Em 1840, a
inglesa Anna Maria Russell era duquesa de Bedford (cidadezinha a 80 km de
Londres) e grande amiga da então rainha da Inglaterra, Victoria. Nada de
marcante para a história, se não fosse o fato de ela ter um apetite
particularmente insaciável. A lady não conseguia esperar até as pontuais 19h30,
quando o jantar era servido. A saída, então, era bater uma boquinha durante a
tarde. Sempre que estava com a duquesa, a soberana pedia para que os criados
preparassem uns biscoitinhos e uma xícara de chá, para que a fome da amiga
fosse apaziguada. Virou costume até mesmo fora dos palácios reais. Foi assim
que nasceu um marco da cultura britânica, a hora do chá. Só que agora, quase
180 anos depois, uma outra bebida está, literalmente, movimentando a
Inglaterra. O café está sendo usado como combustível para outro símbolo inglês:
os vermelhos ônibus de dois andares.
Atualmente
cerca de 9.500 ônibus desse tipo circulam por Londres. Na prática, isso
significa que 240 milhões de litros de diesel são queimados anualmente. Um
baita problema de saúde pública. O prefeito da cidade, Sadiq Khan, já chegou a afirmar que
“anualmente mais de 9 mil londrinos morrem prematuramente por causa da baixa
qualidade do ar”. Khan ainda relacionou a poluição com a má formação de pulmões
em crianças londrinas e disse que “condições como asma, demência e derrames em
adultos, são diretamente ligadas à qualidade do ar”.
A solução está
em criar formas menos poluentes de movimentar os ônibus. A mais nova saída é
fruto de uma parceria entre a petrolífera Shell e a start up Bio-bean:
adicionar grãos de café ao diesel. Um primeiro lote de 6 mil litros de
biodiesel foi produzido, e esse montante seria suficiente para alimentar um
ônibus durante um ano todo – menos que um quarto da quantidade de diesel
necessária. A ideia é que os produtores passem em cafés espalhados pela cidade
e recolham os restos dos processamentos, para misturar com o combustível.
Diminuindo também o lixo orgânico proveniente da bebida. “O combustível tem uma
alta concentração de óleo, e 20% do peso dos cafés descartados consegue ser
reaproveitado”, afirmou Arthur Kay, fundador da Bio-bean, em entrevista ao
jornal britânica The Independent “É bastante
animador fazer biodísel com esses elementos”, completou.
Mas, se você
está ansioso para saber como isso vai afetar o aroma da cidade, não
adianta se animar muito: próxima vez que você for visitar o Big Ben,
dificilmente vai sentir um cheirinho de café. Quando misturado com o
combustível fóssil, a fumaça saída dos ônibus tende a ser inodor. Infelizmente
para os viciados em cafeína, claro. (Super Interessante)
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