Imagens de astronautas chineses ilustram a parede, destacando a ambição do programa espacial da China (Getty Images)
A sonda chinesa Chang'e-6 pousou no lado oculto e
inexplorado da Lua e foi lançada de volta para a órbita lunar,
carregando preciosas amostras de solo.
A sonda levou cerca de um mês após seu
lançamento para chegar ao nosso satélite natural. Esta foi uma das mais
ambiciosas missões lunares já realizadas pela China,
que incluiu o lançamento de quatro artefatos em direção à Lua.
A missão não marca apenas o crescimento da capacidade chinesa de exploração do espaço. Ela também oferece indicações do tamanho das ambições do país na exploração do Sistema Solar.
O principal objetivo da Chang'e-6 é
coletar as primeiras amostras do lado oculto da Lua e trazê-las em segurança
para a Terra. Estas amostras podem oferecer novas indicações sobre o nosso
vizinho mais próximo, o nosso próprio planeta e o início da história do Sistema
Solar.
A viagem da Chang'e-6 até a Lua durou
cerca de 4,5 dias, desde o seu lançamento no Centro Espacial de Wenchang, no
dia 3 de maio. Ao atingir a órbita da Lua, um módulo de pouso se separou do
veículo orbital, dirigindo-se à superfície.
Como o lado oculto da Lua nunca fica de
frente para a Terra, as operações e comunicações foram possibilitadas pelo
satélite retransmissor de comunicações Queqiao-2, lançado em março pela China.
O módulo de pouso tocou a
superfície lunar na Bacia Aitken do Polo Sul (APS) – uma imensa
cratera de impacto no lado oculto da Lua – nas primeiras horas da manhã de 2 de
junho, pelo horário de Pequim (19h23 do dia 1º de junho, em Brasília).
Instalada com segurança na superfície
lunar, o módulo usou uma concha e uma broca para recolher cerca de 2 kg de
materiais da superfície e abaixo dela. A carga foi vedada em seguida em um
recipiente e lançada para a órbita lunar por um ascensor, com a missão de
encontrar o módulo orbital para entregar sua preciosa carga.
No momento do encontro e atracação entre
o módulo orbital e o ascensor, os dois artefatos se moviam a 1,68 km por
segundo. O processo precisa ser automático, devido ao atraso nas comunicações
causado pela distância entre os módulos e as estações de controle na Terra.
Depois desse jogo celestial de gato e
rato, as amostras foram transferidas para uma cápsula de reentrada, que parece
uma versão em miniatura do módulo de retorno da espaçonave tripulada chinesa
Shenzhou. Ela será liberada pouco antes da chegada do módulo orbital à Terra.
Inicialmente, a cápsula irá se afastar
da atmosfera terrestre, para eliminar parte da energia acumulada pelo seu
retorno da Lua em alta velocidade. Em seguida, ela irá se precipitar pela
atmosfera para levar as amostras até a região de aterrissagem, nas pradarias
chinesas da Mongólia Interior.
O transporte dessas amostras da bacia APS até os laboratórios terrestres
pode render uma série de valiosos dividendos para a ciência.
"A bacia APS é um dos melhores lugares na Lua para ir buscar rochas
que possam ser pesquisadas para responder às nossas perguntas sobre as origens
e a evolução geológica da Lua", afirma a professora de ciências lunares e
planetárias Katherine Joy, da Universidade de Manchester, no Reino Unido.
As rochas recolhidas pela Chang'e-6 são as primeiras retiradas do lado
oculto da Lua, já que todas as missões Apollo da Nasa visitaram o lado visível
do nosso satélite natural.
"Esperamos que elas nos ajudem a desvendar por que o lado oculto e
o lado visível da Lua são geologicamente tão diferentes entre si", afirma
Joy. "As amostras coletadas também irão nos ajudar a datar a própria bacia
de alto impacto, esclarecendo quando os imensos embriões planetários atingiram
a Lua no início da sua história."
Ambições siderais
Para além das intrigas científicas, a missão Chang'e-6 também esconde
algumas das ambições mais grandiosas da China. Suas manobras da missão servirão
de treinamento para outra possível missão: coletar amostras de Marte.
Embora as amostras lunares carreguem a promessa de grandes conhecimentos
científicos dos segredos do Sistema Solar, o material do planeta vermelho
poderia fornecer novas percepções sobre um mistério ainda maior: as origens da
vida – e se Marte é ou não habitável.
A Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA) também estão trabalhando para
trazer amostras de Marte. Mas é um projeto complexo, que sofreu atrasos,
problemas orçamentários e obstáculos parlamentares nos últimos tempos.
Com isso, a China pode ter caminho livre à sua frente, rumo a uma
surpreendente missão espacial inédita.
Outro fato notável é que o complexo processo de encontro e atracação na
órbita lunar da Chang'e-6 não é indispensável para o retorno de uma amostra da
Lua. Mas ele é necessário para levar astronautas para a superfície lunar e
trazê-los de volta para a Terra com segurança.
Por isso, a maior complexidade da missão da Chang'e-6 parece ser um
trampolim para futuras missões lunares tripuladas.
Em 2023, a China anunciou planos de lançar sua primeira missão lunar
tripulada até 2030. O país pretende colocar dois astronautas na superfície da
Lua por algumas horas e reuni-los com um colega que irá aguardar em órbita.
O processo descrito é muito similar ao conjunto de ascensor e módulo
orbital da Chang'e-6 e, principalmente, muito parecido com as missões Apollo, da Nasa.
A China não planeja uma breve presença na Lua, hasteando bandeiras e
fotografando pegadas. Sua ambição se parece mais com a missão Artemis, da Nasa,
do que com a Apollo.
A China pretende lançar duas missões separadas para o polo sul da Lua
entre 2026 e 2028, como precursoras de uma futura base lunar. Elas devem
incluir o teste de uso do solo lunar para construir tijolos em impressoras 3D.
O transporte dessas amostras da bacia APS até os laboratórios terrestres
pode render uma série de valiosos dividendos para a ciência.
"A bacia APS é um dos melhores lugares na Lua para ir buscar rochas
que possam ser pesquisadas para responder às nossas perguntas sobre as origens
e a evolução geológica da Lua", afirma a professora de ciências lunares e
planetárias Katherine Joy, da Universidade de Manchester, no Reino Unido.
As rochas recolhidas pela Chang'e-6 são as primeiras retiradas do lado
oculto da Lua, já que todas as missões Apollo da Nasa visitaram o lado visível
do nosso satélite natural.
"Esperamos que elas nos ajudem a desvendar por que o lado oculto e
o lado visível da Lua são geologicamente tão diferentes entre si", afirma
Joy. "As amostras coletadas também irão nos ajudar a datar a própria bacia
de alto impacto, esclarecendo quando os imensos embriões planetários atingiram
a Lua no início da sua história."
Ambições siderais
Para além das intrigas científicas, a missão Chang'e-6 também esconde
algumas das ambições mais grandiosas da China. Suas manobras da missão servirão
de treinamento para outra possível missão: coletar amostras de Marte.
Embora as amostras lunares carreguem a promessa de grandes conhecimentos
científicos dos segredos do Sistema Solar, o material do planeta vermelho
poderia fornecer novas percepções sobre um mistério ainda maior: as origens da
vida – e se Marte é ou não habitável.
A Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA) também estão trabalhando para
trazer amostras de Marte. Mas é um projeto complexo, que sofreu atrasos,
problemas orçamentários e obstáculos parlamentares nos últimos tempos.
Com isso, a China pode ter caminho livre à sua frente, rumo a uma
surpreendente missão espacial inédita.
Outro fato notável é que o complexo processo de encontro e atracação na
órbita lunar da Chang'e-6 não é indispensável para o retorno de uma amostra da
Lua. Mas ele é necessário para levar astronautas para a superfície lunar e
trazê-los de volta para a Terra com segurança.
Por isso, a maior complexidade da missão da Chang'e-6 parece ser um
trampolim para futuras missões lunares tripuladas.
Em 2023, a China anunciou planos de lançar sua primeira missão lunar
tripulada até 2030. O país pretende colocar dois astronautas na superfície da
Lua por algumas horas e reuni-los com um colega que irá aguardar em órbita.
O processo descrito é muito similar ao conjunto de ascensor e módulo
orbital da Chang'e-6 e, principalmente, muito parecido com as missões Apollo, da Nasa.
A China não planeja uma breve presença na Lua, hasteando bandeiras e
fotografando pegadas. Sua ambição se parece mais com a missão Artemis, da Nasa,
do que com a Apollo.
A China pretende lançar duas missões separadas para o polo sul da Lua entre 2026 e 2028, como precursoras de uma futura base lunar. Elas devem incluir o teste de uso do solo lunar para construir tijolos em impressora 3 D.
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