quinta-feira, 17 de julho de 2014

Eterna Primavera



Este ano completei 60 anos de idade e 35 de jornalismo. Há cerca de dois anos comecei uma luta contra uma retinopatia diabética que acabou por me levar a visão do olho direito e me deixando apenas com 25 por cento no olho esquerdo. Por conta disso, fui aposentado como incapacitado para o trabalho. Para alguém inquieto como eu, não poder trabalhar, não poder dirigir, e ter que andar pela rua sempre acompanhado de alguém, é algo terrível. 

         Ficar em casa olhando para as paredes e vendo o tempo passar não era exatamente o meu projeto para a velhice. Assim, parei com tudo. Estou me dando um tempo para repaginar a minha vida. Comecei a me interessar por algumas coisas que poderia fazer em casa, não como trabalho, mas, como passatempo e diversão. Estou encontrando alguns caminhos, porém, nada ainda definido.

         Meus filhos estão criados. Tenho sete netos e mais dois a caminho. Apenas o filho caçula ainda vive comigo e o que adotei está com um pé fora de casa. Quando o caçula se formar, ou conquistar sua independência financeira e Maura também se aposentar, pretendemos morar numa cidade menor, numa casa com uma boa área onde possamos cultivar nossas plantas e quiçá criar alguns pequenos animais. Isso me bastaria para estar completamente feliz.    

         Vivi a minha vida intensamente. Trabalhei, me diverti e amei. Ri e chorei. Enganei e fui enganado. Falei e ouvi. Briguei e reconciliei. Perdoei e fui perdoado. Tudo enfim fiz, e o fiz intensamente. Se podia cometer grandes erros, não os cometeria pequenos. Muitas pessoas não gostam de mim, desse meu jeito de ser. Mas, há também muitas das quais não gosto. Contudo, não tenho inimigos. Apenas mantenho afastado da minha convivência aquelas pessoas que julgo inconvenientes para o convívio.

         Durante estes 35 anos de profissão eu só tenho a agradecer aos meus colegas, sem a ajuda dos quais eu não teria levado a bom termo o meu trabalho. A todos eles, sem exceção, agradeço de coração. Também só tenho palavras de agradecimento para os meus familiares e amigos, mesmo aqueles que estão distantes. Acima de tudo agradeço a Deus por tudo que me aconteceu de bom e até mesmo por aquelas coisas que vi como castigo e depois descobri que eram apenas lições para o meu crescimento espiritual.

         O Outono é a estação em que a vida na natureza parece começar a adormecer. Todos os seres vivos preparam-se para o sono do inverno. Quando chega a Primavera a vida recomeça com toda a sua intensidade e é como se renascêssemos. Com as energias renovadas e prontos para o Verão, que não é outra coisa senão o apogeu da Primavera.

         Eu decidi que a partir de agora a minha vida será uma eterna Primavera, cujo o apogeu só acontecerá ao pôr do sol da minha vida. E quando chegar esse dia, tenham a certeza de que partirei tranquilo, pois sei que cumpri minha missão e estarei pronto para as próximas.  


Obs.: Para quem não percebeu, a editoria do jornal NoiteDia passou para Maura Sérgia, que, inclusive, digita os textos destes artigos que dito para ela.

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