
O cidadão sempre foi a opinião publicada, por outros, afinal, exceto em
momentos esparsos de conflitos revolucionários, raramente ele
encontrava maneiras de representar sua opinião. O advento da internet e
sua filha serpente- as redes sociais- tornaram cada cidadão uma opinião
pública, frequentemente inconciliável com as demais e que reage,
geralmente de modo feroz, quase irracional e até violento, a qualquer
discordância ou tentativa de contra-argumento.
Alguns acham que as redes sociais deram origem a esse modelo
fragmentado, reacionário, jacobino e eivado de rancores. Não acredito.
As redes não inventaram um novo humano, um cidadão anti-social, com
fragmentos de cérebro reptiliano e que mais reage que analisa. É o
mesmo, lamentável, humano de sempre, com suas pulsões freudianas em
plena efervescência, a achar que sim, o inferno são os outros.
Apesar do Papa ter desmentido a existência do inferno, recentemente,
sabemos que ele está por aí, como antítese a toda ação positiva humana.
Assim, os aspectos negativos da rede advindos dessa desnudação pública
do comportamento humano, estão aí para contrabalançar sua ação positiva.
Uma delas é a exposição continuada das entranhas do poder, em suas
piores ações, gerando uma resposta da opinião pública - e não mais,
apenas, da opinião publicada, com seus interesses próprios- criando um
novo protagonista entre os três poderes.
No cenário, brasileiro, atual, a essa exibição, o poder Legislativo
tem respondido com covardia e indiferença para tentar preservar seu
status quo de patrimonialismo e devassidão ética; o Executivo, continua
agindo nos bastidores a favor dos seus, mas só franco-atirador seria
capaz de não se importar com a voz rouca dos teclados, e o Judiciário
assume o protagonismo de legislar e combater as mazelas alheias, sem
olhar as suas.
O certo, no entanto, é que o compartilhamento do poder com o cidadão é
uma marcha irreversível da humanidade. Nada será como antes e nunca mais
haverá, somente, a opinião publicada. Só não temos certeza, ainda, que o
protagonismo da opinião pública, sem filtro, não é o inferno
anunciado..
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