Arte
de Dizer
Quando
me expresso, não aspiro parecer com terceiros,
embora
em muitos me inspire.
Todavia,
por mais esforço faça, despenco no lugar comum das palavras vãs.
Meu
intento é inalcançável.
Apesar
disso, insistente e despeitado, abandono-me aos maus
tratos da memória,
malgrado
a mesma ser incapaz e grandes feitos com poucas palavras.
Sei
não viver nas nuvens. Aprecio-as à distância.
Mas,
gostaria de reconhecer-me em algo
nunca escrito, nunca dito, nunca lido nem vivido.
Gostaria
de ser surpreendido e surpreender,
cartas
à mesa sobre o verde pano das apostas, em jogo sem coringas,
no
qual todos sejam vencedores.
Ouvintes
e prosadores,
Por isso e para isso, vinculei-me
ao
inovador e poético Colares, coletivo de escritores são-gonçalenses.
sem
trampa, sem escamoteio nem blefes.
Gente
ligada às palavras que, ao ordenar letras, soletra no tabuleiro-vida pensares a
exigir atenção à movimentação das pedras.
Agora
é tempo do ranger das rodas da literatura,
carreta
a ser tracionada por nós mesmos.
O
combustível? Boas
prosas... Inspiradas poesias...
Tal qual, em noites de conversas
reveladoras,
embalados
na malemolência de prazeres nutridos por nossas lembranças.
Recordações
insufladas pelos benfazejos sopros,
saídos
de bocas velhas de nossos antepassados.
Falei
de sopros?
Ah!
A magia dos sopros!
Fantasia
presente em nossas vidas.
O
sopro da mãe no dodói da criancinha. Vai passar! Vai passar!
O
sopro do pajé, suspirando a Tupã sucesso no próximo combate.
O
sopro da vida dada o homem-barro, como reza a lenda.
O
sopro suspirado ao ouvido de alguém,
pondo
ordem às letras E, U, T, E, A, M, O.
O
sopro em lágrimas, abafado, por
não haver vivido
os
derradeiros dias de meus pais.
Falei
de lágrimas?
Ah!
A magia das lágrimas!
Ao contrário das mulheres - mais
emotivas - sou cartesiano.
Penso
que se
deva ao
fato de os homens terem na poesia, a fórmula mágica, oriunda
da força das palavras, para acobertar seu racionalismo e, vezes muitas,
para
externar emoções embargadas na garganta, a camuflar arredias lágrimas.
É enriquecedor desfrutar da companhia dos
quw,
com letras e palavras proporcionam o ânimo dos sopros e
o consolo das lágrimas.
Arremedo Mário de
Andrade,
“quero cercar-me de pessoas que
saibam tocar no coração das pessoas”.
Despedindo-me, encareço relevarem se, porventura,
minhas palavras tenham chegado úmidas até vocês.
É só soprar! Elas secam!
Hugo Adão de Bittencourt Carvalho (1941) economista, cronista, é autor do livro virtual
Bahia – Terra de Todos os Charutos, das crônicas Fumaças Magicas
e Palavras ao Vento,
participa do Colares – Coletivo Literário Arte
de Escrever. Vive em São Gonçalo dos Campos - Ba
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