A Terra é um oásis azul de vida pulsante que destoa totalmente do
sem-fim de mundos estéreis que vemos ao nosso redor. Disso todo mundo
sabe. Por outro lado, também sabemos que nosso planeta não é um ambiente
isolado. Muito pelo contrário: a Nasa estima que mais de 100 toneladas
de poeira cósmica caiam aqui todos os dias trazidas por meteoros.
Mas uma descoberta recente traz um novo paradigma sobre essa questão.
Um estudo liderado por Birger Schmitz, da Universidade de Lund, na Suécia, demonstrou que eventos no meio interplanetário podem ter efeitos muito mais profundos na evolução de nosso planeta (e da vida nele) do que se pensava. Schmitz e colegas descobriram que uma colisão colossal entre dois asteroides, um deles 3 mil vezes maior que o matador dos dinos, produziu uma nuvem de poeira tão enorme que engoliu a Terra por completo.
Um estudo liderado por Birger Schmitz, da Universidade de Lund, na Suécia, demonstrou que eventos no meio interplanetário podem ter efeitos muito mais profundos na evolução de nosso planeta (e da vida nele) do que se pensava. Schmitz e colegas descobriram que uma colisão colossal entre dois asteroides, um deles 3 mil vezes maior que o matador dos dinos, produziu uma nuvem de poeira tão enorme que engoliu a Terra por completo.
E o choque titânico não aconteceu “logo ali” — foi além da órbita de
Marte. Há 470 milhões de anos, o Sistema Solar foi invadido por uma
avalanche de pó criado pelo incidente. Essa nuvem obscureceu a luz do
sol e impediu que boa parte dela chegasse à superfície terrestre. O
resultado foi um significativo resfriamento do clima, que disparou uma
série de eras do gelo. Foi, literalmente, um divisor de águas. Muita
coisa mudou depois disso.
Com mais água congelada, formaram-se calotas polares e o nível do mar
baixou. A combinação de mares mais rasos e águas mais frias, com maior
concentração de oxigênio, forneceu as condições ideais para um
verdadeiro boom na evolução de seres vivos. Novas espécies surgiram aos
borbotões, em um episódio conhecido pelos cientistas como grande evento
de biodiversificação do Ordoviciano — ou Gobe, na sigla em inglês.
Foi nesse período da era Paleozoica, que durou entre 488 e 443
milhões de anos atrás, que começaram a aparecer os primeiros recifes de
corais e predadores com tentáculos do grupo dos nautiloides, cefalópodes
ancestrais dos atuais polvos e lulas. Até então, algumas peças do
quebra-cabeça já estavam encaixadas para os cientistas. Sabiam que
alguns elementos centrais do Gobe eram o grande aumento de
biodiversidade nos mares e as eras do gelo.
Mas ainda faltava ligar alguns pontos. E a pesquisa de Schmitz veio
para conectar essas pontas soltas. Estudando partículas de poeira do
período depositadas em sedimentos do leito oceânico, sua equipe achou
vestígio da poeira daqueles asteroides que colidiram. Ficou claro que
sua origem era extraterrestre pois continham muito hélio-3: isótopo que
só ocorre no meio espacial. As coisas passaram a fazer um pouco mais de
sentido.
Mesmo que ainda haja questões em aberto sobre o Gobe que os
resultados publicados em setembro no periódico Science Advances não
explicam, cientistas receberam a ideia com interesse e entusiasmo. Ela
explica melhor os mecanismos que fizeram a Terra esfriar, além de deixar
bastante claro como o destino do nosso planeta está intimamente
entrelaçado com o do cosmos a nossa volta. Bem mais do que podíamos
imaginar.
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