sexta-feira, 4 de julho de 2014

Triste do bicho que o outro engole



          Um político teve a brilhante ideia de sugerir que os jumentos, que viraram praga na Paraíba e em todo o Nordeste, sejam abatidos para o consumo humano da sua carne. Foi o bastante para gerar comentários os mais diversos e estapafúrdios. Além dos protetores dos animais, manifestaram-se também os gourmets questionando sabor, valor nutritivo e segurança sanitária da carne.

         “Teve pena da rolinha que o menino matou/ mas, depois que torrou a bichinha e comeu com farinha gostou”. Os versos de Luís Gonzaga denunciam a hipocrisia de alguns pseudos protetores dos animais. No caso especifico do jumento, teve radialista dizendo que consumindo carne de jumento o estomago do indivíduo viraria um cemitério. É um contrassenso. Afinal, o estomago do ser humano é um cemitério de bois, carneiros, galinhas, patos, cobras e lagartos. Ou melhor, de quase tudo que   é vivo. Senão vejamos:

         Os índios americanos, quando a caça era ruim e o inverso rigoroso não hesitavam em matar a fome sacrificando os seus melhores amigos, ou seja: os cães da aldeia. “O mal não é o que entra, mas, o que sai da boca do homem. Disse Jesus Cristo”. E já que estamos falando em Bíblia, alguns profetas quando se retiravam para o deserto para meditar, matavam a fome bebendo mel de abelhas e comendo gafanhotos, formigas e outros insetos. Então, porque torcer o nariz para os chineses que são chegados a um espetinho de escorpião? Aliás, está provado que muitos insetos (inclusive baratas) são grande fonte de proteínas.

         Os costumes fazem o cardápio em cada região do planeta. Mas, a fome é uma só em qualquer lugar e é ela quem dita as regras na hora da sobrevivência. A madame que torce o nariz quando houve alguém dizer que comeu um inseto, um cachorro ou uma rã, se delicia com um prato de escargot que nada mais é do que um caramujo, aquele bichinho gosmento que carrega sua casinha nas costas. Ela também adora tomar champanhe com caviar, que nada mais é do que ovos de um peixe chamado esturjão e que por sinal tem cheiro e gosto de peixe estragado. Então, tudo não passa de hipocrisia.

         Comi carne de cavalo pela primeira vez em João Pessoa, na Paraíba, e só notei a diferença porque estava um pouco dura, mas, o sabor era bom. Já comi também rã, tatu, onça, jiboia, teiú, jacaré e diversos outros animais silvestres. A questão para mim é apenas o sabor e na hora da fome, gostando ou não, “não tem tu, vai tu mesmo”. 

         A fome é uma ditadura cruel. E quem conhece a história da expedição Kontick sabe do que eu estou falando. A igreja católica proibia o consumo de carne na semana santa. Contudo, a ganancia dos comerciantes que eleva os preços dos peixes à estratosfera nessa época, fez com que a igreja fechasse os olhos para quem não tinha recursos para comprar peixe, permitindo o consumo da carne.

         No final, comer ou deixar de comer isso ou aquilo, é uma questão de costume, recursos financeiros e acima de tudo necessidade.


          

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