O índice de inflação divulgado pelo
IBGE nesta sexta-feira mostrou o que muitos brasileiros já estão há
algum tempo sentido no bolso - uma aceleração da alta de preços.
Em
2014, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 6,41%, uma
alta de 0,5 ponto percentual em relação à inflação de 2013 (de 5,91%).
Foi a maior alta anual de preços desde 2011, quando a inflação ficou em
6,5%.
O resultado ficou abaixo do teto da meta definido pelo Banco
Central (de 4,5% com margem de dois pontos percentuais para cima e para
baixo), mas o ano já começa com economistas e analistas de mercado
prevendo uma inflação acima da meta em 2015 (6,56%).
"A inflação
de dezembro (de 0,78%), ainda que maior que a de novembro (0,51%),
acabou levando o índice para baixo por uma questão estatística: em 2013
os preços haviam subido muito no mesmo período (0,92%). Foi isso que
segurou o índice de 2014 nesse final de 2014. Mas em 2015 haverá uma
pressão muito grande dos preços administrados, então será ainda mais
complicado cumprir a meta", diz o economista Paulo Picchetti,
especialista em índices de inflação da Fundação Getúlio Vargas.
Quer
saber como proteger seu dinheiro da alta de preços e fazer o salário
voltar a sobrar no fim do mês? A BBC Consultou analistas financeiros e
economistas que sugerem sete estratégias:
1) Invista
Quanto
maior a inflação, mais se perde ao deixar o dinheiro poupado parado e
maior deve ser a remuneração de um investimento para que se consiga
obter ganhos reais com ele.
Diante da atual volatilidade do
cenário econômico, muitos analistas financeiros têm recomendado
investimentos em renda fixa, como títulos do tesouro ou fundos de
investimento e outros produtos financeiros atrelados a esses títulos
(LCI, LCA e CDB).
"E como a expectativa é que os juros parem de
subir entre abril e meados do ano, a preferência seria pelos
pré-fixados", diz Michael Viriato, professor do Insper.
A
poupança, apesar da vantagem de ser isenta de Imposto de Renda e taxas
de administração, perde cada vez mais atratividade com a alta dos juros.
"No ano passado, por exemplo, quem investiu em poupança teve um ganho
real de cerca de 0,6%, quase nada", diz Viriato.
Para o economista
e consultor financeiro William Eid, uma opção para quem tem mais
recursos (mais de US$ 100 mil) é investir em títulos brasileiros no
exterior. "Diversas empresas emitem títulos no exterior", diz ele. "Além
da proteção contra inflação, ainda temos a proteção cambial."
No
passado os imóveis já foram considerados uma boa proteção contra a
inflação. Para Eid, porém, as perspectivas ruins para o crescimento da
economia, que devem frear o mercado imobiliário, tornam a opção menos
atrativa.
"Os imóveis foram um bom investimento há alguns anos
porque se valorizaram bastante, mas isso foi algo pontual. Hoje não
recomendo como investimento", concorda Viriato.
2) Negocie aumentos
Para
que o dinheiro continue (ou comece) a sobrar no final do mês, mesmo com
a alta dos preços, especialistas recomendam que, sempre que possível,
se negocie os aumentos de produtos e serviços consumidos.
"É claro
que você não pode pechinchar o preço da carne em um supermercado, mas
talvez possa fazê-lo em um mercado de bairro em que compra com
frequência", diz Mauro Calil, consultor financeiro e fundador da
Academia do Dinheiro.
“Se os aumentos da escola de seu filho não
são razoáveis – se são de 10%, 20% muito mais altos que a inflação
oficial (de 6,41%), vale a pena se juntar com outros pais para
questionar o porquê desse aumento e pedir uma redução”, diz o economista
Samy Dana, da FGV.
“Afinal, seu salário não vai subir tudo isso.”
3) Pesquise preços
Nos
tempos de hiperinflação, nos anos 80 e 90, era preciso correr de uma
loja a outra para pesquisar preços. E muitas vezes ao concluir qual o
local mais barato, o consumidor era surpreendido por um reajuste de
preços no local.
Hoje, não só a inflação em patamares mais baixos
facilita a comparação, como a internet é um grande aliado de quem quer
se proteger da alta de preços.
