O Livro
Corria o ano 2009.
Em março, precisamente, fui procurado por pessoa de minhas relações soteropolitanas. Cogitava ela, ingressar no segmento produtor de charutos.
Bem lembro. Em nosso encontro para tratar do assunto, dito amigo, expressou desejo em conhecer a história da indústria charuteira baiana, assim como ter ideia do potencial do mercado nacional, convidando-me a levar avante um trabalho a respeito. Comprometera-se, verbalmente, em patrocinar os custos respectivos. Minha contrapartida: a autoria, representada pelas atividades de pesquisador e de escritor.
Independente disso, enquanto economista, graciosamente, municiei-o com informações técnicas do ramo, elaborando anteprojeto de dada unidade de produção, contemplando investimentos necessários, perspectiva de vendas no mercado nacional, custos fixos e variáveis e respectiva lucratividade.
Pisciano que sou, atirei-me à iniciativa de
corpo e alma.
Por quatro meses, mergulhei em arquivos públicos do Recôncavo Baiano e de Salvador, entrevistei fabricantes e outras pessoas ligadas à atividade, em diversos municípios, recorri aos préstimos de Jean Baptiste Nardi, expoente da literatura fumageira nacional, o que resultou no livro “Bahia – Terra de Todos os Charutos”.
Ali, não como historiador – longe disto, posto
não ser minha seara -, mas como cronista, tentei descrever a saga das empresas
charuteiras baianas. História dinâmica que continua sendo escrita. Tanto que há
pessoas e empresas, então vivas no livro, que agora, em 2022, já nos deixaram.
Mas isso, em nada muda a essência da obra.
O resultado da empreitada, todavia, por razões adversas à minha vontade, não foi ao prelo. Na realidade, o mecenas esperava uma obra-exaltação que servisse de alavanca comercial, colocando no presente, o rico passado. Eu, por minha parte, não me senti à vontade de apresentar números outros, embora, fique claro, isto não me fora solicitado. A tal frustação, somou-se a infrutífera tentativa do patrocinador em comprar determinada empresa, o que o levou a um silêncio que traduzi por seu não declarado desinteresse na publicação do livro.
Passaram-se dois anos sem notícias, tempo no qual o trabalho dormiu em arquivo eletrônico. Até quando, outro amigo, paulista ao qual anunciara a realização do projeto, cobrou-me o assunto. Resolvi, então, colocar o material na internet, sem as fotos coletadas. O que explica o livro ser referenciado como de 2011.
Apesar de tudo, sou grato ao incentivador do trabalho. Explico. Nunca imaginara, o estudo viesse a ser citado em teses de estudantes universitários (Carvalho, 2011). Motivo de orgulho pessoal para um anônimo como eu, que volta-e-meia põe na rede, pensares da mais variada ordem, provocações que incitam, simples palavras ao vento.
Inclusive há quem, indevidamente, se apropriou
da tese, cobrando para acessar o texto. Picaretagens virtuais. Hora dessas, espero
recorrer a um expert em assuntos de pirataria digital para defesa de meus
direitos.
Apesar de o conteúdo ser matéria de interesse restrito, atrevo-me incitar ao desafio de lerem, a partir da introdução, os capítulos que, com certa poesia, nas mal traçadas linhas, revelam casos que, quando os revisito, alcançam-me prazerosas emoções. Ao final do livro encontrarão o manancial do qual me vali para dar conta do recado.
Reservem instantes de bem-estares para encontrar certo homem sentado ao cais contemplando a paisagem barroca da cidade de Cachoeira, ‘vendo as mulheres trabalhando na fábrica, rodeadas de obras de arte'. Quando então, 2009, fumando seu charuto, posta-se à margem do Paraguaçu, frente à fábrica, enamora-se do rio, mira a ponte e sonha com o futuro.
Tanto quanto eu, quando revivendo tal passado acinzentado pelas brumas do tempo, sinto-me ausente daqueles momentos que se foram de roldão.
Muito a (re) ler, portanto.
Hugo A. de Bittencourt Carvalho, economista, cronista, ex-diretor das fábricas de charutos Menendez & Amerino, Suerdieck e Pimentel, vive em São Gonçalo dos Campos – BA.
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