Muito se
fala, mas pouco se comprova de fato, sobre a influência da Copa do Mundo na
politica. Então, resolvi prestar um serviço ao pessoal que gosta de falar e
postar qualquer coisa, sem pesquisar sequer a veracidade do que escreve, e fiz
uma lista das copas, com respectivas participações brasileiras e o resultado
eleitoral na eleição subsequente. Vamos a lista:
1930,
1934 e 1938 – O Brasil perdeu todas (foi 3º lugar em 38). Getúlio Vargas era o
ditador em 30 e continuou sendo mesmo depois das copas, inclusive deve ter
ficado feliz com a vitória da Itália fascista de Mussolini, que ele tanto
admirava e copiava na época.
1950 – o
presidente era Dutra e no ano seguinte, apesar da traumática derrota em casa
para o Uruguai, elegeu seu sucessor, que também era seu antecessor: Getúlio.
1954 –
Brasil perde de novo e pouco mais de um mês depois da Copa, Getúlio se mata (e
não foi por causa do desempenho do Brasil na Copa).
1958 –
Brasil campeão, com JK presidente, mas nem assim ele elegeu seu sucessor e teve
que engolir a vitória de Jânio Quadros.
1962 –
Brasil bicampeão, João Goulart presidente. Resultado? Jango foi deposto e
exilado por um golpe militar em 1964.
1966 –
Brasil eliminado na primeira fase, no maior vexame da história até então, a
ditadura seguia firme e forte antes, durante e depois da Copa.
1970 –
Brasil tricampeão, Médici ditador-presidente antes, durante e depois da Copa,
nada mudou, inclusive o grande apoio popular que o governo tinha por causa do
“milagre econômico”.
1974 –
Brasil perde e fica em 4º, ditadura segue sem sobressaltos.
1978 –
Brasil fica em 3º, a ditadura nem balançou.
1982 –
Brasil eliminado pela Itália na tragédia do Sarriá e a ditadura, apesar de já
estar enfraquecida, ainda durou mais três anos.
1986 –
Brasil eliminado nos pênaltis pela França. O presidente era Sarney, no auge do
Plano Cruzado, que congelou os preços na marra e controlou a inflação, fato que
o ajudou a eleger vários governadores, mesmo com a derrota da seleção.
1990 –
Brasil perde de novo, Collor era o presidente e seguiu seu mandato, que
terminou num impeachment dois anos depois e não teve nenhuma relação com
Lazaroni ou Dunga.
1994 – É
tetraaaaaa! Itamar presidente elege seu sucessor, FHC, o ministro da fazenda
responsável pelo primeiro plano que deu certo e controlou a hiperinflação. Mas
se alguém acha que o tetra pesou mais do que o Real, melhor pesquisar um pouco
(o Google ta aí pra isso).
1998 –
Brasil perde a final para a França de Zidane, com direito a convulsão de
Ronaldo e teorias da conspiração diversas. Mesmo com a derrota, FHC foi
reeleito no 1º turno
2002 –
Brasil pentacampeão! Ronaldo artilheiro, Rivaldo e Ronaldinho arrebentado! O
então presidente FHC recebe os campeões no Palácio, com direito a Vampeta dando
cambalhota na rampa e tudo. Na eleição, meses depois, o candidato de FHC perde
e Lula é eleito presidente.
2006 –
Brasil perde, apesar de ter uma seleção considerada a melhor desde 1982. Na
eleição, deu reeleição de Lula, mesmo com a derrota.
2010 – Brasil
perde e é eliminado pela Holanda. Ainda assim, com derrota na copa e tudo, Lula
elege sua sucessora: Dilma Roussef.
2014 –
Copa no Brasil, oba-oba generalizado e... 7x1! Hecatombe, catástrofe total!
Denúncias de corrupção nas obras do estádio, nos aeroportos e nos projetos de
mobilidade. Resultado da eleição: Dilma reeleita.
Se você
chegou até aqui, talvez tenha chegado a mesma conclusão que eu: não dá pra
traçar nenhum padrão entre vitórias eleitorais e o desempenho da seleção. Se dá
pra traçar algum padrão é que o resultado da Copa não influencia praticamente
em nada nas eleições presidenciais. Portanto, se esse é seu argumento pra
reclamar da Copa e torcer contra a seleção, arranje outro.
Victor Mascarenhas
(Escritor, roteirista, professor e publicitário)
Nenhum comentário:
Postar um comentário