quinta-feira, 20 de março de 2025

CARLO BARBOSA: UM DOS MAIS IMPORTANTES ARTISTAS PLÁSTICOS DE FEIRA DE SANTANA

Carlo Barbosa - o menino da Feira - marcou sua passagem pela vida física e pela arte, com um trabalho de extrema qualidade que mereceu elogios e aplausos da crítica especializada e de renomados pintores brasileiros. Autodidata, não precisou de mestres ou orientadores para fazer o que desejava e o fez muito bem, de forma inquestionável. Depois de alcançar sucesso no Rio de Janeiro, retornou à sua terra, onde faleceu.

Relacionado entre os mais representativos artistas plásticos de Feira de Santana de todos os tempos e, pode-se dizer também da Bahia, Carlo Barbosa (Antônio Carlos de Oliveira Barbosa) foi um astro surgido no firmamento da pintura, vocacionado para cumprir sua missão, mesmo que não lhe fossem favoráveis os caminhos iniciais. Mas tudo começou de forma natural para o filho de dona Judite Simões de Oliveira Barbosa e Antônio Cassimiro Barbosa, que, partindo muito cedo do convívio da família, em um acidente de carro em 1961, não pôde acompanhar a trajetória de sucesso do menino, incansável nos seus rabiscos em casa e na escola, o que logo chamou atenção.

Dona Judite amava o filho e o protegia, mas era a avó materna Dona Eufrosina, que além de encantá-lo com as histórias ou ‘estórias do arco da velha’, estava sempre a incentivá-lo a cada rabisco que lhe era apresentado. E assim, com os traços cada vez mais perfeitos e a imaginação abrindo-lhe novos horizontes, ao concluir o óleo sobre tela intitulado ‘Apreensão’, ainda menor de idade, aos 15 anos, resolveu deixar seu acolhedor lar, onde nascera em 20 de junho de 1945, bem em frente ao jardim da Praça Froes da Mota, lugar bucólico que já não lhe parecia tão hospitaleiro, após a trágica morte do pai.

Esse sentimento, de certo modo expresso na tela, contribuiu para a sua decisão de buscar a viabilização da carreira na distante Cidade Maravilhosa, centro financeiro, político-social e indiscutivelmente das artes no Brasil. A coragem de mais um nordestino que, como tantos outros, buscava melhores dias no sudoeste do país, foi-lhe fundamental. Sem ‘padrinho’ famoso, ou alguém de grande prestígio na imprensa para apoiá-lo, o artista feirense tirou de si a força necessária para chegar aos museus e à mídia carioca especializada. Todavia, sua primeira mostra, antes disso, foi em Salvador, no Salão Nobre da Prefeitura soteropolitana.

Em 1972, estreou no Rio de Janeiro, na Real Galeria de Arte, com sucesso. Nas primeiras mostras no Rio de Janeiro, o acolhimento da crítica foi positivo. As telas de traços bem definidos, trabalhando a temática religiosa, surpreenderam. Expressava em cada detalhe muito da coragem, do sofrimento e da fé do povo sertanejo. Não tinha as pernas de Garrincha, mas driblava o convencional nas telas, brincando com as tintas e os pincéis, preenchendo o branco das telas e dando-lhe vida. A temática religiosa sertaneja, com figuras de anjos, santos e Jesus Cristo, tornou-se logo uma marca que o fazia presente em exposições e pinacotecas particulares.

Carlo Barbosa fez 18 exposições individuais e participou de 30 coletivas e salões. A distância de Feira de Santana transportava-o espiritualmente às suas raízes. Assim, várias obras de Carlo Barbosa eram centradas na religiosidade e devoção do povo feirense por Senhora Santana, padroeira do município, mas também mostrando o lado profano do festejo, a presença dos romeiros e formas variadas de demonstração de fé. Carlo transferiu para as telas, como num passe de mágica, as expressões de candura, coragem, sofrimento e alegria que acompanham o dia a dia do sertanejo.

Trabalhos em óleo sobre tela foram muitos, mas o artista feirense também se destacava no nanquim e em outras técnicas. Não foi apenas um pintor, um artista preocupado em mostrar a beleza da natureza; abordou o galopante desmatamento das florestas, a poluição das águas e, já na fase final da sua obra, passou a focalizar o universo, que também faz parte desse processo de incertezas hoje experimentado pelos humanos.

Carlo Barbosa teve o reconhecimento da crítica e de outros grandes pintores no Rio de Janeiro, fazendo com que sua aparente ‘aventura’ de deixar Feira de Santana aos 15 anos se transformasse em êxito absoluto. Foi mostrado em muitas matérias de grandes jornais e revistas do país, no cinema, na televisão e em muitos eventos artístico-culturais e sociais, embora um tanto arredio, procurando distanciar-se de grandes acontecimentos, manteve assim intacta sua personalidade.


Em 1984, voltou para sua terra, onde faleceu em março de 1988. Feira de Santana perdia, aos 37 anos, um filho de enorme talento artístico. Sua irmã, a professora Lucy Barbosa, admiradora e fiel à sua memória, mesmo enfrentando dificuldades, criou a Fundação Carlo Barbosa (FCB), promovendo alguns eventos importantes e chegou a construir um imóvel destinado ao Museu Carlo Barbosa, onde pretendia preservar todas as obras disponíveis, desde alguns desenhos do tempo escolar até as mais recentes telas, resgatadas ou doadas por colecionadores. Todavia, Lucy Barbosa faleceu há cerca de dois anos, não conseguindo colocar esse sonho em prática.

Por Zadir Marques Porto

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