Muita
gente acredita que a luta contra a obesidade é apenas uma questão de força de
vontade para manter uma dieta, mas as pesquisas médicas mais recentes sugerem o
contrário.
O
documentário da BBC The Truth About Obesity ("A Verdade Sobre a
Obesidade", em tradução livre), elenca cinco fatores que podem estar
afetando o seu peso sem que você saiba.
1. O seu microbioma
O corpo
humano é repleto de micro-organismos – há mais células de bactérias, fungos e
vírus presentes em nosso organismo do que células humanas. Em número, os
micro-organismos são 57% das células no corpo humano, embora as células humanas
sejam maiores e representem mais massa e volume.
O
entendimento científico dominante hoje é que esses micro-organismos – o chamado
microbioma – têm um papel enorme em diversos fatores na nossa vida e na nossa
saúde, incluindo o peso.
Afinal, a
maior parte desses organismos estão no nosso sistema digestivo.
"Quanto
maior a diversidade de microorganismos, mais magra é a pessoa. Se você tem
sobrepeso, seus micróbios não são tão diversos como deveriam ser", explica
o epidemologista Tim Spector, do King's College, em Londres.
Um
exemplo são as gêmeas Gillian e Jackie: são muito parecidas, mas uma tem 41
quilos a mais do que a outra.
Spector
acompanhou a saúde das duas durante 25 anos como parte do projeto de pesquisa
Twin Research UK, que registra gêmeos no Reino Unido. Ele diz que a diferença
de peso entre as irmãs se deve às diferenças em suas faunas microbianas.
Uma
análise das fezes das gêmeas mostra que Gillian, a mais magra das duas, tem uma
gama muito mais diversa de micróbios, enquanto Jackie tem poucas espécies de
microorganismos vivendo em seu intestino.
Um estudo
feito por Spector com 5 mil pessoas mostra resultados similares.
Direito
de imagem iStock/Getty Images Image caption O microbioma afeta o peso
Diversos
fatores afetam a diversidade dos micro-organismos no corpo humano – do tipo de
parto aos antibióticos usados durante a vida.
Parte dos
microorganismos são herdados da mãe, durante o parto normal. Outros são
adquiridos no ambiente. Mas a maior parte vêm – e se prolifera – pela
alimentação.
"Toda
vez que você come, alimenta cem bilhões de micróbios. Você nunca janta
sozinho", diz Spector.
Uma dieta
rica em fibras, por exemplo, ajuda o microbioma intestinal a se desenvolver de
maneira saudável.
2. A loteria dos genes
Porque
algumas pessoas seguem dietas rigorosas e fazem exercício regularmente e mesmo
assim sofrem para conseguir perder peso, enquanto outras se alimentam mal e são
sedentárias, mas continuam magras?
Pesquisadores
da Universidade de Cambridge dizem que os genes que herdamos têm uma influência
de 40% a 70% sobre nosso peso.
"É
uma loteria", diz a médica Sadaf Farooqi, pesquisadora da Universidade de
Cambridge. "Os genes estão envolvidas na regulação do peso e – se você tem
uma falha em alguns genes, isso pode ser suficiente para estimular a
obesidade."
Certos
genes afetam o apetite – da quantidade de comida que se tem vontade de comer ao
tipo de alimento que alguém pode preferir. Outros afetam a forma que queimamos
calorias e se nossos corpos administrarão a quantidade de gordura de maneira
eficiente.
Há pelo
menos 100 genes que podem afetar o peso, incluindo um chamado MC4R. Acredita-se
que uma em cada mil pessoal tenha uma mutação no MC4R, que afeta a fome e o
apetite. As pessoas com essa mutação tendem a ter mais fome e comer comida mais
gordurosa.
"Realmente
não há nada que se possa fazer em relação aos genes. Mas, para algumas pessoas,
saber que os genes as predispõem a engordar pode ajudar a lidar com a questão
da dieta e dos exercícios", explica a pesquisadora.
3. A rotina
Há um
fundo de verdade no velho ditado: "tome café da manhã como um rei, almoce
como um lorde e jante como um mendigo".
O médico
James Brown, especialista em obesidade, diz que quanto mais tarde comemos,
maior a probabilidade de que ganhemos peso. Não porque estamos menos ativos à
noite, como muitos acreditam, mas por cuasa de nosso relógio biológico.
"O
corpo humano está programado de forma que manejamos com maior eficiência as
calorias durante o dia, quando há luz, do que à noite, quando está
escuro", explica ele.
Durante a
noite, nosso corpo tem mais dificuldade de digerir gorduras e açúcares.
Na última
década, a hora do jantar no Reino Unido, na média, passou das 17h para as 20h –
e isso contribuiu para o aumento nos níveis de obesidade do país, segundo
Brown.
4. O efeito visual
O
pesquisador britânico Hugo Harper, que pesquisa comportamento, diz que existem
formas de mudar o comportamento alimentar insconciente em vez de apenas contar
calorias.
Uma
estratégia, diz o especialista, é eliminar as tentações visuais. Isso pode ser
mais efetivo do que confiar na nossa força de vontade consciente.
Portanto
é recomendável simplesmente não ter alimentos pouco saudáveis em casa, no
ambiente de trabalho ou na bolsa.
É melhor
ter sempre uma fruta ou algo leve por perto, caso tenha fome do caminho para
casa ou no trabalho. Na cozinha, deixar os alimentos saudáveis à vista também
aumenta as chances de você consumi-los.
Segundo
Harper, temos uma tendência de comer sem pensar. Então uma boa ideia é tentar
evitar ao máximo o hábito de comer coisas pouco saudáveis
"automaticamente" – escondendo comidas gordurosas ou muito doces ou
mesmo diminuindo o tamanho do prato.
5. Os hormônios
Nosso
apetite é controlado por hormônios, cuja produção pode ser afetada por diversos
fatores.
Alguns
dos tratamentos para níveis extremos de obesidade funcionam também por
controlar os hormônios.
O
resultado da cirurgia bariátrica, por exemplo, não se deve apenas à redução do
estômago do paciente, mas também ao efeito que ela provoca na produção de
hormônios.
A
cirurgia bariátrica faz com que os hormônios da saciedade sejam produzidos em
maior quantidade e reduz a produção dos hormônios que causam fome.
No
entanto é uma operação arriscada, usada apenas em casos graves de obesidade.
Pesquisadores
do Imperial College, em Londres, conseguiram recriar os hormônios que provocam
a mudança do apetite após cirurgias do tipo com o objetivo de fazer um estudo
clínico sobre isso.
A
pesquisa envolve dar aos pacientes, com uma injeção, uma mistura de três
hormônios. Eles são utilizadas todos os dias, durante quatro semanas.
"Eles
sentem menos fome, estão comendo menos e perdendo entre 2 a 8 quilos em menos
de um mês", explica a médica Tricia Tan, que participa do estudo.
Ainda é
preciso fazer mais testes para comprovar que o tratamento é seguro. Se for o
caso, o plano é tratar os pacientes até que alcancem um peso saudável.(BBCBrasil)
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