domingo, 16 de junho de 2024

 

Arte de Dizer

 

Quando me expresso, não aspiro parecer com terceiros,

embora em muitos me inspire.

Todavia, por mais esforço faça, despenco no lugar comum das palavras vãs.

Meu intento é inalcançável.

Apesar disso, insistente e despeitado, abandono-me aos maus tratos da memória,

malgrado a mesma ser incapaz e grandes feitos com poucas palavras.

 

Sei não viver nas nuvens. Aprecio-as à distância.

Mas, gostaria de reconhecer-me em algo

nunca escrito, nunca dito, nunca lido nem vivido.

Gostaria de ser surpreendido e surpreender,

cartas à mesa sobre o verde pano das apostas, em jogo sem coringas,

no qual todos sejam vencedores.

Ouvintes e prosadores,

Por isso e para isso, vinculei-me

ao inovador e poético Colares, coletivo de escritores são-gonçalenses.

sem trampa, sem escamoteio nem blefes.

Gente ligada às palavras que, ao ordenar letras, soletra no tabuleiro-vida pensares a exigir atenção à movimentação das pedras.

 

Agora é tempo do ranger das rodas da literatura,

carreta a ser tracionada por nós mesmos.

O combustível?  Boas prosas...  Inspiradas poesias...

Tal qual, em noites de conversas reveladoras,

embalados na malemolência de prazeres nutridos por nossas lembranças.

Recordações insufladas pelos benfazejos sopros,

saídos de bocas velhas de nossos antepassados.

Falei de sopros?

Ah! A magia dos sopros!

Fantasia presente em nossas vidas.

O sopro da mãe no dodói da criancinha. Vai passar! Vai passar!

O sopro do pajé, suspirando a Tupã sucesso no próximo combate.

O sopro da vida dada o homem-barro, como reza a lenda.

O sopro suspirado ao ouvido de alguém,

pondo ordem às letras E, U, T, E, A, M, O.

O sopro em lágrimas, abafado, por não haver vivido

os derradeiros dias de meus pais.

 

Falei de lágrimas?

Ah! A magia das lágrimas!

Ao contrário das mulheres - mais emotivas - sou cartesiano.

Penso que se deva ao fato de os homens terem na poesia, a fórmula mágica, oriunda da força das palavras, para acobertar seu racionalismo e, vezes muitas,

para externar emoções embargadas na garganta, a camuflar arredias lágrimas.

 

É enriquecedor desfrutar da companhia dos quw, com letras e palavras proporcionam o ânimo dos sopros e o consolo das lágrimas.

Arremedo Mário de Andrade,

“quero cercar-me de pessoas que saibam tocar no coração das pessoas”.

 

Despedindo-me, encareço relevarem se, porventura,

minhas palavras tenham chegado úmidas até vocês.

É só soprar! Elas secam!

 

 

Hugo Adão de Bittencourt Carvalho (1941) economista, cronista, é autor do livro virtual

Bahia – Terra de Todos os Charutos, das crônicas Fumaças Magicas e Palavras ao Vento,

participa do Colares – Coletivo Literário Arte de Escrever. Vive em São Gonçalo dos Campos - Ba
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http://livrodoscharutos.blogspot.com

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