Andança matutina
As calçadas – ou, passeios, como queiram – na Terra dos Pedreiras, como a chamou o Imperador Pedro II ao aqui estar em 1859 - atormentam o juízo dos caminhantes. Impossível descrever o mundo de imperfeições das mesmas. Cadeirantes, deficientes visuais, idosos, quando sujeitos aos desníveis, buracos, degraus, rampas, vasos com plantas, restos de materiais de construção, incorrem em sério risco de acidentes.
Por isso, sendo
ainda madrugada, vou-me pelo asfalto recém implantado na cidade. Providência,
por sinal, contra a qual muitos torceram narizes, tendo a mesma por
indesejável. O mais surpreendente foi ouvir vozes contrárias de alguns
motoristas. Bastava não ser simpatizante político do prefeito, para depreciar a
iniciativa. Cidade pequena, inferno grande. Em ano de eleição, então ...
Mas, retomemos o
fio de nossa jornada. O papo matutino predominante gira em torno de obituário,
futebol, violência urbana e política municipal. Pouco ou nada aproveitável.
Costumam aparecer, candidatos à vereança. Quem não é visto, não é lembrado,
reza o ditado.
Às seis e meia,
agora pela calçada, retorno ao lar. Na ocasião me dou conta ter razão Dom Pedro
II. Não só isso. No caminhar solitário, compassado e atento, percorro o trecho
da esquina da extinta loja A Fascinante em direção ao bairro das Sete Portas.
Minha casa dista, se muito duzentos metros, distância correspondente a duas
ruas sucessivas. A João PEDREIRA (cujo nome completo foi João Pedreira do Couto
Ferraz), que pouco adiante, no cruzamento com a avenida Hanibal PEDREIRA
(prefeito da cidade um século atrás), passa a ser denominada Cel. Adriano
PEDREIRA (irmão de Hanibal e também ex-prefeito). Naquele entorno estão os
prédios da Delegacia, da Secretaria da Saúde, da Prefeitura Municipal mais
Fórum, Correios, Câmara Municipal, Biblioteca.
Em tal diário
caminho, recordo um personagem que o percorria, como hoje o faço. Proprietário
da loja Fascinante e residente na rua João Pedreira, na casa onde hoje funciona
a Secretaria Municipal de Saúde. Falecido com idade superior aos cem anos, até
pouco antes de sua morte, o decano Otoniel Torres, em caminhar solitário,
compassado e atento – passava por onde agora passo.
Vez
ou outra, ‘tenho encontrado seu Otoniel’ e meio ao silêncio reinante, trocamos
confidências. Pede-me sigilo. Amanhã ou depois, eu serei ele. Se, não na idade,
por certo no destino.
Hugo
Adão de Bittencourt Carvalho (1941), economista,
cronista, é autor do livro virtual
Bahia
– Terra de Todos os Charutos, das
crônicas Fumaças Magicas e Palavras ao Vento,
participa
do Colares – Coletivo Literário Arte de Escrever. Vive em São Gonçalo dos
Campos.
[email protected]
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