sábado, 30 de junho de 2018

Um texto para mulheres ...e homens


Toda mulher é uma língua. Própria. Um dialeto individual, composto de códigos e símbolos a ser percorrido, para ser plenamente vivido, em lentidão torturante. Toda mulher é um confessionário de teus desejos, pois, mais que ver, ela precisa ouvir para crer, afinal, ela não ama o que está ao relento, exposto, mas o que se revela na bateia, na lavoura de decifrar o que você lhe diz. Ou sonega.
É tua homilia e discurso que a possui e domina, que a cerca e doma, e te inscreve sem alforria na memória. Tua fala é teu aboio e serão teus murmúrios ou gritos que irão tanger os receios, as reservas e os pudores. É tua fala que, roçando como ventania as sendas intocadas de seus ouvidos, delimitará a extensão do prazer a que ela converterá tua posse e as léguas do território de seu corpo e alma que tu, somente tú, terá acesso e jurisdição. É do teu dicionário de significados que será demarcado o tempo de tua permanência e trato.

Toda mulher é composta de missais e tato. Porque sua pele é um pergaminho a espera dos rumores de teus lábios e mãos, e que se tatua de tuas vontades como se fossem todas as ambições dela, como quem mimetiza suas faltas pelos beirais do outro, e oferece suas sesmarias para ocupação e moradia.
E, de tua dedicação em lhe desvendar as veredas inaugurais, de resvalar com a voz nos delitos do seu imaginário feminino, que se erguerão os altares de teu ofertório, se inscreverão as escrituras de tua longevidade, os indultos de tuas falhas, e os liames que impedirão teu exílio.
E tu, homem, será lei...

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