
“Teve pena da rolinha que o menino
matou/ mas, depois que torrou a bichinha e comeu com farinha gostou”. Os versos
de Luís Gonzaga denunciam a hipocrisia de alguns pseudos protetores dos
animais. No caso especifico do jumento, teve radialista dizendo que consumindo
carne de jumento o estomago do indivíduo viraria um cemitério. É um contrassenso.
Afinal, o estomago do ser humano é um cemitério de bois, carneiros, galinhas,
patos, cobras e lagartos. Ou melhor, de quase tudo que é vivo. Senão vejamos:
Os índios americanos, quando a caça era
ruim e o inverso rigoroso não hesitavam em matar a fome sacrificando os seus
melhores amigos, ou seja: os cães da aldeia. “O mal não é o que entra, mas, o
que sai da boca do homem. Disse Jesus Cristo”. E já que estamos falando em
Bíblia, alguns profetas quando se retiravam para o deserto para meditar,
matavam a fome bebendo mel de abelhas e comendo gafanhotos, formigas e outros
insetos. Então, porque torcer o nariz para os chineses que são chegados a um
espetinho de escorpião? Aliás, está provado que muitos insetos (inclusive
baratas) são grande fonte de proteínas.
Os costumes fazem o cardápio em cada
região do planeta. Mas, a fome é uma só em qualquer lugar e é ela quem dita as
regras na hora da sobrevivência. A madame que torce o nariz quando houve alguém
dizer que comeu um inseto, um cachorro ou uma rã, se delicia com um prato de
escargot que nada mais é do que um caramujo, aquele bichinho gosmento que
carrega sua casinha nas costas. Ela também adora tomar champanhe com caviar,
que nada mais é do que ovos de um peixe chamado esturjão e que por sinal tem
cheiro e gosto de peixe estragado. Então, tudo não passa de hipocrisia.
Comi carne de cavalo pela primeira vez
em João Pessoa, na Paraíba, e só notei a diferença porque estava um pouco dura,
mas, o sabor era bom. Já comi também rã, tatu, onça, jiboia, teiú, jacaré e
diversos outros animais silvestres. A questão para mim é apenas o sabor e na
hora da fome, gostando ou não, “não tem tu, vai tu mesmo”.
A fome é uma ditadura cruel. E quem
conhece a história da expedição Kontick sabe do que eu estou falando. A igreja
católica proibia o consumo de carne na semana santa. Contudo, a ganancia dos
comerciantes que eleva os preços dos peixes à estratosfera nessa época, fez com
que a igreja fechasse os olhos para quem não tinha recursos para comprar peixe,
permitindo o consumo da carne.
No final, comer ou deixar de comer isso
ou aquilo, é uma questão de costume, recursos financeiros e acima de tudo
necessidade.
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