Ribeiro Fogareiro, o
Filósofo
Outro dia deu um rolo retado porque um jornalista imprudente e inconfidente (não digo que foi Cristóvam Aguiar nem que me torturem), publicou uma das suas sentenças no jornal. Dizia Ribeiro que: “Por trás de todo homem bem sucedido, tem uma mulher. Por trás de todo homem quebrado, tem duas”. Cristóvam publicou e Ribeiro se ferrou. Não me perguntem como, porque não dá pra dizer assim de um modo explícito. Deixa pra lá.
Ele atualmente anda encucado com um fato que o tem
atormentado. É que Cristóvam Aguiar, frequentador assíduo do Boteco do Vital,
comprou um carro que, na sua lógica, nenhum ladrão em sã consciência vai querer
roubar. Daí que ele não entende porque o jornalista tranca o carro toda vez que
para na porta do boteco. Atitude totalmente incompreensível para a mente do
filósofo do Fogareiro. Aliás, o carro é tão esquisito que o próprio dono já chegou
à conclusão de que se trata de um autêntico “Chevrofordcorcelopalafusca”. “Quem
vai querer roubar aquilo”, comenta,
irritado, o nosso Ribeiro.
Pra complicar ainda mais a mente do filósofo, o jornalista
outro dia declarou que, desde os seus 18 anos, não paga a nenhuma mulher pra
transar. Foi demais pra Ribeiro. Ele subiu nos chinelos e lembrou que, hoje em
dia, até gay tá querendo pagamento, quanto mais prostituta. “Esse Cristóvam
quer é acabar comigo”, se queixa o filósofo aos amigos.
E foi assim, com a mente um tanto confusa, que ele procurou
o gerente de um banco para aumentar o limite do seu talão de cheques. Dizem que
gerente de banco, puta e jogador de futebol só respeitam quem tem muito
dinheiro, o que não é o caso do nosso herói. Daí que o gerente exigiu mundos e
fundos para aumentar o limite do cheque especial de Ribeiro.
Providencia documento, traz comprovantes (até de que não
está morto), contracheque da aposentadoria, avalista e o escambau de
Mussurunga, como diria o confrade Armando de Oliveira. Depois de muitas idas e
vindas, cumprindo todas as exigências do banco, nosso filósofo viu-se sentado
em frente à mesa do gerente, aguardando receber o talão já com o limite
aumentado.
Foi aí que o gerente deu o tiro de misericórdia: “Tudo
pronto, só falta agora o senhor me dizer que contrapartida o senhor tem para
dar ao banco”.
Ribeiro, estupefato, questionou: “Mas depois de tanta
exigência, eu ainda vou ter que dar alguma coisa?”
“Claro! –respondeu o gerente – Sem contrapartida o banco não
faz o negócio”.
Ribeiro pensou um pouco, levantou-se, pegou o gerente pelo
braço e o foi conduzindo em direção aos fundos da agência, dizendo baixinho em
seu ouvido: “O jeito então é o senhor me acompanhar até o banheiro, porque a
única coisa que eu ainda tenho e que posso lhe dar é o fiofó”.
NE: Crônica publicada no livro A Levada da Égua e Outras estórias... (2004)
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