Tá legal, eu estou atrasado no game das relações modernas, mas nem por isso vou me atirar em pote de Nutella para descontar o atraso, nem morrer de inveja das facilidades de hoje. Sei, também, que a música diz aí que somos de todo mundo e todo mundo é nosso também, mas nessa polifonia sonora e sexual é bom organizar direitinho senão sobram perdas e danos para todos.
A verdade é que humanidade que se desenha para frente sofrerá, no amor, o implacável impacto do tempo. Não muito distante, no passado, a mulher entrava de corpo, literalmente, nesse mercado das relações, aos 22 anos, e mesmo assim com restrições. Com o motel, a pílula, e a luz difusa do anonimato, elas foram botando, literalmente, as pernas de fora, encurtando as saias e antecipando as descobertas.
Atualmente- e já pode ter mudado ao final desse texto-, a coisa anda aí
na média dos 13 anos (segundo pesquisa da USP), com algumas variações do desvio
padrão para mais e até para menos. O mundo segue o mesmo ritmo, exceto no Japão
em que 44% das mulheres e homens com menos de 34 anos são virgens. O Brasil,
para felicidade geral da nação, é sempre o primeiro ou segundo em perda precoce
da virgindade e nem estamos falando dos bailes funks.
É claro que a imaturidade, insaciedade, faz com que essas relações
inaugurais não durem. Com o começo mais cedo e a expectativa de vida mais longa
o tempo de convivência será maior e certamente trará mais dificuldades à
duração dos relacionamentos.
A longevidade amorosa passa, claro, por algo além da performance sexual,
mesmo nesses tempos de desejo aditivado por pílulas azuis e reposições
hormonais. Para um amor ir longe ele precisa começar grandioso, mas tão grande
que mesmo havendo tempestades e ameaças, ele consiga suportar as avarias e
continuar navegando majestoso pelo desgastante mar do tempo. Afinal, é tanto
mar, tanto mar, para tão frágil barco.
Acontece que a juventude perdeu a noção desse início arrebatador porque
a pegação ficou fácil demais. Ora, se os grandes navegadores estão sucumbindo
aos mares traiçoeiros, imaginem os canoeiros de emoções: não irão longe e
acabarão encalhados na arrebentação.
Eu mesmo testemunhei um desses inícios, que me foi contado como coisa
normal.
- Fui pra boate, sábado, balada, música alta, madrugada rolando louca.
Aí me deu sede e fui ao bar pegar água mineral. Só que a tampa tava muito dura
de abrir. Um menino pegou a garrafa e abriu para mim.
-Gentileza ainda existe, disse eu
-Pois é, ai ele veio para me beijar. Pensei: ele abriu a garrafa, os
outros nem isso querem fazer. Aí beijei, e acabei dando.
Espantado com as motivações do mundo moderno só tive condições de fazer
uma pergunta:
-Mas pelo menos a água foi uma Perrier ou Schincariol?
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