segunda-feira, 24 de março de 2025

UM JEGUE ALUGADO COMO PRESENTE DE ANIVERSÁRIO; BONS TEMPOS NA PRINCESA!

 


Sem os clubes sociais e as constantes festas familiares, a sociedade hoje vive retraída, temendo a violência presente em toda parte. Mas já houve um tempo feliz de descontração e alegria, em que um amigo podia brincar com outro, às vezes até com um pouco de exagero, mas no final: risos e gozações. Bons tempos na princesa do sertão!

Década de 1970, Feira de Santana em pleno progresso, vivia um tempo feliz em que a sociedade se divertia no Clube de Campo Cajueiro, no Feira Tênis Clube e havia sempre uma forma de divertimento entre as famílias, entre amigos, e mesmo que houvesse um certo exagero nas brincadeiras, no final eram só risos e gozações. “Ninguém matava ninguém”, como se diz, ao contrário do que acontece agora!

Dia 1º de abril, data consagrada à mentira, na época as brincadeiras eram comuns, as chamadas ‘pegadas’, coincidentemente data de aniversário do saudoso lojista Francisco Caldas, ‘Chico Caldas’ para os amigos, que eram muitos devido ao seu bom humor. Torcedor do Vasco da Gama e brincalhão no aniversário de Tonheiro (Antônio Mascarenhas), irmão e sócio de José Olympio Mascarenhas na loja Visão Moda Masculina, Caldas sempre lhe presenteava com algo de uso feminino.

A ‘molequeira’ apenas gerava risos, coisa de amigos, até que José Olympio, para os amigos ‘Zé do O’, que já havia batizado Caldas de ‘cara de jegue’, não que ele parecesse um asno, mas pelo rosto grande e forte, resolveu entrar na brincadeira. De imaginação fértil e hilária a toda prova, José Olympio elaborou o ‘projeto primeiro de abril’, contando com o apoio de Tonheiro, Cristovam Aguiar (ainda adolescente) e outros amigos. Primeiro passo foi alugar um jegue (na verdade uma bela e jovem burrica forte e esbelta) a um senhor da zona rural que só fez uma exigência depois de saber do objetivo: ‘Eu alugo minha menina, mas eu vou com ela’. Por certo, temendo que os brincalhões soltassem o animal e ele se perdesse pelas ruas da cidade.


Tudo certo, dinheiro na mão, ‘seu’ Dominguinhos acompanhou, entre curioso, risonho e preocupado, sua ‘menina’ ser banhada, passar por cuidadoso enxugamento, ser perfumada e vestida com as calças e uma camisa azul e branca de mangas compridas do vereador Werter Mascarenhas ‘Vevé Grande’, compatíveis com o porte do animal. Vale dizer que o nobre edil só soube de tudo posteriormente. Pouco depois das 19 horas, a festa de aniversário rolando firme na casa de Chico Caldas, na Avenida Getúlio Vargas, quando chega a comitiva de amigos para o ‘parabéns pra você’, tendo à frente a ‘menina’ de ‘seu’ Dominguinhos que pisava feliz e elegante, bem vestida e perfumada (parecendo calçar saltos altos) com a maior naturalidade do mundo, como se aquilo fosse uma coisa comum no seu dia a dia. Virou uma pândega no casarão, todos rindo, menos o aniversariante, que teve de aceitar o ‘presente’ sem muito entusiasmo.

Todavia, o mais interessante ocorreu no final da festa com ‘seu’ Dominguinhos que, convidado para entrar no casarão, preferiu assistir a tudo sentado no canteiro central da Getúlio Vargas. Ele não se interessou pela atraente fatia de bolo, nem pelos salgadinhos e outras ofertas deliciosas, mas ‘carcou o queixo’ no uísque de primeira (escocês legítimo, como se dizia na época nas colunas sociais). Acostumado a entornar goró pesado, ‘fôia pode’, ‘seu’ Dominguinhos jogou duro, tomando tudo que a rapaziada - admirada com a sua capacidade de deglutir - lhe dava. Resultado: ficou duro como uma pedra e foi levado às pressas para o EMEC, na época na Rua Barão de Rio Branco.

Medicado, balançado, esticado e pinicado, ‘seu’ Dominguinhos voltou a si em prantos, gritando desesperadamente: ‘Minha menina, eu quero minha menina, o que fizeram com ela?’, comovendo até os médicos e enfermeiros que, embora sem saber nada sobre a ‘menina’, sofreram com a angústia do paciente. Pode não ter sido a melhor festa de aniversário, nem o melhor presente para um aniversariante, mas os participantes da bela festa, o ‘feliz’ presenteado, ‘seu’ Dominguinhos, o zeloso e amoroso dono da ‘menina’ e, ao que tudo indica, a ‘menina’, viveram um momento inesquecível! Parabéns pra você...


Zadir Marques Porto  

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