Uma notícia
chega por mensagem de WhatsApp, mas é impossível clicar no link que a
acompanha. Sem acesso à internet, o usuário acaba lendo apenas o título.
A situação
acontece com parte dos brasileiros, usuários de planos de celular que dão a
possibilidade de usar aplicativos como o Facebook e o WhatsApp, entre outros,
sem que seu uso seja descontado do pacote de dados do consumidor e mesmo quando
os dados de internet do celular acabam.
Isso significa
que, terminado o pacote de dados, o usuário só pode acessar esses aplicativos,
mas não pode abrir links, fazer uma simples pesquisa na internet ou ler
notícias em portais de jornalismo ou de outras fontes.
A prática de
prover dados ilimitados e sem custo para determinados aplicativos - que podem
ser redes sociais, aplicativos de streaming de música ou vídeo, programas de
navegação, entre outros - é chamada de "zero rating". Muitos países,
como o Brasil, permitem o zero rating, prática que divide opiniões.
De um lado, há
quem acredite que zero rating beneficia os consumidores, principalmente os de
baixa renda, já que lhes dá acesso gratuito à internet por meio de alguns
aplicativos e, portanto, aumenta como um todo o seu acesso à internet. E, se os
consumidores são grandes usuários de redes como o WhatsApp, por que não lhes
dar acesso ilimitado ao aplicativo?
De outro lado,
está quem pensa justamente o oposto: que acessar a rede só por meio de
determinados aplicativos acaba restringindo o acesso do usuário a todo o
conteúdo disponível na internet.
Agora, alguns
especialistas também estão associando essa prática à potencialização de notícias
falsas, tema que vem sendo amplamente debatido desde as eleições americanas em
2016 - no Brasil, visto com preocupação na escalada para as eleições de 2018.
No país, Facebook e WhatsApp são apontados como os principais meios por onde as
notícias falsas são espalhadas.
"A gente
fala muito de 'fake news', mas não fala de acesso à internet. A web é uma
coisa, aplicativos são outra", diz Yasodara Córdova, pesquisadora da
Digital Kennedy School, da Universidade de Harvard, nos EUA, e uma das
primeiras vozes no Brasil a chamar atenção para a ligação entre a difusão de
notícias falsas e o zero rating.
"Não há o acesso aberto e livre da notícia. O
acesso é clipado. Se o consumidor quiser checar e não tiver volume de dados,
não vai conseguir nem mesmo entrar no site da empresa de mídia que publicou a
notícia, quem dirá em outros sites de outras empresas de mídia", opina
Flávia Lefèvre, advogada da Proteste (ONG engajada na defesa dos direitos do
consumidor) representante da sociedade civil no comitê gestor da internet no
Brasil.
Segundo
Córdova, ter acesso à internet só por meio de aplicativos "influencia como
as pessoas recebem e entendem as notícias". "Quando você vê uma
notícia no Facebook e não entra nela, lê só um link com o título. No jornal ou
no site, tem a contextualização toda, que é muito importante."
Há
pesquisadores que destacam, no entanto, que mesmo com acesso à toda a internet,
as pessoas não costumam clicar em links, de qualquer forma.
Acesso
Mas quantos consumidores utilizam a internet dessa
forma em seus celulares? As operadoras telefônicas no Brasil não divulgam
quantas pessoas são adeptas a esse tipo de plano de celular.
Há alguns dados, contudo, que ajudam a traçar um
panorama para entender hábitos do uso de internet e celular no Brasil.
As classes mais baixas, por exemplo, só têm acesso
à internet pelo celular. Dados de 2016 do Cetic.br (Centro Regional para o
Desenvolvimento da Sociedade da Informação) mostram que, enquanto nas classes A
e B a maioria das pessoas acessam a internet tanto pelo computador quanto pelo
celular (85% e 74%, respectivamente), nas classes C, D e E é mais comum ter
acesso à internet somente pelo celular (46% das pessoas da classe C e 76% das
pessoas das classes D e E).
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) Contínua de 2016, do IBGE, mostram que a atividade mais
popular entre os brasileiros, ao usar a internet, é trocar mensagens por meio
de aplicativos - 94,5% dos brasileiros responderam que usam a internet para
fazer isso. Provavelmente, a maior parte deles utiliza o WhatsApp, aplicativo
de mensagens mais difundido no Brasil.
Click no link e leia matéria completa no BBCBrasil
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