Caminha estava certo

             Eu bem que gostaria de acreditar que o Brasil ainda tem jeito. Mas não dá. Todo dia, toda hora, nos chegam notícias de escândalos, roubos, assassinatos, em sua grande maioria promovidos por quem deveria dar o exemplo de vida honrada e honesta. Políticos, empresários, policiais, jornalistas e até religiosos quase sempre estão no centro de tudo isso. A ganância e crueldade humana estão atingindo níveis insuportáveis no Brasil.

            Aqui, no interior da Bahia, uma mulher, por pura inveja, dopou e estrangulou e enterrou no quintal da própria casa, uma menina de 09 anos. Ali, jovens atearam fogo em dois moradores de rua em troca de alguns poucos Reais que um comerciante lhes oferecera. Acolá, gente da elite social é presa pela polícia por formação de uma quadrilha que vendia alimentos para presídios pelo triplo do preço do mercado, emitia notas frias e não entregava a mercadoria. E assim caminha a sociedade.

            O dinheiro manda em tudo. Compra tudo, inclusive legisladores, executores e defensores da lei. Os valores éticos e morais estão totalmente invertidos. É respeitado quem rouba mais, quem mata mais, quem é mais esperto e ganancioso. Não há respeito por gente honesta. “Otários”, é assim que são chamados os que optam por uma vida honrada, mesmo que simples.

            Eu vivo me perguntando por que a maioria das pessoas prefere viver no inferno que no paraíso. O que há de errado em trabalhar, receber o justo pagamento pelo trabalho feito, e viver uma vida dentro dos padrões que seu trabalho permite? E por que tanta gente quer viver e ganhar dinheiro sem trabalhar? Eu até entendo a revolta daqueles que trabalham e sempre procuram um jeito de burlar o fisco. Afinal, a carga tributária imposta pelos governos e escorchante e a população não recebe de volta os serviços pelos quais paga tão caro. Mas a insanidade vai mais além. E eu continuo me perguntando: Por que?

            Na falta de uma explicação melhor eu fico com a que foi dada pelo personagem Sandoval Quaresma, da Escolinha do Professor Raimundo, do humorista Chico Anísio. Questionado sobre quem foi Pero Vaz de Caminha, o aluno respondeu que foi o escrivão que chegou ao Brasil com a frota de Cabral, e que escreveu uma carta ao rei de Portugal, dizendo que a terra era boa e generosa, e que, em se plantando, tudo dá. “E para azar nosso ele estava certo”, completou o estudante. O professor quis saber por que, e ele esclareceu:

            “É que na frota de Cabral vieram dois ladrões. Aqui eles pegaram uma doença tropical e morreram. E foram enterrados aqui no Brasil. Como aqui, em se plantando tudo dá, é por isso que nasce ladrão a torto e a direito em todo País até o os dias de hoje”.  Faz sentido.