desde que entrei neste banco hoje, encontrei
quatro dos meus amigos, conversei um pouco com o pessoal que agora me conhece
muito bem. Você sabe que estou sozinho, esta é a companhia de que preciso.
Gosto de me arrumar e ir ao banco. Tenho bastante tempo, é o toque físico que
anseio. Dois anos atrás eu adoeci. O dono da loja de quem compro frutas veio me
ver e sentou-se ao lado da minha cama e chorou. Quando sua mãe caiu alguns dias
atrás durante sua caminhada matinal, o dono da mercearia local, onde compramos
rotineiramente, a viu e imediatamente pegou seu carro para levá-la para casa,
pois ele sabe onde eu moro. Eu teria aquele toque 'humano' se tudo ficasse
online? Por que eu iria querer que tudo fosse entregue a mim e me forçar a
interagir apenas com meu computador? Gosto de conhecer a pessoa com quem estou
lidando e não apenas o 'vendedor'. Isso cria laços de relacionamentos. A Amazon
oferece tudo isso também?
Tecnologia facilita a
vida, mas não oferece vida. Pessoas precisam de pessoas e não de equipamentos
tecnológicos. Você consegue se ver trocando reminiscências com o seu computador
ou um robô qualquer? O mundo está morrendo por causa das facilidades que
fizeram as pessoas solitárias e sedentárias. O homem é um animal social, vive
em grupos sociais e não sozinhos. Existem os ermitãos, mas eles são a exceção e
não a regra. Essa maldita pandemia, que teve muitos aliados entre os
governantes aspirantes a ditadores, enxotou todo mundo para dentro de casa,
excetuando-se apenas aqueles que não podiam deixar de trabalhar para não morrer
de fome, e aqueles que não queriam morrer de tédio, depressão e suicídio.
Me deixa triste saber
que existe uma legião de seres humanos vivendo solitários em suas casas,
interagindo com seus semelhantes apenas pelo telefone ou computador, sem sentir
o prazer de um abraço, ou simples aperto de mão. Existem os inconsequentes, que
se expõem em aglomerações desnecessárias sem mínimos cuidados protetivos para
evitar contrair o vírus chinês infernal. Esses são inconsequentes. Verdadeiros
suicidas que não dão o menor valor à vida. Mas existem aqueles que, como eu,
não perdem oportunidade de estar com seus semelhantes, desde que tomadas as
medidas de proteção necessárias. Basta um pouco de sensatez, coragem e
sabedoria para entender que só se morre no dia certo.
Como diziam os Vikings:
“Faça o que fizer, não viverá um segundo a mais do que está marcado no livro de
Odin (Deus)”.
NE: Publicada em agosto de
2021
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