"Pesquisar preços é uma tarefa que
todo consumidor deve fazer antes de ir as compras - e hoje, com a
internet, isso está muito mais fácil ", diz Dana.
Ele diz que hoje
as pessoas podem não só entrar no site das empresas para conferir
preços, como também há uma série de apps e sites em que as pessoas podem
comparar diversos lugares (como o Buscapé, Zoom e Dica de Preços, para
mencionar alguns exemplos).
4) Adie compras
Muitos
comércios fazem promoções depois de datas festivas. Por isso, comprar o
que você precisa em janeiro, em vez de dezembro, pode significar preços
bem mais baixos.
Segundo os analistas, quanto mais um consumidor
adiar a compra melhor - e não só por causa da possibilidade de conseguir
promoções.
"Muitas vezes as pessoas não compram por necessidade, mas por impulso", diz Viriato, do Insper.
"Ao
esperar um tempo antes de comprar elas têm a chance de perceber se
realmente precisam - ou querem - fazer a aquisição. Além disso, com mais
tempo para pesquisar podem descobrir que a compra não era um bom
negócio."
5) Substitua itens de consumo
Uma
forma de reduzir o impacto da inflação sobre o seu orçamento é cortar
os produtos que você percebe que estão ficando mais caros e
substituí-los por outros produtos ou similares de outras marcas.
É
claro que ninguém é obrigado a substituir carne por frango ou ovo -
sugestão feita pelo ex-secretário de política econômica do Ministério da
Fazenda Márcio Holland, que causou grande polêmica no ano passado.
"Mas
cada um pode fazer uma análise de seu perfil de gastos para entender
quais produtos e serviços são de fato importantes em sua vida e quais
são o que eu chamo de 'gastos tolos', ou seja, aquelas coisas em que as
pessoas acabam gastando muito, mas que não lhes trazem um bem-estar
duradouro", diz Calil.
"São esses gastos que devem ser cortados ou substituídos."
Viriato, do Insper, dá o exemplo do item "alimentação fora de casa" um dos que mais subiu no ano passado, segundo o IBGE.
"Pode
ser difícil para o trabalhador levar almoço para o trabalho - ele vai
ter de cozinhar, transportar e guardar o almoço em algum lugar. Mas se
ele conseguir levar ao menos o lanche, provavelmente terá mais dinheiro
no fim do mês", diz.
6) Compras coletivas
Segundo
Dana, outro recurso que pode ajudar os consumidores a driblar a alta de
preços são as compras coletivas nos clubes de compras e 'atacarejos' -
lojas que vendem no atacado para pessoas físicas.
Tais lojas
oferecem um preço bem mais vantajoso para compras de grande quantidade.
"Muitas famílias estão se juntando para poder comprar nesses lugares sem
ter de ficar com um estoque gigantesco em casa", diz ele.
De
acordo com a consultoria Nielsen, no primeiro semestre do ano passado,
as vendas nos atacarejos cresceram 9% em relação a 2013.
Os preços
seriam menores que os do varejo em 69% dos itens pesquisados pela
Nielsen. E, segundo Calil, podem chegar a ser 30% mais baixos.
Um
dos cuidados que devem ser tomados por quem adota por essa opção, porém,
é checar o prazo de validade dos produtos. Também é preciso considerar
que alguns clubes de compras cobram uma anuidade de seus associados.
7) Estoque produtos baratos
Para
alguns consultores, vale a pena comprar em grande quantidade um produto
que a família consome com frequência se ele for encontrado em promoção.
"Se
você tem um bebê, numa promoção cada fralda de um pacote pode sair por
menos de R$ 1, por exemplo, metade do que você pode chegar a pagar se
tiver de comprar o produto na urgência, em uma farmácia de bairro. Então
vale a pena estocar", diz Calil.
É claro que não é todo produto que pode ser estocado. E também é preciso medir bem as quantidades, para evitar o desperdício.
"A
inflação que temos hoje ainda está muito longe da inflação que vivemos
nos anos 80, então não podemos exagerar ao fazer estoque", diz Viriato.
"No
caso da carne, por exemplo, provavelmente os custos de se ter um
freezer para manter o alimento seriam altos. Além disso, às vezes a
família consome ou desperdiça mais porque sabe que a dispensa está
cheia." (BBCBrasil)
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