quinta-feira, 8 de março de 2012

“A hipocrisia do Dia Internacional da Mulher”


 Os programas de notícias hoje já iniciaram tocando aquela velha música de Erasmo Carlos  "Mulher" (eu a escuto nesta data ha cerca de 30 anos). Dai me fez lembrar deste artigo que foi escrito ha três anos.  Como até hoje nada mudou, inclusive a minha opinião sobre o assunto, vou republicá-lo, até mesmo porque sei que pouca gente leu, quem sabe hoje mais uma meia dúzia o faça.

Quando Cristóvam me pediu para pesquisar sobre o dia internacional da mulher, comemorado no dia 8 de março, me deparei com inúmeros textos, mensagens, poemas, alusivos a data. Dentre os textos tinha um intitulado “A hipocrisia do Dia Internacional da Mulher”, no qual o autor fala que os idealizadores da data certamente tiveram as melhores intenções ao adotar o dia 8 de março de 1857 como um marco. Mas, o que não pode deixar de ser comentado, é o que aconteceu desde então com esta “boa intenção”.

Durante todo o dia 08 de março, ou nos dias da semana que o antecedem, muitas rádios tocam músicas alusivas à mulher; jornais, blogs e sites publicam textos emocionados sobre a força e a beleza da mulher; peças publicitárias falam da data, parabenizando as mulheres heroínas; Algumas felizardas encontrarão flores em suas mesas de trabalho e outras, com certeza, receberão mensagens daqueles serviços horríveis de telemensagem.

Não há nada de errado nisso. É muito bom recebermos presentes, homenagens e toda demonstração de carinho dos homens numa data tão importante. Mas, se este homem é um patrão que parabeniza sua funcionária pelo dia dela e depois oferece aquela promoção ao funcionário menos capacitado, que o acompanha naquela cervejinha depois do expediente, ele é um hipócrita! Se este homem parabeniza sua esposa pelo dia dela, mas chega em casa e se esparrama no sofá enquanto ela cumpre sua jornada tripla de trabalho, ele é um hipócrita! Se cumprimenta todas as suas amigas, mas passa o restante do ano tendo o mesmo comportamento machista de sempre, ele é um hipócrita! O homem que não se posiciona de verdade, com sinceridade e desprendimento, frente a questões importantes da feminilidade e da relação entre os sexos deveria ter ao menos a dignidade de não ficar repetindo o clichê de “parabéns pelo seu dia”.

O Dia Internacional da Mulher deve ser mesmo para refletirmos sobre as conquistas da mulher, e para reivindicar nossos direitos, lutar por maiores conquistas! Porém, por incrível que pareça, não o é! Essa data comemorativa não é hipócrita só porque os homens agem assim. Ela é hipócrita em si, assim como todas as datas do gênero. Se não houver uma reflexão crítica a respeito do significado de cada ato, mesmo o mais bem intencionado militante passa a ser apenas engrenagem que ajuda a mover o próprio sistema que combate. As mais justas reivindicações são absorvidas pela ordem social vigente, e nada muda. O problema é que datas assim limitam essa reflexão. Com raríssimas exceções, a reflexão que poderia levar à mudança fica restrita a um dia pré-determinado. Todas as reivindicações são feitas com maior intensidade na data estipulada, existem os discursos e discussões, mas no dia 9 de março as mulheres continuam sujeitas a jornadas triplas de trabalho; continuam trabalhando 50% mais que homens, na mesma função, para ganhar 50% menos; continuam objeto de valores ditatoriais (da beleza, por exemplo); continuam vítimas de violência, sofrendo todo tipo de intimidação.

Sinceramente, o dia internacional da mulher, tal qual é hoje, é irrelevante e desnecessário. As necessidades das mulheres, de igualdade e dignidade, além das econômicas, são muito maiores do que uma data pode comportar, e de nada adianta discutirmos isso no dia 8 de março e ficarmos anestesiados até o próximo ano. Para mudar isso precisamos de menos simbolismo e mais ação.

Maura Sérgia - 08 de março de 2009


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