segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Crônica de segunda

 

Apelidos

                As pessoas adoram por apelidos nos seus semelhantes. Às vezes são apelidos inocentes, carinhosos, que nascem no seio da família. A criança é batizada com um nome comum, como Carlos Augusto. Cresce e vira “Caguto”. E pelo resto da vida ninguém o chamará de Carlos Augusto. Até ele mesmo vai estranhar se o chamarem pelo nome verdadeiro.

         O dono do Boteco do Vital, que aliás não é Vital, e sim Manoel, tem o apelido de “Capuchinho”. Apelido que ganhou no bar, por conta da barba que usa, como um frade capuchinho. Em família ele é “Dedé”. Um certo dia, um fornecedor entrou no bar e perguntou pelo “Senhor Manoel”. O filho dele que estava no balcão, estranhou e respondeu: “Aqui não tem nenhum Manoel não”. Quando o rapaz já ia saindo foi que lembrou: “Ei” Volta aí, é o meu pai!”

         Apelidos também são colocados de forma pejorativa, de forma a aborrecer quem o recebe. E quem se aborrece e briga quando é chamado pelo tal apelido, fica marcado por ele pelo resto da vida. O melhor é relaxar e entrar na brincadeira, porque o que as pessoas querem é justamente sentir a reação daquele que recebe o apelido. Não por acaso, o humorista Mução (que já tem esse apelido esquisito) faz o maior sucesso com o seu programa de rádio cujo quadro de maior audiência é justamente aquele em que ele liga para alguém que não gosta do apelido que tem, e o chama pela detestada alcunha.

         Os apelidos também são colocados de acordo  com a aparência do sujeito e, maldade, até por conta de algum defeito físico. E aí aparecem “Cara de Rato”, “Deixa que eu chuto”, “Formigão”, “Mão de Gengibre”, “Coleiro”, “Onça”, Garrafa andando, entre outros. Em pequenas cidades os apelidos aparecem também como referência, para distinguir uns dos outros. Nomes comuns como José (que, automaticamente, vira Zé), Antônio (Tôim) e João (Jão), recebem em seguida o nome do pai ou da mãe. E aí temos Zé de Orlando, Tonho de Honorina (Dionorina) e Jão de Aníbal”

         É curioso como, em família, os apelidos são estapafúrdios, não fazem sentido algum. Eles simplesmente brotam da cabeça de algum parente ou amigo, e permanecem por toda a vida. O individuo se chama Igor, mas a avó só o chama de “Tum”, ou “Tum-tum”, Graciana é “Pituzinha”, Leno é “Biscuri”, e Allan é “Galo”. E vai por aí a fora.

         O humorista Chico Anízio já fez uma piada sobre os apelidos dos jogadores de futebol do Brasil. Dizia ele: “É um lixo! É Piau, Pipi, Pili, Pelé, Picolé, Cafuringa, Onça, Fio. Fio de quem?” Questionava ele. Na roça os apelidos tendem a serem comparativos com animais ou entidades do folclore. E aí temos Cuiuba, Jacaré, Saci, Teíu, Lobisomem, Galo Terra, Fuinha, Zumbi, Cavalo, Jumento, e por ai vai.

         Uma amiga minha passando uma temporada na fazenda do sogro, resolveu fazer um passeio a cavalo pelas cercanias. A cada casa que encontrava, ela fazia uma parada e conversava com os moradores, todos trabalhadores rurais, gente simples. Ela estranhou os apelidos que quase todos tinham, mas, também, os nomes próprios que são, em geral, incomuns. Um era Abedenagno, outra Astrogilda, Orinóculo, Eustógio, Escolástica, Tenesmunde, e por ai afora.

         Ela, já bastante impressiona com aqueles nomes totalmente incomuns e, ao seu ver, muito feios, acabou parando numa casa para beber água, quando viu um garotinho brincando no terreiro. Ela perguntou à mãe da criança qual era o nome do garoto, já esperando uma bomba daquelas que ouvira o dia inteiro. Quando a mãe do garoto disse que o nome dele era Antônio Carlos, ela desabafou: “Ora, até que enfim um nome bonito! Parabéns, moça, o seu filho tem realmente um nome bonito!”

         Foi quando uma tia do menino, que raspava mandioca sentada à soleira da porta, soltou a bomba:

         - O nome dele é Antoim Carlo, mas, nós só trata ele por “Piriquitim”!

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