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Cristóvam Aguiar |
Ouvi uma mulher dizer a amigos na mesa de
um bar que moradores de uma cidade, revoltados com alguma falcatrua cometida
pelo prefeito, foram até a casa do mesmo para linchá-lo. Não o encontrando,
quebraram e viraram um carro dele que estava estacionado na rua e tocaram fogo
na casa.
Segundo ela, essa deveria ser a postura
de toda população em relação aos políticos desonestos. E acrescentou: “Não está
certo sair por aí quebrando e queimando o patrimônio de quem não tem nada com
as safadezas dos políticos, nem tampouco destruir nossas escolas e hospitais,
porque o prejuízo nesse caso é nosso. Vamos dar prejuízo a eles (os políticos)”
Concordo plenamente. Aliás, quando o
povo foi às ruas protestar contra os desmandos do governo federal, indivíduos
patrocinados por partidos políticos, infiltraram-se no movimento para praticar
todo tipo de desordem. Logo apareceram então os julgadores para taxar todos que
estavam nas ruas de “vândalos”. Esses
“julgadores”, muitos até da chamada “grande imprensa” (que de grandeza não tem nada),
são aqueles que defendem seus próprios interesses ou nada fazem e ficam
esperando que alguém resolva as coisas por eles. Não tomam nenhuma iniciativa
para exigir seus direitos e ficam acomodados em suas casas esperando que as
coisas se resolvam.
Quando eu vi o povo nas ruas e
começaram as acusações de vandalismo, eu comecei a me questionar se eu não
deveria também estar nas ruas. Me incomodou o fato de que outras pessoas
estavam lutando por uma causa que também era minha. Quando aquele adolescente foi
preso porque o rojão que ele soltou atingiu o cinegrafista da rede Bandeirantes
(que veio a falecer), eu não vi um delinquente com instinto assassino. Vi um
garoto assustado, que de repente tomou consciência da besteira que fez e sabia
que tinha arruinado sua vida porque fora manipulado e induzido a praticar
vandalismo por alguns trocados.
Vi mais além. Vi um garoto de 14 anos
que, em 1968 saía da sua casa em Feira de Santana, sob o pretexto de visitar a
mãe, e engrossava as passeatas estudantis em Salvador, para protestar contra os
desmandos do regime militar. Aquele garoto era eu. Idealista, sem ser pago por
ninguém, movido apenas pelos meus ideais libertários. Eu poderia ter sido
preso, espancado ou morto, e seria apenas mais um subversivo morto enquanto
praticava vandalismo pelas ruas da Capital baiana. Quem sabe até um perigoso
guerrilheiro comunista patrocinado pelo “ouro de Moscou”.
Hoje eu me pergunto: Quem são os
verdadeiros vândalos? Aqueles que vão às ruas pacificamente exigir que os
políticos trabalhem e deixem de roubar? Ou aqueles que patrocinam bandidos para
desacreditar um legítimo movimento democrático de uma população? Não seriam os
verdadeiros vândalos aqueles que desviam o dinheiro dos nossos impostos para
suas contas pessoais e deixam nossos filhos sem escolas e nossos enfermos
morrendo nas portas dos hospitais?
Não são vândalos os mensaleiros,
petroleiros, sanguessugas, anões do orçamento, marajás, ou seja lá que nome já
tiveram políticos ladrões de toda coloração partidária ao longo da história recente do nossos País?
Estou envelhecido e meio cego, não
sirvo mais para estar nas frentes de batalha. Mas acreditem. Se pudesse,
estaria no front a impingir pesadas perdas a estes ladrões. Porque não é digno
da paz quem não guerreia por ela.
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