sexta-feira, 15 de junho de 2018

Influência da Copa do Mundo na politica


Muito se fala, mas pouco se comprova de fato, sobre a influência da Copa do Mundo na politica. Então, resolvi prestar um serviço ao pessoal que gosta de falar e postar qualquer coisa, sem pesquisar sequer a veracidade do que escreve, e fiz uma lista das copas, com respectivas participações brasileiras e o resultado eleitoral na eleição subsequente. Vamos a lista:
1930, 1934 e 1938 – O Brasil perdeu todas (foi 3º lugar em 38). Getúlio Vargas era o ditador em 30 e continuou sendo mesmo depois das copas, inclusive deve ter ficado feliz com a vitória da Itália fascista de Mussolini, que ele tanto admirava e copiava na época.
1950 – o presidente era Dutra e no ano seguinte, apesar da traumática derrota em casa para o Uruguai, elegeu seu sucessor, que também era seu antecessor: Getúlio.
1954 – Brasil perde de novo e pouco mais de um mês depois da Copa, Getúlio se mata (e não foi por causa do desempenho do Brasil na Copa).
1958 – Brasil campeão, com JK presidente, mas nem assim ele elegeu seu sucessor e teve que engolir a vitória de Jânio Quadros.
1962 – Brasil bicampeão, João Goulart presidente. Resultado? Jango foi deposto e exilado por um golpe militar em 1964.

1966 – Brasil eliminado na primeira fase, no maior vexame da história até então, a ditadura seguia firme e forte antes, durante e depois da Copa.
1970 – Brasil tricampeão, Médici ditador-presidente antes, durante e depois da Copa, nada mudou, inclusive o grande apoio popular que o governo tinha por causa do “milagre econômico”.
1974 – Brasil perde e fica em 4º, ditadura segue sem sobressaltos.
1978 – Brasil fica em 3º, a ditadura nem balançou.
1982 – Brasil eliminado pela Itália na tragédia do Sarriá e a ditadura, apesar de já estar enfraquecida, ainda durou mais três anos.
1986 – Brasil eliminado nos pênaltis pela França. O presidente era Sarney, no auge do Plano Cruzado, que congelou os preços na marra e controlou a inflação, fato que o ajudou a eleger vários governadores, mesmo com a derrota da seleção.
1990 – Brasil perde de novo, Collor era o presidente e seguiu seu mandato, que terminou num impeachment dois anos depois e não teve nenhuma relação com Lazaroni ou Dunga.
1994 – É tetraaaaaa! Itamar presidente elege seu sucessor, FHC, o ministro da fazenda responsável pelo primeiro plano que deu certo e controlou a hiperinflação. Mas se alguém acha que o tetra pesou mais do que o Real, melhor pesquisar um pouco (o Google ta aí pra isso).
1998 – Brasil perde a final para a França de Zidane, com direito a convulsão de Ronaldo e teorias da conspiração diversas. Mesmo com a derrota, FHC foi reeleito no 1º turno
2002 – Brasil pentacampeão! Ronaldo artilheiro, Rivaldo e Ronaldinho arrebentado! O então presidente FHC recebe os campeões no Palácio, com direito a Vampeta dando cambalhota na rampa e tudo. Na eleição, meses depois, o candidato de FHC perde e Lula é eleito presidente.
2006 – Brasil perde, apesar de ter uma seleção considerada a melhor desde 1982. Na eleição, deu reeleição de Lula, mesmo com a derrota.
2010 – Brasil perde e é eliminado pela Holanda. Ainda assim, com derrota na copa e tudo, Lula elege sua sucessora: Dilma Roussef.
2014 – Copa no Brasil, oba-oba generalizado e... 7x1! Hecatombe, catástrofe total! Denúncias de corrupção nas obras do estádio, nos aeroportos e nos projetos de mobilidade. Resultado da eleição: Dilma reeleita.
Se você chegou até aqui, talvez tenha chegado a mesma conclusão que eu: não dá pra traçar nenhum padrão entre vitórias eleitorais e o desempenho da seleção. Se dá pra traçar algum padrão é que o resultado da Copa não influencia praticamente em nada nas eleições presidenciais. Portanto, se esse é seu argumento pra reclamar da Copa e torcer contra a seleção, arranje outro.

Victor Mascarenhas
(Escritor, roteirista, professor e publicitário)




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