quinta-feira, 13 de março de 2025

VISÃO MODA MASCULINA: No tempo certo mudou o comércio local

Centro comercial de Feira de Santana, década de 60
 O mundo estava em franca mudança com o iê-iê-iê dos Beatles e o Brasil também, com o romantismo alegre da Jovem Guarda do rei Roberto Carlos. Tudo bem ‘bicho’, mas o comércio de Feira de Santana também precisava mudar, e esse foi o papel da Visão Moda Masculina. É pena que tudo continue mudando sem volta!

Um tempo novo, com o mundo despertando para uma inquietude alegre, jovem e criativa. Na Europa, os Beatles, através da música, promoviam uma revolução cultural com reflexos no mundo inteiro. No Brasil, surgia a Jovem Guarda, tão imortal quanto o iê-iê-iê inglês e tendo de lambujem um rei, também imortal: Roberto Carlos. Tudo mudava, até mesmo no falar. ‘E aí bicho’, era uma forma de saudar alguém; ‘maneiro’ ou ‘legal’ era tudo bem.

José Olympio
O jovem, até então figurante, passou a protagonista. Eram os novos tempos dos anos 60, ou da década de 1960, como se diz agora. E nessa mutação jamais vista, a moda começou a mudar e de forma mais significativa, porque era a vez do homem de cabelo comprido, de anéis, correntes e muitas garotas, mudando o figurino. Foi nesse cenário que Feira de Santana deixou de uma vez o gibão de couro, as alpercatas, o terno de linho dos coronéis e o similar de brim do homem comum.

Em 1963, há 62 anos, portanto, nascia a Visão Moda Masculina na Rua Marechal Deodoro, como um importante componente dessa nova fase de vida. José Olympio Mascarenhas e seu irmão Antônio, conhecido como Tonheiro, tendo nas veias o sangue do comerciante Anacleto Figueiredo Mascarenhas, proprietário da Loja A Primavera, na Praça Bernardino Bahia, vizinha ao prédio do INPS, resolveram manter a tradição, mas mudando o rumo da embarcação.

Anacleto e Aurelina

Se “seu” Mascarenhas tinha um público maduro, com grande presença de ruralistas que, nas segundas-feiras, enchiam o estabelecimento para comprar algumas confecções e majoritariamente tecidos para a costura – linho, popeline, fustão comum, fustão casa de abelha, chitão, chita, mescla, gabardine e brim –, José Olympio apostou na juventude da qual ele ainda fazia parte. Aí ficou ‘maneiro’ para a rapaziada, que passou a desfrutar de belas camisas de malha de manga comprida, dos sapatos Terra, e Motinha e das calças de corte mais moderno, incluindo as ‘bocas de sino’ e as de tecidos xadrez.

Cristóvam Aguiar
Vale lembrar, e aqui tem a importante colaboração do jornalista Cristovam Aguiar, que foi funcionário da Visão. Ele relata que Anacleto Mascarenhas resolvera se aposentar quando faleceu seu sogro José Olympio da Silva (Juca Silva), e isso mudou todos os seus planos. Anacleto se aposentou, mas levou sua sogra Maria Garrido da Silva (dona Iaiá) para morar com sua família, formada por Aureliana da Silva Mascarenhas e os filhos José Olympio, Ada e Antônio, em uma bela casa de dois andares, que ele havia construído na Avenida Getúlio Vargas, em frente à Loja Maçônica Luz e Fraternidade.


Em contrapartida, demoliu o casarão de Juca Silva, na Rua Marechal Deodoro, e ‘construiu diversos pontos comerciais, uma galeria alugada a feirantes para que eles guardassem suas mercadorias, destinando ainda uma loja aos filhos José Olympio e Antônio’. Foi assim que a Visão Moda Masculina nasceu em 1963 e, com tanto sucesso, que três filiais foram instaladas em Feira de Santana e uma em Salvador, no Shopping Center Iguatemi. Depois, na cidade princesa, os irmãos Mascarenhas investiram na moda juvenil com a Loja Kentoka.

José Olympio e Tonheiro

A Visão Moda, que marcou época no comércio local – cerca de 20 anos –, por conta de uma administração inovadora, compatível com a efervescência social então vivida, além de ditar a moda, instituiu o primeiro crediário com carnês na cidade, possibilitando que não apenas o homem da elite, como também o da classe trabalhadora, pudesse se vestir bem e frequentar os clubes e festas, participando da vida social da cidade, destaca Cristovam. Outro aspecto inovador era o horário de funcionamento, das 9h às 19h, dando oportunidade àquelas pessoas que trabalhavam no horário padrão (8h às 18h) de encontrar tempo para fazer compras.

Na sua modernidade e avanço, a Visão lançou com sucesso a ‘Quinzena Maluca’, que geralmente ocorria entre agosto e outubro, antes da viagem de Tonheiro para o Sudeste do país (São Paulo e Rio de Janeiro) para fazer compras, renovando o estoque. Na ‘Quinzena’, eram colocados por preços convidativos artigos em perfeito estado, mas que não haviam obtido a saída esperada. Na época, havia uma campanha natalina da CDL e Prefeitura, que premiava as lojas mais bem decoradas, e a Visão estava sempre entre as primeiras.

O êxito alcançado pela Visão Moda Masculina inspirou a modernização do tradicional comércio de Feira de Santana e muitas lojas logo aderiram ao crediário e às grandes promoções com mercadorias com preços reduzidos. Surgiu ‘A Elegante’, também voltada para o público masculino, e outras lojas especializadas em moda feminina. O atendimento ao público foi outro item que garantiu o sucesso da Visão. A empresa comercial tinha uma equipe de vendedores de nível, constituída por jovens da sociedade que se distinguiam no relacionamento com o cliente.

Além do jornalista Cristovam Aguiar, faziam parte dessa equipe o funcionário público aposentado Nilton Lacerda (Sardinha), José Ivan (Zé Ivan), que foi goleiro profissional do Vasco da Gama, Dida, gerente da loja da Sales Barbosa, violinista e cantor integrante do Trio Os Divinais, João Pão Feio e Zé Bidé, que criou um estilo próprio e rentável de vender. Bidé visitava clientes levando mercadorias que ele acreditava que poderiam agradá-los, e em cerca de 90% dos casos, o resultado era positivo. Outro funcionário da Visão foi José Lino Carneiro, hoje próspero empresário proprietário da rede de lojas Linu’s Modas, que segue modelo similar ao da extinta Visão.

Por Zadir Marques Porto


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