Vamos conversar?
Ao nos reconhecermos
seres pensantes,
movidos por vitais necessidades
- para supri-las -
interagimos
com a natureza.
Nela procuramos atender, ao início,
as demandas primordiais.
Teto, Vestuário,
Alimentos, Proteção.
Mais a frente,
outras tantas
somam-se ao rol
dos direitos da vida humana.
O escudo para tudo?
A incansável busca da felicidade.
Você há de perguntar:
Como isso funciona na cabeça da gente?
Eu lhe diria serem atávicas tentações
por paradisíacas paragens.
As linguagens sacras,
em sua maior parte,
concentram-se em tal matiz,
ser-se
eternamente feliz.
Como isso é confortável, crê-se.
Mesmo sabendo que arautos
da eterna felicidade,
cobrem alguns ‘caraminguás,
para auxiliá-los no pastoreio.
Contra tanta bondade,
resistir, quem há de?
Você, também, há de indagar se,
em tal trama psicológica,
há conexão entre presente e futuro.
Explico.
Semelhante conexão ocorre
quando exageramos na compra de algo.
Queremos, em lance único,
saciar a fome
do presente e a do futuro.
Este, porém, “a Deus pertence”,
não é assim que reza a sabedoria popular?
E quando
- ante
hipotética necessidade –
compramos algo, só por estar com preço atraente?
É ou não, algo parecido com as negociações
visando o futuro ignoto?
Mais que consumidores,
somos consumistas movidos a impulsos
ante a performance da camisa da moda;
ao aroma de uma fragrância;
ante a novos recursos tecnológicos
nem sempre utilizados;
ao sorriso de uma paquera;
ante o prazer de abarrotar o armário da despensa...
Um interminável rosário
de vontades (in)satisfeitas.
Insatisfações tais,
exploradas pela publicidade
da onipresente máquina capitalista,
esta na permanente busca de recordes de produção.
- Quer dizer,
então,
que a
publicidade costuma priorizar
as vantagens do
consumo,
sem muito
alertar quanto
às suas
eventuais consequências?
Perfeitamente!
Exclui-se o caso das ‘bulas-bíblias ’-
dos remédios, letrinhas quase ilegíveis –
por imposição legal,
associada ao risco de processos judiciais.
Tirante tal caso emblemático,
pouco é esclarecido quanto a outros produtos.
Os avanços em tal campo
têm sido modestíssimos.
De destaque, excetuam-se as ações
para a redução de consumo do tabaco.
Os métodos de convencimento da opinião pública,
não costumam alertar os consumidores,
quanto aos prováveis danos a eles
ou ao meio ambiente.
Reina um silêncio, quase absoluto.
Vicejam idiotices por todos os cantos.
O que, associado às revisões históricas em curso
e à velocidade das transformações de usos e
costumes,
não assimiladas pela maioria,
provocam um verdadeiro rebuliço
nas sociedades como um todo.
Excesso de produção de lixo,
poluição industrial,
há de se compreender,
são outras decorrências do consumismo.
O crescente consumo de artigos eletrônicos,
fabricados com ‘obsolescência programada’
– expressão eufemística –
produtos ‘feitos para durar pouco’,
mais o avassalador avanço da indústria de plásticos,
em quase tudo quanto se imaginar possa
- especial destaque às embalagens –
é uma bomba de efeito retardado no colo do planeta.
- Sigamos
conversando!
Onde,
porventura, estarão os copinhos plásticos,
nos quais eu e
meus amigos dos matinais encontros –
há anos muitos
- bebemos nossos cafezinhos?
Precisamos melhor entender,
os efeitos dos fragmentos de tais recipientes,
nos animais e no ecossistema de água doce.
Quanto menores os fragmentos,
maior o potencial de danos sócio ambientais.
Na falta de legislação reguladora,
não há monitoramento das prováveis consequências.
A famigerada ‘vontade política’
é sufocada pelos lobbies empresariais.
Os micros plásticos se acumulam
nas profundezas do oceano, das lagoas e dos rios.
Cada tipo de plástico possui distinta composição,
a qual pode originar resultados tóxicos específicos.
Isso, sem se computar gastos de energia
na produção e na distribuição,
bem como na contaminação do solo.
- Você quer
saber a grandeza da produção
anual mundial de
lixo como um todo?
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU),
são produzidos, a cada ano,
mais de 2 bilhões de toneladas.
Nestes 2 bilhões, como em média
- cada pessoa
gera 343 quilos-lixo anuais -
o Brasil participa com 78 milhões de toneladas,
das quais 14% são oriundas de plásticos.
Nossa taxa geral de reaproveitamento
ou reciclagem não chega a 4% ao ano.
No ranking mundial, estamos em quarto lugar
entre os maiores produtores de lixo plástico.
Perdemos, apenas, para Estados Unidos, China e
Índia.
E o que é pior.
Segundo estudiosos, a reciclagem dos plásticos,
não passaria de um ‘mito’.
Dos sete tipos existentes,
apenas dois deles são reciclados
em expressiva quantidade.
O restante...
- Precisamos
conversar, mais?
- Como será o
amanhã?
Talvez, reste torcer para o término
da matéria prima fóssil – leia-se, petróleo.
Além, é claro, da adoção de soluções,
com vistas ao desenvolvimento sustentável,
quais sejam:
incentivar a coleta seletiva,
priorizar energia e matéria prima renováveis,
reutilizar embalagens,
produzir com menor geração de resíduos e emissões,
praticar o consumo consciente.
Enquanto isso...
Para chamar a atenção sobre o tema,
a Assembleia Geral das Nações Unidas, estabeleceu
em 2022, o
Dia Internacional do Lixo Zero,
celebrado em 30 de março.
Tal data, por
aqui, passou despercebida.
Ninguém sabe, ninguém viu!
Hugo
Adão de Bittencourt Carvalho (1941), economista, cronista, é autor do livro virtual
Bahia
– Terra de Todos os Charutos, das crônicas Fumaças Magicas e Palavras ao Vento,
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