segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Nas ondas do Rádio

A expressão Beck Ground, abreviada para BG pelos locutores apresentadores de rádio, significa “música de fundo”. Em geral ela fica tocando baixinho enquanto o locutor fala. Se ele faz um pequeno intervalo na fala, em geral o operador de áudio aumenta o volume do BG e a um sinal do locutor ele abaixa o volume e o locutor segue falando.

Antigamente o locutor ficava separado do operador por um vidro e a comunicação entre os dois se dava através de sinais. Por exemplo: levanta a mão, significa “aumentar o BG”. Da mesma forma que, abaixar a mão significa baixar o volume do BG. Hoje em dia os estúdios das emissoras juntam locutor e operador na mesma sala, isso quando o profissional não executa os dois papéis, virando locutor e operador ao mesmo tempo. Ou seja, ele trabalha por dois, mas, recebe por um. São tempos bicudos.

E foi assim que há cerca de uns 30 anos ou mais, o frade capuchinho que fazia a reflexão matinal, às seis horas da manhã, estava no estúdio com um operador novato, que geralmente era um seminarista que eles treinavam para tal mister. A fazer uma pequena pausa para reflexão, o operador aumentou o volume do BG. Quando o frade foi retomar a fala, fez sinal, abaixando a mão, para que o operador baixasse o volume do BG.

Qual não foi sua surpresa quando viu o operador se ajoelhar e juntar as mãos, contrito em oração.

São estórias curiosas, geralmente divertidas, que se conta entre radialistas e jornalistas quando se reúnem para alguma “resenha”, termo este que usamos quando estamos “fofocando” entre colegas. Geralmente são mancadas, pegadinhas, erros, enfim, uma espécie de “falha nossa” que todos nós cometemos, principalmente, os novatos, as melhores vítimas para as pegadinhas e gozações dos veteranos.

Eu mesmo não esqueço o que aconteceu comigo e com a fotógrafa Rosa Maria, quando iniciamos no extinto jornal Feira Hoje. Recebemos a pauta do dia e, entre outras coisas, teríamos que entrevistar o prefeito Colbert Martins. Ao chegarmos à Prefeitura, encontramos na ante sala do gabinete do prefeito um índio. Isso mesmo, um índio, vestido a caráter, com tanga de penas, cocar, arco e flecha e mais um monte de colares e pulseiras.

Enquanto aguardávamos o prefeito nos atender, ficamos batendo papo com o índio, que nos disse que estava ali para pedir ao prefeito uma passagem para voltar para sua terra, que não lembro mais onde era. Entramos, entrevistamos e fotografamos o prefeito, e mais tarde voltamos para a redação.

Quando eu estava escrevendo as matérias, lembrei do índio e disse ao chefe da reportagem, que se sentava a uma mesa à minha frente:

- Zé. Nós encontramos um índio no gabinete do prefeito.

- Foi mesmo? Que legal. Faça a notinha.

- ???!!!

- Não me diga que você não fez...

- Rosa! Cadê a foto do índio que vocês encontraram?

- !!!??? Não fiz não, Zé.

- Voltem os dois agora e só me cheguem aqui com a matéria. Senão, estão os dois demitidos.

Pra nossa sorte encontramos o índio no calçadão da Sales Barbosa e pudemos salvar os nossos empregos.

 NE: Crônica escrita em 2011, não publicada em livro.

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